PREFÁCIO
Kitáb-i-Íqán é o termo persa para O Livro da Certeza. Como o título indica, este livro é a palavra criadora de Deus. Foi revelado em 1862, em dois dias e duas noites, quando Bahá´u´lláh estava exilado, e anterior ao tempo em que Ele declarou publicamente Sua própria missão. A revelação deste livro cumpriu uma profecia do Báb, Precursor de Bahá´u´lláh. Em essência, esta obra é uma finalização do livro do Báb, O Bayán, e constitui uma prova do grau divino daquele jovem Arauto da Fé Bahá´í que foi martirizado em Tabríz em 1850 – acontecimento este que comoveu o Oriente, bem como a muitas pessoas ponderadas em toda a Europa durante as décadas subseqüentes.
O livro verifica o grau, também, e a missão, de cada um dos Fundadores das religiões reveladas do mundo e afirma a unidade de Seus ensinamentos. Abraão, Moisés, Cristo, Maomé são alguns dos Reveladores da Lei Divina das Eras passadas, sendo-Lhes confiadas a educação moral da humanidade. Sua sucessão é um drama cósmico que desvela o desígnio do universo. Suas Mensagens têm apresentado progressivamente o padrão da sociedade, sua verdadeira história e seu verdadeiro destino. Têm liberado o espírito coletivo que, de época em época, de Era em Era, reanima as almas dos homens, dando à vida diária sentido e propósito.
Graças a esses Manifestantes de Deus, tem a civilização progredido até alcançar novas alturas, levando um povo inteiro a uma percepção em harmonia com o tempo em que vive.
Na primavera e no prolongado verão das brilhantes estações dessas Eras passadas – para o Israel, a cristandade ou nos tempos tranqüilos do islã – a religião penetrava a atmosfera e comandava os temperamentos ou os talentos de todo tipo de homem. O denominador comum, a mais persistente característica dessas culturas distintivas tem sido o senso de dependência de Deus – o Impulsor de todas as coisas.
Aquele que busca a verdade é mais esclarecido pelas exposições que Bahá´u´lláh lhe apresenta de muitas das passagens alegóricas e abstrusas encontradas nas escrituras judaicas, cristãs e muçulmanas, que vêm de longa data confundindo e deturpando o caráter progressivo, evolutivo da Revelação.
Hoje as Palavras de Bahá´u´lláh são um chamado universal para se reconhecer mais uma vez a nova Primava Espiritual. Implica o abandono de todo preconceito e toda limitação que se baseia em padrões ancestrais – orgulho de raça, nacionalismo militante, guerra hereditária, sectarismo religioso e tudo mais que possa impedir a humanidade de erguer aquele Reino de Deus na terra, há tanto prometido – uma ordem mundial pacífica, com justiça para todos.
EM NOME DE NOSSO SENHOR, O EXCELSO, O ALTÍSSIMO
Homem algum haverá de alcançar a orla do oceano da verdadeira compreensão, a menos que se desprenda de tudo o que existe no céu e na terra. Santificai vossas almas, Ó vós povos do mundo, para que atinjais, porventura, o grau de elevação que Deus vos destinou, e assim possais entrar no tabernáculo que, segundo ordenou a Providência, foi erigido no firmamento do Bayán.
A essência dessas palavras é: os que trilham no caminho da fé, os que têm sede do vinho da certeza, devem purificar-se de tudo o que é terreno – os ouvidos devem eles purificar de palavras fúteis, as mentes de vãs fantasias, os corações do apego às coisas do mundo, os olhos daquilo que perece. Em Deus devem por a confiança e, n´Ele se apoiando, prosseguir em Seu caminho. Então se tornarão dignos das refulgentes glórias do sol da compreensão e sabedoria divinas e receberão uma graça que é infinita e invisível, desde que o homem não pode esperar jamais atingir o conhecimento do Todo-Glorioso, jamais sorver da corrente da sabedoria divina, jamais entrar na morada eterna, nem participar do cálice da presença e favores divinos, sem que ele antes deixe de considerar as palavras e os atos dos homens mortais como padrões para o reconhecimento e a verdadeira compreensão de Deus e Seus Profetas.
Considerai o passado. Que grande número de homens – fossem de alto grau ou humildes – em todos os tempos, têm esperado ansiosamente o advento dos Manifestantes de Deus nas pessoas santificadas de Seus Eleitos. Quantas vezes têm eles aguardado Sua vinda; quantas vezes orado para que soprasse a brisa da misericórdia divina; para que a prometida Beleza surgisse do véu que a ocultava e se revelasse ao mundo inteiro. E sempre que se abriam os portais da graça, sempre que as nuvens da bondade divina concediam suas chuvas à humanidade e a luz do Invisível brilhava sobre o horizonte do poder celestial, todos O negavam e se afastavam de Seu semblante – semblante esse do próprio Deus. Para provardes esta verdade, examinai o que foi relatado em cada um dos Livros Sagrados.
Ponderai por um momento e refleti sobre aquilo que deu origem a essa negação da parte dos que buscaram tão sinceramente e com tanto anelo. De tal violência foi seu ataque, que nem língua nem pena o pode descrever.
Não apareceu até agora nenhum Manifestante da Santidade sem que fosse alvo de negação, repúdio e veemente oposição da parte do povo a Seu redor. Assim foi revelado: “Oh! a miséria dos homens! Não lhes vem Mensageiro algum, que não seja objeto de seu escárnio”. (1) Diz Ele ainda: “Cada nação tem tramado sinistramente contra seu Mensageiro, querendo prendê-lo com violência e disputar, com palavras vãs, a fim de invalidar a verdade”. (2)
De modo semelhante, as palavras que emanaram da fonte do poder e desceram do céu da glória são inumeráveis e além da compreensão humana comum. Para aqueles que possuem verdadeira compreensão e perspicácia, basta, certamente, o Súrah de Húd. Ponderai no coração, por algum tempo, aquelas santas palavras e, com desprendimento absoluto, esforçai-vos a fim de compreender o que significam. Examinai a conduta admirável dos Profetas e recordai as recusas e difamações pronunciadas pelos filhos da negação e da falsidade; talvez possais fazer com que o coração humano, semelhante ao pássaro, consiga alçar seu vôo para além das moradas da negligência e da dúvida, até o ninho da fé e da certeza, e sorver profundamente as águas puras da sabedoria antiga, e participar do fruto da árvore do conhecimento divino. Tal é a parte que cabe aos puros de coração, daquele pão que desceu dos domínios eternos da santidade.
Se vos informardes das ofensas amontoadas sobre os Profetas de Deus e vierdes a compreender as verdadeiras causas das objeções expressas pelos seus opressores, apreciareis, seguramente, o que significa sua posição. Além disso, quanto mais atentamente observardes as negações dos que fizeram oposição aos Manifestantes dos atributos divinos, mais firme se tornará a vossa fé na Causa de Deus. Faremos nesta Epístola, pois, breve menção das diversas narrações relativas aos Profetas de Deus, para que estas demonstrem o fato de que os Manifestantes de poder e glória têm estado sujeitos, em todas as épocas e todos os séculos, a crueldades tão atrozes que pena alguma ousa descrevê-las. Isso talvez possa fazer com que alguns deixem de se perturbar com os clamores e protestos dos sacerdotes e insensatos desta época e fortaleçam sua confiança e sua certeza.
Entre os Profetas houve Noé. Durante novecentos e cinqüenta anos exortou Ele Seu povo, com fervorosas orações, convidando-o para o refúgio da paz e da segurança. Pessoa alguma, porém, atendeu ao Seu apelo. Cada dia infligiam a esse abençoado Ser tais sofrimentos e dores que ninguém achava possível Ele sobreviver. Quantas vezes O negavam! Com que malevolência sussurravam sua suspeita contra Ele! Assim foi revelado: “E quantas vezes se aproximavam d´Ele alguns dentre Seu povo, tantas vezes O escarneciam. Disse-lhes Ele: “Embora de nós zombeis agora, nós zombaremos de vós mais tarde, do mesmo modo que de nós zombais. No fim sabereis.” (3) Subseqüentemente, em várias ocasiões, Ele prometeu vitória a Seus companheiros, fixando até a hora, mas quando esta soou, a promessa divina não se cumpriu. Por causa disso, alguns dentre o pequeno número de Seus discípulos se afastaram d´Ele, como o testificam os livros mais conhecidos. Estes, certamente, vós os deveis ter examinado, ou se não, havereis de fazer isso, sem dúvida. E, por fim, segundo consta dos livros e das tradições, ficaram com Ele apenas quarenta, ou setenta e dois de Seus discípulos. Exclamou Ele finalmente, do âmago de Seu ser: “Senhor: Não deixes sobre a terra nem sequer um só habitante dentre os incrédulos.” (4)
E agora considerai e refleti, por um momento, sobre a perversidade desse povo. Qual teria sido o motivo de tal negação e afastamento de sua parte? Que os teria induzido a recusar a despirem-se das vestes da negação e adornarem-se com o manto da aceitação? Além disso, que poderia ter causado o não-cumprimento da promessa divina e em conseqüência, a rejeição da parte dos discípulos, daquilo que já haviam aceito? Meditai profundamente, para que se vos revele o segredo das coisas invisíveis e assim possais inalar a doçura de uma fragrância espiritual e imperecível e reconhecer o fato de que o Onipotente sempre prova Seus servos, desde os tempos imemoriais, e por toda a eternidade continuará a prová-los, a fim de que a luz se distinga das trevas, a verdade se diferencie da falsidade, o certo do errado, o esclarecimento do engano, a felicidade da desventura, e as rosas se distingam dos espinhos. Assim mesmo como Ele revelou: “Pensam os homens, ao dizerem – Nós acreditamos – que serão deixados em paz sem serem submetidos à prova?” (5)
E após Noé, a luz do semblante de Húd brilhou sobre o horizonte da criação. Por quase setecentos anos, segundo dizem os homens, Ele exortou o povo a voltar-Lhe as faces e aproximar-se do Ridván da Presença Divina. Que chuva de aflições caiu sobre Ele, até que, afinal, Suas adjurações deram como fruto uma rebeldia crescente, e Seus assíduos esforços não resultaram senão na obstinada cegueira de Seu povo. “E para os faltos de fé, sua descrença apenas lhes aumentará a própria perdição.” (5-a)
E depois d´Ele, apareceu do Ridván do Eterno, do Invisível, a sagrada pessoa de Sálih, por quem, mais uma vez, o povo foi chamado para o rio da vida imortal. Durante mais de cem anos, Ele os admoestou para que permanecessem fiéis aos mandamentos de Deus e evitassem aquilo que era proibido. Infrutíferas, porém, foram Suas admoestações; em vão, Seu apelo. Por diversas vezes Ele se retirou e viveu na solidão. E tudo isso aconteceu embora essa Beleza Eterna não convidasse o povo, senão para a cidade de Deus. Assim como foi revelado: “E à tribo de Thamud Nós enviamos seu irmão Sálih. – Ó meu povo! – disse Ele, - Adorai a Deus; não tendes outro Deus além d´Ele... – Responderam – Ó Sálih, nossas esperanças estavam em ti até agora; tu nos proíbe adorar o que nossos pais adoraram? Em verdade, duvidamos daquilo para que nos chamaste e o temos por suspeito.-” (6) Tudo isso se provou ser improfícuo, até que, finalmente, se levantou um grande clamor e todos caíram em perdição completa.
Mais tarde, a beleza do semblante do Amigo de Deus (7) afastou o véu que a encobria; mais um estandarte da iluminação divina se içava. Ele convidou os povos da terra para a luz da retidão. Quanto mais apaixonadamente Ele os exortava, mais violentas se tornavam a inveja e a perversidade de todos, salvo daqueles que tudo se desprenderam, menos de Deus, e que subiram, com as asas da certeza, para o grau que Deus exaltou além da compreensão dos homens. É fato assaz conhecido que uma multidão de inimigos O assediaram até que, finalmente, se acenderam contra Ele os fogos da inveja e da rebelião. E após o episódio do fogo, Ele, a lâmpada de Deus entre os homens – segundo relatam todos os livros e crônicas – foi expulso de Sua cidade.
E ao terminar Seu dia, veio o tempo de Moisés. Armado com a vara do domínio celestial e adornado com a nívea mão do conhecimento divino, procedendo do Paran do amor de Deus e manejando a serpente do poder e da majestade eterna, Ele brilhou do Sinai da luz sobre o mundo. Chamou todos os povos e raças da terra para o reino da eternidade; convidou-os a participar dos frutos da árvore da fidelidade. Sabeis, certamente, da violenta oposição feita pelo Faraó e seu povo, e das pedras da vã fantasia jogadas pelas mãos dos infiéis sobre essa abençoada Árvore. A tal ponto, que o Faraó e seu povo se levantaram, finalmente, e fizeram o máximo esforço para extinguir, com as águas da falsidade e negação, o fogo dessa Árvore sagrada, esquecidos do fato de que nenhuma água terrena pode apagar a chama da sabedoria divina, nem vento mortal extinguir a lâmpada do domínio eterno. Não, outro efeito essa água não terá, senão o de tornar ainda mais intenso o ardor da chama, e esse vento nada fará senão assegurar a preservação da lâmpada – se apenas observásseis com olhos que discernem e andásseis no caminho da santa vontade de Deus e de Seu beneplácito. Como disse bem um dos fiéis, um parente do Faraó – cuja história é narrada pelo Todo-Glorioso em Seu Livro revelado a Seu Amado – quando observou: “E disse um homem da família do Faraó, que era crente mas ocultava sua fé – Quereis matar um homem por dizer que meu Senhor é Deus, quando já veio com sinais de vosso Senhor? Se for um mentiroso, sobre ele cairá sua mentira, mas se for homem da verdade, uma parte daquilo que ele ameaça haverá de cair sobre vós. Em verdade, Deus não guia quem é transgressor, mentiroso.-” (8) Finalmente, tamanha foi a iniqüidade deles, que esse mesmo crente sofreu uma ignominiosa morte. “Que a maldição de Deus esteja sobre o povo da tirania.”
E agora ponderai essas coisas. Que teria causado tão grande contenda e conflito? Por que é que o advento de todo verdadeiro Manifestante de Deus tem sido acompanhado de tamanha contenda e tumulto, de tão grande tirania e transtorno? E isso, não obstante o fato de que todos os Profetas de Deus, sempre que se manifestavam aos povos do mundo, prediziam, invariavelmente, a vinda de outro Profeta depois deles e estabeleciam os sinais que haveriam de prenunciar o advento da futura Era. Disso, todos os Livros Sagrados dão testemunho. Por que, então – a despeito da expectativa dos homens em sua busca dos Manifestantes da Santidade e apesar dos sinais registrados nos Livros Sagrados – foram perpetrados, em todos os ciclos e tempos, tais atos de violência, opressão e crueldade contra todos os Profetas e Escolhidos de Deus? Assim mesmo como Ele revelou: “Todas as vezes que vos vem um Apóstolo com aquilo que as vossas almas não desejam, vos inchais de orgulho, acusando alguns de serem impostores e matando a outros.” (9)
Refleti: Qual teria sido o motivo de tais atos? Que teria causado tal conduta para com os Reveladores da beleza do Todo-Glorioso? Qualquer coisa que tivesse motivado, em tempos idos, a negação e oposição daqueles povos, concorre agora para a perversidade do povo desta era. Alegar haver sido incompleto o testemunho da Providência, tendo sido isso o que tivesse causado a negação da parte do povo, nada mais é que blasfêmia patente. Quanto estaria longe da graça do Todo-Generoso e pouco em harmonia com Sua providência benévola e Sua terna compaixão, escolher dentre todos os homens uma alma para guiar Suas criaturas e, por um lado, negar-lhe o testemunho divino em sua plenitude e, por outro, infligir severo castigo a Seu povo por se haver afastado de Seu Escolhido! Não, em todos os tempos, as múltiplas graças do Senhor de todos os seres têm abrangido a terra e todos os que nela habitam, através dos Manifestantes de Sua Essência Divina. Nem por um momento sequer, negou Ele a Sua graça; jamais as chuvas de Sua benevolência cessaram de cair sobre a humanidade. Tal conduta, pois, não pode ser atribuída senão à mesquinhez dessas almas que caminham no vale da arrogância e do orgulho, que se perdem na solidão do afastamento, se guiam por sua própria vã fantasia e seguem aquilo que ditam os dirigentes de sua fé. Sua preocupação principal é apenas a oposição; seu desejo único, desprezar a verdade. Para todo aquele que observe com discriminação, é claro e evidente que, se essas pessoas no tempo de cada um dos Manifestantes do Sol da Verdade tivessem santificado os olhos, os ouvidos e os corações de tudo o que haviam visto, ouvido e sentido, não teriam sido privados, certamente, de ver a beleza de Deus, nem se teriam desviado para longe das moradas da glória. Havendo, porém, pesado o testemunho de Deus segundo o padrão de seu próprio conhecimento derivado dos ensinamentos dos expoentes de sua Fé, e tendo verificado que estava em desacordo com a interpretação limitada deles, essas pessoas se levantaram para cometer tais atos indignos.
Os expoentes da religião, em cada era, têm impedido seu povo de atingir as plagas da salvação eterna, por haverem detido firmemente em suas poderosas mãos as rédeas da autoridade. Alguns por cobiça de poder, outros por falta de conhecimento e compreensão, privaram o povo desse bem. Por sua autoridade e sanção, todo Profeta de Deus sorveu do cálice do sacrifício e alçou vôo para as alturas da glória. Que crueldades indizíveis não infligiram essas autoridades e esses eruditos aos verdadeiros Monarcas do mundo, àquelas Jóias da virtude divina! Contentes com um domínio transitório, privaram-se de uma soberania eterna. Assim seus olhos não contemplaram a luz do semblante do Bem-Amado, nem seus ouvidos escutaram as suaves melodias da Ave do Desejo. Por essa razão todos os Livros Sagrados mencionam os sacerdotes de cada época. Assim Ele diz: “Ó povo do Livro! Por que és incrédulo dos sinais de Deus de que tu mesmo foste testemunha?” (10) E diz mais: “Ó povo do Livro: Por que vestes a verdade com a mentira? Por que escondes, intencionalmente, a verdade?” (11) E diz ainda: “Dize, ó povo do Livro, por que motivo desvias os crentes do caminho de Deus?” (12) Evidentemente, o “povo do Livro” que desviou seus semelhantes do caminho reto de Deus não se refere senão aos sacerdotes da época, cujos nomes e caracteres foram mostrados nos livros sagrados e aos quais aludiram os versículos e as tradições neles registrados – se fordes observar com os olhos de Deus.
Com olhar fixo e constante, oriundo dos olhos infalíveis de Deus, contemplai detidamente o horizonte do Conhecimento Divino e considerai aquelas palavras de perfeição que o Eterno revelou, a fim de que talvez se vos tornem manifestos os mistérios da divina sabedoria, os quais se ocultaram, até agora, debaixo do véu da glória e estavam entesourados no tabernáculo da Sua graça. O que motivou, na maior parte, os protestos e negações desses dirigentes religiosos, foi sua falta de conhecimento e de compreensão. Jamais compreenderam ou sondaram aquelas palavras proferidas pelos Reveladores da beleza de Deus, Uno e Verdadeiro, as quais apontam os sinais destinados a anunciar o advento do futuro Manifestante. Ergueram, pois, o estandarte da revolta e instigaram malícia e sedição. Obviamente, o que, de fato, significam as palavras das Aves da Eternidade, não se revela senão àqueles que manifestam o Ser Eterno; e às melodias do Rouxinol da Santidade, nenhum ouvido atingirá, a não ser o dos habitantes do reino imperecível. O tirano copta jamais participará do cálice tocado pelos lábios do septa da justiça, e o Faraó da descrença não poderá esperar reconhecer jamais a mão do Moisés da verdade. Assim mesmo como Ele diz: “Ninguém sabe o que significa isso, a não ser Deus e aqueles que possuem conhecimento profundo.” (12a) E, no entanto, quiseram receber daqueles envoltos em véus a interpretação do Livro, recusando buscar na fonte primitiva do conhecimento, sua iluminação.
E quando findaram os dias de Moisés e surgiu a luz de Jesus, irradiando-se da aurora do Espírito e abrangendo o mundo, então todo povo de Israel levantou-se em protesto contra Ele, clamando que Aquele cujo advento a Bíblia predissera, forçosamente haveria de promover e cumprir as leis de Moisés, enquanto esse jovem nazareno, que tinha a pretensão de ser o divino Messias, anulara a lei do divórcio e a do sábado – as mais importantes de todas as leis de Moisés. Além disso, que dizer dos sinais do Manifestante que ainda haveria de vir? O povo de Israel, até mesmo no tempo presente, espera aquele Manifestante predito na Bíblia! Quantos Manifestantes da Santidade, quantos Reveladores da Luz eterna, têm aparecido desde o tempo de Moisés, enquanto Israel, envolto nos mais densos véus da fantasia satânica e das falsas idéias, ainda espera que o ídolo de sua própria inventiva apareça com os sinais criados por sua imaginação. Assim Deus o castigou pelos pecados, extinguiu-lhe o espírito de fé e o atormentou com as chamas do fogo infernal. E isso não por outra causa, senão porque Israel recusara compreender o significado das palavras reveladas na Bíblia relativas aos sinais da Revelação vindoura. Porque jamais compreendera seu verdadeiro sentido e porque tais acontecimentos, aparentemente, não se realizaram, esse povo permaneceu privado de reconhecer a beleza de Jesus e de contemplar o semblante de Deus. E ainda aguarda Sua vinda! Desde tempos imemoriais, até mesmo o dia de hoje, todas as raças e nações da terra apegam-se a tais pensamentos fantásticos e indignos e assim se privam das águas límpidas que emanam das fontes da pureza e santidade.
Ao desvendarmos esses mistérios, temos citado em Nossas Epístolas anteriores, endereçadas a um amigo, no idioma melodioso de Hijáz, alguns dos versículos revelados aos Profetas do passado. E agora, atendendo a vosso pedido, citaremos nestas páginas, novamente, aqueles mesmos versículos, pronunciados desta vez nos maravilhosos acentos do Iraque, para que talvez os sequiosos, nas solidões do afastamento, possam alcançar o oceano da Presença Divina, e aqueles que enlanguescem nos desertos da separação sejam conduzidos para a morada da reunião eterna. Assim podem as neblinas do erro ser dissipadas e a luz da verdade divina, em todo esplendor, amanhecer sobre o horizonte dos corações humanos. Em Deus pomos nossa confiança e Lhe imploramos ajuda, para que talvez mane desta pena aquilo que vivifique as almas dos homens, de modo que todos se levantem do leito da negligência e escutem o farfalhar das folhas do Paraíso, na árvore que a mão do poder divino, com a permissão de Deus, plantou no Ridván do Todo-Glorioso.
Para os dotados de compreensão, está claro e manifesto que, quando o fogo do amor de Jesus consumiu os véus das limitações judaicas e Sua autoridade se tornou evidente e foi em parte obedecida, Ele, o Revelador da Beleza invisível, dirigindo-se a um dia aos discípulos, fez referência a Seu traspasse e, acendendo-lhes no coração o fogo do pesar, disse: “Vou embora e venho outra vez a vós.” E em outro lugar disse: “Vou e outro virá que vos há de dizer tudo o que Eu não vos disse, e cumprirá tudo o que Eu disse.” As duas declarações significam o mesmo – se meditardes, com percepção divina, sobre os Manifestantes da Unidade de Deus.
Quem examinar com discernimento haverá de reconhecer que tanto o Livro como a Causa de Jesus foram confirmados na Era do Alcorão. Quanto a nomes, o próprio Maomé declarou: “Eu sou Jesus.” Ele reconheceu a verdade dos sinais, profecias e palavras de Jesus, e testificou serem todos de Deus. Nesse sentido, nem a pessoa de Jesus nem Seus escritos diferiram da pessoa de Maomé e de Seu sagrado Livro, visto que ambos defenderam a Causa de Deus, louvaram-No e revelaram os Seus mandamentos. Assim foi que o próprio Jesus declarou: “Vou embora e venho outra vez a vós.” Considerai o sol. Se dissesse agora, “Sou o sol de ontem”, diria a verdade. E se, levando em conta a seqüência do tempo, pretendesse ser outro sol, estaria ainda dizendo a verdade. De modo semelhante, se dissermos que todos os dias são o mesmo, isso será certo e verdadeiro; e se, referindo-nos a seus nomes e designações especiais, dissermos que diferem, isso também será verdade. Pois embora sejam iguais, se reconhece em cada um, no entanto, uma designação separada, um atributo específico, um caráter particular. Deves conceber, semelhantemente, a distinção, a diversidade e, ao mesmo tempo, a unidade, que caracterizam os vários Manifestantes da Santidade, para que possas compreender as alusões que o Criador de todos os nomes e atributos faz aos mistérios da distinção e da unidade, e descobrir a resposta à tua pergunta sobre a razão por que a Beleza Eterna, em várias épocas, tem sido chamada por nomes e títulos diferentes.
Mais tarde, os companheiros e discípulos de Jesus Lhe perguntaram a respeito daqueles sinais que haveriam necessariamente de assinalar o regresso de Seu Manifestante. Quando, perguntaram eles, sucederiam essas coisas? Várias vezes interrogavam aquela Beleza incomparável, e Esta, todas às vezes que lhes respondia, indicava um sinal especial que haveria de prenunciar o advento da Era prometida. Disso dão testemunhos os relatos dos quatro Evangelhos.
Este Injuriado citará apenas um desses exemplos, e assim, por amor a Deus, concederá à humanidade graças ainda ocultas dentro do tesouro da Árvore secreta e santa, para que, porventura, os homens mortais não se privem de seu quinhão do fruto imortal, e sim, adquiram uma gota das águas da vida eterna, as quais, de Bagdá – “Morada da Paz” – estão sendo concedidas a todo o gênero humano. Não pedimos galardão nem recompensa alguma. “Nutrimos as vossas almas por amor a Deus; nenhuma remuneração buscamos de vós, nem agradecimento.” (13) Isso é o alimento que confere a vida eterna aos puros de coração e iluminados de espírito. É o pão de que se diz: “Senhor, faze descer sobre nós Teu pão do céu.” (14) Esse pão jamais será negado a quem o merecer, nem poderá jamais faltar. Cresce eternamente na árvore da graça; em todos os tempos, desce dos céus da justiça e misericórdia. Assim mesmo como Ele diz: “Não vês aquilo a que Deus assemelha a boa palavra? – A uma boa árvore; sua raiz está firmemente presa e seus ramos se estendem até o céu, dando seus frutos em todas as estações.” (15)
Oh, que lástima! o homem privar-se de tão boa dádiva, dessa graça imperecível, dessa vida eterna! Cumpre-lhe apreciar esse alimento que vem do céu, a fim de que, através dos maravilhosos favores do Sol da Verdade, os mortos possam talvez ressuscitar e as almas decaídas serem reanimadas pelo Espírito infinito. Apressa-te, ó meu irmão, para que nossos lábios provem a poção imortal enquanto ainda houver tempo, pois o alento da vida, que ora sopra da cidade do Bem-Amado, não poderá durar e a copiosa corrente das palavras santas haverá forçosamente de parar; nem poderão os portais do Ridván para sempre se manter abertos. Dia virá, seguramente, em que o Rouxinol do Paraíso terá alçado vôo de sua morada terrena para o ninho celestial. Então, sua melodia não mais se fará ouvir, nem a beleza da rosa será realçada. Aproveita, pois, o tempo, antes que finde a glória da primavera divina e a Ave da Eternidade haja deixado de cantar Sua melodia, para que teu ouvido interior não se prive de escutar o Seu chamado. É este Meu conselho a ti e aos amados de Deus. Quem quiser, que a Ele se dirija; quem não quiser, que se afaste. Deus, em verdade, é independente dele e daquilo que ele possa ver e testemunhar.
São estas as melodias entoadas por Jesus, Filho de Maria, em acentos de majestoso poder no Ridván do Evangelho, revelando aqueles sinais que haverão de prenunciar o advento do Manifestante subseqüente. No primeiro Evangelho, segundo São Mateus, está escrito: E quando perguntaram a Jesus acerca dos sinais de Sua vinda, Ele lhes disse: “E, logo depois da aflição (16) daqueles dias, escurecerá o sol e a lua não dará a sua claridade, e as estrelas cairão do céu, e os poderes da terra serão abalados; e então aparecerá o sinal do Filho do homem no céu; e, então, todos os povos da terra chorarão e verão o Filho do homem, que virá sobre as nuvens do céu com grande poder e majestade. E enviará os seus anjos com trombetas e com grande voz.” (17) Traduzidas para a língua persa, (18) essas palavras significam o seguinte: Quando se tiverem realizado a opressão e as aflições destinadas a cair sobre a humanidade, então o sol será impedido de brilhar e a lua de irradiar, as estrelas do céu cairão sobre a terra e os pilares da terra tremerão. Nesse tempo, os sinais do Filho do homem aparecerão no céu, isto é, Ele, a prometida Beleza e Substância da vida, sairá do reino do invisível, quando tiverem aparecido esses sinais, e entrará no mundo visível. E Ele diz: nesse tempo todos os povos e raças que habitam a terra chorarão e lamentarão e verão aquela Beleza divina vir do céu sobre as nuvens, com poder, grandeza e magnificência, enviando Seus anjos com grande som de trombeta. De modo semelhante, nos três outros Evangelhos, segundo São Lucas, São Marcos e São João, as mesmas afirmações são relatadas. Já que a elas nos temos referido minuciosamente, em Nossas Epístolas reveladas na língua árabe, não as mencionamos nestas páginas; limitando-nos a uma referência apenas.
Porque os sacerdotes cristãos não puderam compreender o que significam essas palavras, nem perceber seu fim e propósito, preferindo ater-se à interpretação literal das palavras de Jesus, privaram-se, portanto, da abundante graça da Revelação Maometana e de suas copiosas bênçãos. Os ignorantes dentro da comunidade cristã, seguindo o exemplo dos expoentes de sua Fé, forma de igual modo impedidos de contemplar a beleza do Rei da Glória, por não se haverem realizado os sinais que deveriam acompanhar o nascer do sol da Era Maometana. Assim têm passado épocas e decorrido séculos, e aquele puríssimo Espírito já se retirou para as plagas de sua soberania antiga.
Ainda outra vez o Espírito eterno soprou na trombeta mística e fez os mortos apressarem-se, de suas sepulturas da negligência e do erro, para o reino da guia e da graça. Entretanto, aquela comunidade, ansiosa, ainda exclama: “Quando sucederão essas coisas? Quando se manifestará o Prometido, objeto de nossas esperanças, de modo que nos possamos levantar para o triunfo da Sua Causa, sacrificar a nossa substância por amor a Ele e oferecer as nossas vidas em Seu caminho? De maneira semelhante, por causa de tais imaginações falsas, outras comunidades têm se desviado do Kawthar da infinita misericórdia da Providência e se ocupado com seus próprios pensamentos vãos.
Além desse trecho, há ainda outro versículo no Evangelho em que Ele diz: “Passará o céu e a terra, mas as Minhas palavras não hão de passar.” (19) Assim foi que os adeptos de Jesus afirmaram que a lei do Evangelho jamais será anulada e que, ao manifestar-se a prometida Beleza e revelarem-se todos os sinais, Ele deverá reafirmar e estabelecer a lei proclamada no Evangelho, de modo a não deixar no mundo outra Fé senão a Sua. É essa a crença fundamental que sustentam, e com tal convicção que, se alguém se manifestasse com todos os sinais prometidos, mas promovesse algo contrário à letra da lei do Evangelho, eles, seguramente, haveriam de repudiá-lo, recusar submeter-se à sua lei, declará-lo um infiel e rir-se dele até o escárneo. Isso é provado por aquilo que sucedeu quando o sol da Revelação Maometana se revelou. Se tivessem, com humildade de espírito, buscado dos Manifestantes de Deus, em cada Era, o que realmente significam essas palavras reveladas nos Livros Sagrados – palavras cuja interpretação errônea faz os homens se privarem do conhecimento do Sadratu´l-Muntahá, o Objeto final – eles, certamente, teriam sido guiados à luz do Sol da Verdade e teriam descoberto os mistérios da sabedoria e dos conhecimentos divinos.
Este servo repartirá agora contigo uma gota do oceano insondável das verdades entesouradas nessas sagradas palavras, a fim de que os corações discernentes possam talvez compreender todas as alusões e implicações contidas nas palavras dos Manifestantes da Santidade, de modo que a inexcedível majestade da Palavra de Deus não os impeça de atingir o oceano dos Seus nomes e atributos, nem os prive de reconhecer a Lâmpada de deus, que é a sede da revelação de Sua glorificada Essência.
Quanto às palavras – “Logo depois da aflição daqueles dias” – elas se referem ao tempo em que os homens serão oprimidos e aflitos; o tempo em que nem sequer os mais ligeiros traços do Sol da Verdade restarão, quando o fruto da Árvore do conhecimento e da sabedoria houver desaparecido do meio dos homens e as rédeas da humanidade tiverem caído nas mãos dos insensatos e ignorantes, quando se tiverem fechado os portais da divina unidade e compreensão – desígnio essencial e o mais elevado da criação – quando o conhecimento certo tiver cedido lugar à vã fantasia e a corrupção usurpado a posição da justiça. Condições como essas se verificam, hoje, havendo já as rédeas de cada comunidade caído nas mãos de dirigentes insensatos, que guiam segundo os próprios caprichos e desejos. A menção de Deus, na sua língua, tornou-se um nome vazio; em seu meio, Sua santa Palavra é apenas uma letra morta. Tal é o predomínio de seus desejos, que a lâmpada da consciência e do raciocínio se acha apagada em seus corações e isso, não obstante haverem os dedos do poder divino descerrado os portais do conhecimento de Deus, e a luz do conhecimento divino e da graça celestial ter iluminado e inspirado a essência de todas as coisas criadas, de modo que, em cada uma, desde a menor, se abriu uma porta para o conhecimento e dentro de cada átomo os sinais do sol se manifestaram. E, no entanto, apesar de todas essas múltiplas revelações do conhecimento divino que têm circulado pelo mundo, eles ainda imaginam, futilmente, que a porta do conhecimento está fechada e as chuvas da graça têm cessado. Apegando-se à vã fantasia, desviaram-se para longe do ´Urvatu´l-Vuthqá (20) do conhecimento divino. Parece que os corações não se inclinam para o conhecimento, nem para a porta que a este conduz, e tampouco pensam eles em suas manifestações, havendo em sua vã fantasia encontrado a porta que conduz às riquezas terrenas enquanto que, na manifestação do Revelador do conhecimento, encontram apenas o apelo ao sacrifício. Naturalmente, pois, seguram a primeira com tenacidade, enquanto fogem da última. Embora em seus corações reconheçam ser uma só a Lei de Deus, emitem de toda parte, no entanto, um novo mandamento e proclamam em cada estação um decreto novo. Não se encontram duas pessoas que estejam de acordo sobre a mesma lei, pois não procuram outro Deus senão o próprio desejo, e nenhum caminho trilham exceto o do erro. Vêem no prestígio o objetivo final de seus esforços; e consideram o orgulho e a arrogância como sendo o cumprimento supremo do desejo de seu coração. Julgam que suas sórdidas maquinações sejam superiores ao decreto divino; recusam resignar-se à vontade de Deus; ocupam-se em planos egoístas e seguem pelos caminhos da hipócrita. Com todo o seu poder e todas as suas forças, tentam assegurar-se em suas ocupações triviais, receosos de que o menor descrédito venha a minar-lhes a autoridade ou macular a magnificência que ostentam. Fossem os seus olhos ungidos e esclarecidos com o colírio do conhecimento de Deus, descobririam, certamente, que numerosos animais vorazes se têm juntado para rapina, visando os cadáveres que são as almas dos homens.
Qual a “aflição” maior do que essa a que aludimos? Qual a “aflição” mais penosa do que a de uma alma em busca da verdade, desejosa de atingir o conhecimento de Deus, mas que não sabe onde ir ou de quem buscá-lo? Pois as opiniões têm divergido lastimavelmente e os caminhos que conduzem a Deus se multiplicaram. Essa “aflição” é a característica essencial de toda Revelação. Sem que isso suceda, o Sol da Verdade não se manifestará, porque o amanhecer da luz divina só virá guiar-nos após as trevas da noite do erro. Por essa razão, em todas as crônicas e tradições, há referência a essas coisas, isto é, que a iniqüidade cobrirá a superfície da terra e a escuridão envolverá a humanidade. Como as referidas tradições são assaz conhecidas, e porque este servo deseja brevidade, Ele não citará o texto dessas tradições.
Se essa “aflição” (que significa, literalmente, pressão) fosse interpretada como contração da terra, ou se a vã fantasia dos homens imaginasse calamidades similares destinadas a cair sobre a humanidade, é claro e óbvio que essas coisas jamais sucederão. Eles, seguramente, objetarão que esse requisito da revelação divina não se manifestou. Tal foi, e ainda é seu argumento. A “aflição”, porém, significa a falta de capacidade para adquirir conhecimentos espirituais e compreender a Palavra de Deus. Significa que, ao se pôr o Sol da Verdade e ao se partirem os espelhos que refletem Sua luz, sofrerá a humanidade “aflição” e dificuldades, não sabendo aonde se dirigir para ser guiada. Assim Nós te instruímos na interpretação das tradições e te revelamos os mistérios da sabedoria divina, para que tu possas talvez entender o seu significado e ser um daqueles que sorveram do cálice da compreensão e dos conhecimentos divinos.
E agora, quanto às Suas palavras – “Escurecer-se-á o sol, e a lua não dará a sua claridade e as estrelas cairão do céu”. Os termos “sol” e “lua” mencionados nos escritos dos Profetas de Deus não só se referem ao sol e à lua do universo visível, mas, antes, são múltiplos os sentidos em que se usam esses termos; em cada instância, lhes tem sido dada uma significação especial. Assim, por “sol”, em um sentido, entendem-se aqueles Sóis da Verdade que surgem do amanhecer da glória antiga, enchendo o mundo da graça abundante provinda do alto. Esses Sóis da Verdade são os universais Manifestantes de Deus nos mundos dos Seus atributos e nomes. Semelhantes ao sol visível que, segundo decretou Deus, o Verdadeiro, o Adorado, assiste ao desenvolvimento de todas as coisas terrenas – das árvores, frutas e suas cores, dos minerais da terra e de tudo o que se vê no mundo criado – os Luminares divinos, também, com seu terno cuidado e sua influência educativa, causam a existência e a manifestação das árvores e dos frutos da unidade de Deus, das folhas do desprendimento, das flores do saber e da certeza, e das murtas da sabedoria e de sua expressão. Assim é que, com o surgir desses Luminares de Deus, o mundo se renova, as águas da vida eterna manam, as ondas da benevolência se intumescem; juntam-se as nuvens da graça e sobre todas as coisas criadas sopra a brisa da generosidade. É o ardor que desses Luminares de Deus promana, é a chama imorredoura por eles acesa, que faz arder intensamente no coração da humanidade a luz do amor de Deus. É mediante a graça abundante desses Símbolos do Desprendimento que o Espírito da vida eterna se insufla nos corpos dos mortos. Certamente, o sol visível é apenas um sinal do esplendor desse Sol da Verdade, desse Sol que jamais terá igual, semelhante ou êmulo. É por Seu intermédio que todas as coisas vivem, se movem e têm existência. Através de Sua graça, manifestam-se e a Ele todos voltam. N´Ele, todas as coisas se originaram e para o tesouro da Sua Revelação todas se têm recolhido. D´Ele, procederam todas as coisas criadas e para os depositários da Sua lei elas reverteram.
Esses Luminares divinos parecem limitar-se, às vezes, a designações e atributos específicos, assim como tendes observado e estais agora observando, mas isso é só por causa da compreensão imperfeita, restrita, de certas mentalidades. A não ser isso, eles sempre foram, em todos os tempos, e continuarão sendo por toda a eternidade enaltecidos acima de qualquer nome laudatório e santificados além de qualquer atributo descritivo. A quinta-essência de nome algum pode esperar ter acesso à sua corte de santidade, e os mais elevados e puros de todos os atributos jamais se aproximarão do seu reino de glória. Os Profetas de Deus estão incomensuravelmente elevados acima da compreensão dos homens e jamais poderão estes os conhecer de outro modo senão por Eles mesmos. Longe de Sua Glória permitir que Seus Escolhidos sejam enaltecidos por qualquer outro, senão por si próprios. Glorificados estão Eles acima do louvor dos homens; excelsos além da compreensão humana!
Nos escritos das “Almas imaculadas”, o termo “sóis” foi aplicado muitas vezes aos Profetas de Deus, àqueles luminosos Emblemas do Desprendimento. Entre esses escritos se encontram as seguintes palavras registradas na “Oração de Nudbih”: (21) “Para onde foram os Sóis resplandecentes? Para onde partiram aquelas Luas esplendorosas e Estrelas cintilantes?” Tornou-se, assim, evidente que os termos “sol”, “lua” e “estrelas” significam primariamente os Profetas de Deus, os santos e seus companheiros – aqueles Luminares cujo conhecimento se irradiou sobre os mundos visíveis e invisíveis.
Em outro sentido, esses termos se referem aos sacerdotes da Era passada que ainda vivem no tempo das Revelações subseqüentes, e que seguram nas mãos as rédeas da religião. Se esses sacerdotes forem iluminados com a luz da Revelação posterior, tornar-se-ão aceitáveis aos olhos de Deus e brilharão com luz eterna. De outro modo, ainda que sejam aparentemente os mais prestigiosos entre os homens, serão declarados obscurecidos, já que a crença e a descrença, a certeza e o erro, a felicidade e a desventura, a luz e a escuridão, dependem, todos eles, da sanção de Quem é o Sol da Verdade. Qualquer um dentre os sacerdotes de cada era que, no Dia do Juízo, vier a receber da Fonte do conhecimento verdadeiro o testemunho da fé, será, em verdade, favorecido com a graça divina, com a erudição e a luz da verdadeira compreensão. Em caso contrário, será estigmatizado como um insensato, convicto de negação, blasfêmia e opressão.
É claro e evidente, a cada um que observe com discernimento, que, assim como a luz da estrela se esvai ante o refulgente esplendor do sol, do mesmo modo o luminar do conhecimento terreno, da compreensão e sabedoria, se desvanece completamente diante das glórias resplandecentes do Sol da Verdade, do Sol da iluminação divina.
O fato de se haver aplicado aos dirigentes da religião o termo “sol” é em virtude de sua alta posição, seu renome e fama. Referimo-nos aos sacerdotes universalmente reconhecidos em cada época, os quais falam com autoridade e cuja fama está seguramente confirmada. Se forem parecidos com o Sol da Verdade, serão julgados, certamente, os mais nobres de todos os luminares; em caso contrário, serão reconhecidos como pontos irradiantes de fogo infernal. Assim como Ele diz: “Em verdade, o sol e a lua são ambos condenados ao tormento do fogo infernal.” (22) Conheceis, sem dúvida, a interpretação dos termos “sol” e “lua” mencionados nesse versículo; desnecessária é, pois, a sua referência. E quem quer que participe do elemento desse “sol” e dessa “lua”, isto é, que siga o exemplo desses líderes que se dirigem à falsidade e se afastam daquilo que é verdadeiro, provém, indubitavelmente, das trevas infernais e a estas haverá de voltar.
E agora, ó vós que buscais, cumpre-nos aderir firmemente ao ´Urvatu´l-Vathqá, para que possamos, porventura, deixar atrás a tenebrosa noite do erro e abraçar a luz nascente da guia divina. Não deveremos fugir da face da negação e buscar o amparo da certeza? Não nos deveremos livrar do horror das trevas satânicas e apressar-nos para a luz matutina da Beleza celestial? De tal modo Nós vos concedemos o fruto da Árvore do conhecimento divino para que possais habitar, com alegria e regozijo, no Ridván da sabedoria divina.
Em outro sentido, pelos termos “sol”, “lua” e “estrelas” se entendem leis e ensinamentos estabelecidos e proclamados em cada Era, como, por exemplo, as leis da oração e do jejum. Segundo a lei do Alcorão, tais leis, quando a beleza do Profeta Maomé passara além do véu, foram consideradas as mais fundamentais e invioláveis de Sua Era. Isso é comprovado pelos textos das tradições e crônicas que, por serem tão largamente conhecidas, não precisam de menção aqui. Ainda mais, em cada Era, a lei relativa à oração ocupa um lugar saliente, sendo universalmente executada. Isso atestam as tradições registradas que se atribuíram às luzes provenientes do Sol da Verdade, da essência do Profeta Maomé.
As tradições estabeleceram o fato de que, em todas as Eras, a lei da oração constitui elemento fundamental da Revelação de todos os Profetas de Deus – lei essa cuja forma e cujo modo se adaptam às várias necessidades próprias de cada época. Desde que cada Revelação subseqüente venha a abolir os modos, hábitos e ensinamentos que a Era anterior estabelecera clara, específica e firmemente, estes se expressam, em sentido simbólico, pelos termos “sol” e “lua”. “A fim de que Ele vos pudesse submeter à prova, para mostrar qual de vós sobressai em ações.” (23)
Além disso, segundo as tradições, os termos “sol” e “lua” se aplicam à oração e ao jejum, assim como se diz: “O jejum é iluminação, a prece é luz.” Certo dia, um sacerdote muito conhecido veio Nos visitar. Enquanto conversávamos, ele se referiu à tradição anteriormente citada, dizendo: “Como o jejum faz aumentar o calor do corpo, nós o temos comparado, pois, à luz do sol; e como a oração à noite refresca o homem, diz-se ser semelhante ao esplendor da lua.” Percebemos então que esse pobre homem não fora favorecido com nem sequer uma gota do oceano do verdadeiro entendimento e se desviara muito longe da Sarça ardente da sabedoria divina. Assim lhe dissemos gentilmente: “A interpretação que Vossa Excelência deu a essa tradição é a corrente entre o povo. Não se poderia interpretá-la de uma maneira diferente?” Ele perguntou, “Que poderia ser”?” E replicamos: “Maomé, o Selo dos Profetas, o mais ilustre dos Escolhidos de Deus, comparou a Era do Alcorão ao céu, por causa de seu elevado grau, sua influência predominante, sua majestade, e porque compreende todas as religiões. E como o sol e a lua constituem os astros mais brilhantes e proeminentes do céu, do mesmo modo foram ordenados, no céu da religião de Deus, dois orbes radiantes – o jejum e a oração. “O islã é o céu; o jejum é seu sol, e a oração sua lua.”
Esse é o propósito fundamental das palavras simbólicas dos Manifestantes de Deus. Por conseguinte, a aplicação dos termos “sol” e “lua” às coisas já citadas, se demonstrou e justificou segundo o texto dos sagrados versículos e das tradições registradas. Assim, pois, está claro e evidente que as palavras – “escurecer-se-á o sol, e a lua não dará a sua claridade e as estrelas cairão do céu” – se referem à perversidade dos sacerdotes e à anulação das leis firmemente estabelecidas pela Revelação Divina, tudo o que foi predito, em linguagem simbólica, pelo Manifestante de Deus. Ninguém, a não ser o justo, participará desse cálice; ninguém, salvo o piedoso, dele terá um quinhão. “O justo beberá de um cálice temperado na fonte de cânfora.” (24)
Indiscutivelmente, nas sucessivas Revelações, o “sol” e a “lua” dos ensinamentos, leis, mandamentos e proibições que se estabeleceram na Era precedente e que abrigaram o povo daquele tempo, obscurecem-se, isto é, estão esgotados e já não exercem sua influência. Considerai agora: tivesse o povo do Evangelho reconhecido o que significam os termos simbólicos de “sol” e “lua” e – diferentemente dos refratários e perversos – buscado o esclarecimento d´Aquele Que é o Revelador do conhecimento divino, teria certamente compreendido o propósito desses termos e não ficado aflito e oprimido pela escuridão de seus desejos egoístas. Sim, mas porque esse povo não adquirira da própria Fonte o verdadeiro conhecimento, definhou, no perigoso vale da perversidade e da descrença. Não acordou ainda para perceber que todos os sinais preditos já se manifestaram, que o prometido Sol se levantou sobre o horizonte da Revelação divina e o “sol” e a “lua” dos ensinamentos, das leis e da erudição de uma Era anterior já se tornaram obscuros e desapareceram.
E agora deves tu, com olhar fixo e asas firmes, entrar no caminho da certeza e da verdade. “Dize: É Deus; deixa, então, que eles se entretenham a si mesmos com suas cavilações.” (25) Assim serás tido por um dos companheiros de quem Ele diz: “Aqueles que dizem – Nosso Senhor é Deus – e continuam fiéis em Seu caminho, sobre eles, em verdade, descerão os anjos.” (26) Então serás tu testemunha, com os próprios olhos, de todos esses mistérios.
Ó meu irmão! Dá o passo do espírito e assim tão veloz como um abrir e fechar de olhos, poderás transpor as solidões do afastamento e da desolação, alcançar o Ridván da eterna reunião e, em um só sopro, comungar com os Espíritos celestiais. Pois com pés humanos não podes esperar jamais atravessar essas desmedidas distâncias, nem atingir teu objetivo. Paz esteja com aquele que for guiado pela luz da verdade, para alcançar toda a verdade, e que, em nome de Deus, se mantiver firme no caminho de Sua Causa, nas plagas da verdadeira compreensão.
Eis o que significa o sagrado versículo: “Mas não! Juro pelo Senhor dos Orientes e dos Ocidentes”, (27) desde que os referidos “Sóis” têm cada um seu lugar próprio para se levantar e se pôr. E como não puderam os comentadores do Alcorão compreender o sentido simbólico desses “Sóis”, encontraram grande dificuldade em interpretar o versículo já citado. Sustentaram alguns que, em vista do fato de nascer o sol cada dia num ponto diferente, os termos “orientes” e “ocidentes” foram mencionados no plural. Outros escreveram que esse versículo se refere às quatro estações do ano, porque os pontos em que o sol nasce e se põe variam com a mudança de estação. Tal é a profundeza do seu entendimento! Entretanto, persistem em imputar erro e insensatez àquelas Jóias do conhecimento, àqueles irrepreensíveis, puríssimos Símbolos da sabedoria.
Esforça-te, então, a fim de compreenderes, mediante essas exposições lúcidas, poderosas, concludentes e inequívocas, o que significa o “romper do céu” – um dos sinais que deverá anunciar a vinda da Hora Final, do Dia da Ressurreição. Assim como Ele disse: “Quando o céu se romper”. (28) Por “céu” se quer dizer o céu da Revelação Divina, que se eleva com a vinda de cada Manifestante e se rompe ao aparecer o subseqüente. “Romper” significa que a Era anterior é substituída e anulada. Afirmo por testemunho de Deus! Romper esse céu é, para quem possui discernimento, um ato mais poderoso do que romper a abóbada celeste! Pondera um pouco. Uma Revelação Divina que desde muitos anos se acha firmemente estabelecida – à sombra da qual se educaram e nutriram todos os que a abraçaram; à luz de cuja lei gerações de homens têm sido disciplinadas; a excelência de cuja palavra os homens têm ouvido ser elogiada por seus pais; de tal modo que olhos humanos nada perceberam a não ser a influência predominante de sua graça e ouvidos mortais não escutaram senão a majestade ressonante de seu mando – qual o ato maior do que “romper”, pelo poder de Deus, uma Revelação como essa e aboli-la, com o aparecimento de uma só alma? Reflete: não é um ato maior que aquilo que esses homens desprezíveis, insensatos, imaginam ser o sentido de “romper o céu”?
Além disso, considera tu as dificuldades e amarguras das vidas daqueles Reveladores da Beleza Divina. Reflete como eles só, sem apoio algum, enfrentaram o mundo e todos os seus povos e promulgaram a Lei de Deus! Apesar das mais severas perseguições infligidas a essas almas santas, preciosas e ternas, elas ainda se mantiveram pacientes, na plenitude de seu poder e, não obstante sua ascendência, as sofreram e suportaram.
De modo semelhante, esforça-te para compreenderes o que significa a “transformação da terra”. Deves saber que, quando caem sobre quaisquer corações as copiosas chuvas da misericórdia, procedendo do “céu” da Revelação Divina, a terra desses corações se transforma, verdadeiramente, na terra da sabedoria e do conhecimento divinos. Vê que mirtos de unidade são produzidos no solo dos seus corações! Que flores de verdadeiro conhecimento e sabedoria crescem em seus peitos iluminados! Não fosse transformada a terra dos seus corações, como seria possível a essas pessoas, que não haviam aprendido uma letra sequer e que jamais viram instrutor algum nem freqüentaram escola – proferir tais palavras e mostrar conhecimentos tão acima da compreensão comum? Foram moldadas, parece-me, com a argila do conhecimento infinito e amassados com a água da sabedoria divina. Assim, pois, foi dito: “O conhecimento é uma luz que Deus faz penetrar no coração de quem Ele queira.” É essa a espécie de conhecimento que é, e sempre foi louvável, e não o conhecimento limitado oriundo das mentes veladas e obscurecidas. Esse conhecimento limitado eles até o tomam emprestado um do outro, furtivamente, e disso se vangloriam!
Oxalá pudessem os corações humanos purificar-se dessas limitações feitas pelo homem e desses pensamentos obscuros que lhes foram impostos! Assim, talvez, poderiam iluminar-se com a luz do Sol do verdadeiro conhecimento e compreender os mistérios da sabedoria divina. Considera tu agora: se continuasse seco e estéril o solo dos seus corações, como haveriam de receber, jamais, a revelação dos mistérios de Deus e tornar-se os Reveladores da Essência Divina? Assim Ele disse: “No dia em que a terra se transformar em outra terra.” (29)
A brisa da generosidade do Rei da criação causou até uma transformação no mundo físico – se apenas ponderásseis nos corações os mistérios da Revelação Divina!
E deves compreender agora o sentido deste versículo: “Toda a terra no Dia da Ressurreição será apenas uma mão-cheia e em Sua mão direita se conterão os céus. Louvores a Ele! E enaltecido seja Ele, muito além dos companheiros que eles Lhe associam!” (30) E agora, sê justo em teu juízo. Tivesse este versículo o sentido que os homens supõem, traria isso, podemos perguntar, proveito ao homem? Além disso, evidentemente, nenhuma mão visível a olhos humanos poderia realizar tais atos, nem ser atribuída, em absoluto, à exaltada Essência de Deus, Uno e Verdadeiro. Não, admitir tal coisa nada mais é que pura blasfêmia, uma completa perversão da verdade. E fôssemos supor que esse versículo se referisse aos Manifestantes de Deus, que a realização de tais atos Lhes fosse exigida no Dia do Juízo, isso também pareceria estar longe da verdade e seria, certamente, de nenhum proveito. Ao contrário, o termo “terra” significa a terra do entendimento e conhecimento, e o “céu”, o da Revelação Divina. Reflete como, por um lado, Ele com Sua poderosa mão, transformou num mero punhado a terra do conhecimento e da sabedoria, anteriormente estendida, e, por outro, desdobrou nos corações humanos uma terra nova e sumamente elevada, fazendo assim brotarem no peito iluminado do homem as mais frescas e encantadoras flores e as árvores mais altas e poderosas.
Que reflitas, também, como os altos céus das Eras passadas se dobraram na mão direita do poder, como os céus da Revelação Divina se ergueram pelo imperativo de Deus e se adornaram com o sol, a lua e as estrelas de Seus maravilhosos mandamentos. Tais são os mistérios do Verbo de Deus que agora se desvendaram e se tornaram manifestos, para que tu possas, quiçá, perceber a luz matinal da guia divina e extinguir, pelo poder da confiança o da renúncia, a lâmpada da vã fantasia, das imaginações fúteis, da hesitação e da dúvida, e possas acender no mais íntimo recôndito do teu coração, a luz recém-nascida da certeza e dos conhecimentos divinos.
Sabe tu, verdadeiramente, que o propósito fundamental de todos esses termos simbólicos e alusões abstrusas que emanam dos Reveladores da santa Causa de Deus, é a provação dos povos do mundo; para que, deste modo, o terreno dos corações puros e iluminados se distinga do solo estéril e perecedor. Desde tempos imemoriais, é este o método de Deus entre Suas criaturas, segundo atestam os livros sagrados.
E, igualmente, deves meditar sobre o versículo revelado no que se refere ao “Qiblih”. (31) Quando Maomé, o Sol profético, fugira da aurora de Bathá (32) para Yathrib, (33) Ele continuava a voltar o rosto, enquanto orava, na direção de Jerusalém, a cidade santa, até o tempo em que os judeus começaram a pronunciar palavras indecorosas contra Ele – palavras indignas de ser mencionadas nestas páginas e fatigantes para o leitor. Maomé ressentia-se fortemente dessas palavras. Enquanto, absorvido em meditação e êxtase, contemplava o céu, ouviu a voz benévola de Gabriel, dizendo: “Nós Te vemos do alto, a dirigir a face para o céu; mas Nós queremos que Te voltes para um Qiblih que Te aprouver.” (34) Num dia subseqüente, enquanto o Profeta, com Seus companheiros, proferia a oração do meio-dia, e quando já executara duas das Rik´ ats prescritas, (35) ouviu Ele novamente a voz de Gabriel: “Volta Tua face para a sagrada Mesquita.” (36) (37) Em meio a essa mesma oração, Maomé virou a face subitamente de Jerusalém e dirigiu-se ao Ka´bih. De pronto, profunda consternação apoderou-se dos companheiros do Profeta. Isso lhes abalou severamente a fé. Tamanho foi seu alarme que muitos deles interromperam a oração e cometeram apostasia. Em verdade, Deus não causa essa perturbação pro outro motivo senão o de por à prova Seus servos. A não ser isso, Ele, o Rei ideal, facilmente teria deixado de alterar o Qiblih, podendo ter permitido que Jerusalém continuasse a ser o Ponto de Adoração para Sua Era, e assim não teria privado essa cidade santa da distinção que lhe fora concedida.
Jamais fora a lei do Qiblih alterada por qualquer dos muitos Profetas enviados como Mensageiros da Palavra de Deus desde que Moisés se manifestara, tais como David, Jesus, e outros dos mais excelsos Manifestantes que apareceram durante o período entre as Revelações de Moisés e de Maomé. Cada um desses Mensageiros do Senhor da criação ensinou Seu povo a dirigir-se ao mesmo ponto. Aos olhos de Deus, o Rei ideal, todos os lugares da terra são iguais e idênticos, exceto aquele lugar que Ele, no tempo de Seu Manifestante, designa para um fim especial. Assim como Ele revelou: “Oriente e Ocidente pertencem a Deus; em qualquer direção que vos vireis, pois, aí está o semblante de Deus.” Como, então, foi que, (38) não obstante a verdade destes fatos, se alterou o Qiblih e assim causa tanta angústia entre o povo, fazendo vacilarem os companheiros do Profeta e criando em seu meio tão grande confusão? Sim, tais coisas que lançam consternação nos corações de todos os homens sucedem somente para provar cada alma com a pedra de toque ordenada por Deus, para que se conheça a verdadeira e se a distinga da falsa. Após a divergência entre o povo, Ele assim revelou: “Nós não apontamos o que Tu querias fosse o Qiblih, para somente assim conhecermos aquele que segue o Apóstolo e podermos distingui-lo daquele que tergiversa.” (39) “Asnos amedrontados fugindo de um leão.” (40)
Se ponderásseis essas explicações no coração, só um pouco, haveríeis seguramente de encontrar descerrados diante de vossa face os portais do entendimento e contemplaríeis todo o conhecimento com seus mistérios desvendados ante vossos olhos. Tais coisas sucedem apenas a fim de que as almas dos homens se desenvolvam e se livrem da prisão do eu e do desejo em que se acham encerradas. De outro modo, aquele Rei ideal é, em Sua Essência, desde toda a eternidade, independente da compreensão de todos os seres e continuará para sempre enaltecido em Seu próprio Ser, além da adoração de qualquer alma. Um simples sopro de Sua exuberância é suficiente para adornar toda a humanidade com as vestes da riqueza; apenas uma gota do oceano de Sua abundante graça basta para conferir a todos os seres a glória da vida eterna. Como, porém, o Desígnio Divino exigiu que o verdadeiro fosse distinguido do falso, e o sol, da sombra, Ele, em todas as épocas, tem feito caírem sobre a humanidade, provindas de Seu reino de glória, chuvas de provações.
Se os homens meditassem sobre as vidas dos Profetas da antiguidade, viriam a conhecer e compreender tão facilmente os métodos desses Profetas, que deixariam de ser confundidos por tais ações e palavras contrárias a seus próprios desejos mundanos e assim consumiriam com o fogo ardente na Sarça do conhecimento divino todo véu que se interpusesse, e permaneceriam seguros sobre o trono da paz e da certeza. Considerai, por exemplo, Moisés, filho de ´Imrán, um dos Profetas excelsos e Autor de um Livro divinamente revelado. Um dia, Ele, ainda na juventude, antes de haver proclamado Seu ministério, passava pelo mercado, quando viu dois homens lutando. Um deles pediu a Moisés socorro contra o adversário e então Moisés interveio e matou a este. Assim atesta a narrativa do Livro Sagrado. Se fossem citados os detalhes, o curso do argumento seria interrompido e prolongado em demasia. Divulgou-se por toda a cidade a notícia desse incidente e Moisés estava cheio de medo, como afirmava o texto do Livro. E quando chegou a seus ouvidos esta advertência: “Ó Moisés! em verdade, os chefes estão em conselho para Te matar”, (41) Ele partiu da cidade e foi residir em Midian, a serviço de Shoeb. Ao regressar, Moisés entrou no vale santo, na solidão do Sinai, e aí, da “Árvore que não pertence nem ao Este nem ao Oeste”, teve a visão do Rei da glória. Ai ouviu Ele a Voz comovedora do Espírito, que do Fogo ardente Lhe falava, mandando que irradiasse sobre as almas faraônicas a luz da guia divina; de modo que, livrando-as do vale sombrio do ego e do desejo, Ele as fizesse alcançar os prados do deleite celestial e, através do Salsabil da renúncia, as salvasse da perplexidade oriunda de sua separação e as fizesse entrar na cidade tranqüila da Presença Divina. Quando Moisés veio a Faraó e, segundo Deus ordenara, lhe transmitiu a Mensagem divina, Faraó falou de maneira ofensiva, dizendo: “Não és aquele que cometeu assassínio e se tornou infiel?” Assim o Senhor da majestade relatou as palavras de Faraó a Moisés: “Que ato foi esse que Tu cometeste! És um dos ingratos.” Disse Ele: “Eu o fiz, em verdade, e fui um dos que erraram. E fugi de vós quando vos receei, mas Meu Senhor Me deu sabedoria e Me fez um de Seus Apóstolos.” (42)
E agora pondera em teu coração que tumulto Deus provoca. Reflete: como são múltiplas e estranhas as provações com que Ele experimenta Seus servos. Considera tu como Ele escolheu subitamente dentre Seus servos e Lhe confiou a exaltada missão de ser um Guia divino, Àquele conhecido como homicida, que confessara, Ele mesmo, Sua crueldade e que por quase trinta anos fora, aos olhos do mundo, criado na casa de Faraó e alimentado à sua mesa. Não poderia Deus, o Rei Onipotente, ter impedido de cometer assassínio a mão de Moisés para que Lhe não fosse atribuído, fato este que tanta perplexidade e aversão causou entre o povo?
Outrossim, deves tu refletir sobre o estado e condição de Maria. Tão profunda foi a ansiedade desse mais belo semblante, tão penosa sua situação, que ela deplorava amargamente haver nascido. Isso é comprovado pelo texto do sagrado versículo que diz haver Maria, após o nascimento de Jesus, lamentado seu embaraço e exclamado: “Oxalá tivesse eu morrido antes disto e sido uma coisa esquecida, inteiramente esquecida!” (43) Deus é Nossa testemunha! Tais lamentos consomem o coração e abalam o próprio ser. Tão grande consternação de alma, tamanho abatimento de espírito, não poderia ter sido causado senão pela censura do inimigo e pelas cavilações dos infiéis e perversos. Pensa: qual a resposta que Maria poderia dar ao povo a seu redor? Como poderia ela afirmar que uma Criança, cujo pai era desconhecido, tivesse sido concebida do Espírito Santo? Por isso foi que Maria, aquele Semblante velado e imortal, tomou sua Criança e voltou para sua casa. Mal caíram sobre ela os olhos do povo, quando se levantaram as vozes, dizendo: “Ó irmã de Arão! Teu pai não foi um homem iníquo; tampouco tua mãe impudica.” (44)
E agora deves meditar sobre essa tão grande convulsão, essa provação penosa. Apesar de todas essas coisas, Deus concedeu àquela Essência do Espírito, Àquele conhecido entre o povo como um que não teve pai, a glória de ser Profeta, e d´Ele fez Sua testemunha para todos aqueles que estão no céu e na terra.
Vê tu como os métodos dos Manifestantes de Deus, segundo ordena o Rei da criação, são contrários aos métodos e desejos dos homens! À medida que vieres a compreender a essência desses mistérios divinos, perceberás o desígnio de Deus, o Encantador divino, o Mais-Amado. Virás a considerar as palavras e os atos daquele Soberano todo-poderoso como sendo uma e a mesma coisa; de tal modo que, seja qual for o que vejas em Seus atos, o mesmo encontrarás em Suas palavras, e o que leres em Suas palavras, isso perceberás também em Seus atos. Assim é que tais atos e palavras são, exteriormente, o fogo da vingança para os ímpios, e interiormente, as águas da compaixão para os justos. Se os olhos do coração se abrissem, perceberiam, seguramente, que as palavras reveladas do céu da vontade de Deus estão em harmonia com os atos que emanaram do Reino do poder divino e lhes são idênticas.
E agora atende, ó irmão! Se aparecessem coisas semelhantes nesta Era, se houvesse incidentes iguais no tempo atual, que faria o povo? Juro por Aquele que é o verdadeiro Educador da humanidade e Revelador do Verbo de Deus, que instantânea e inquestionavelmente, haveria o povo de O chamar de infiel e sentenciá-Lo à morte. Quanto estão eles longe de escutar a voz que declara: Eis que um Jesus apareceu do sopro do Espírito Santo e um Moisés foi chamado para uma tarefa a que Deus O destinara! Ainda que se levantassem miríades de vozes, ouvido algum escutaria se Nós disséssemos que a uma Criança sem pai fora dada a missão de Profeta, ou que um homicida houvera trazido da chama da Sarça ardente esta mensagem: “Em verdade, em verdade, Eu sou Deus!”
Se os olhos da justiça se abrirem, reconhecerão prontamente, à luz daquilo já mencionado, que Aquele que é a Causa e o Objeto final de todas essas coisas, se tornou manifesto neste dia. Embora não tenham havido na Era atual acontecimentos comparáveis, o povo apega-se, no entanto, às mesmas vãs fantasias tão caras ao ímpio. Como são penosas as acusações que Lhe infligiram! E quão severas as perseguições de que é alvo – acusações e perseguições, cujo igual jamais homem algum tem visto ou ouvido!
Grande Deus! Quando o fluxo de palavras atingiu este ponto, contemplamos e eis que as suaves fragrâncias de Deus emanavam da Aurora da Revelação e a brisa matinal soprava do Sheba do Eterno. Suas novas regozijaram mais uma vez o coração e proporcionaram à alma alegria incomensurável. Renovou Ela todas as coisas, e trouxe, do Amigo incognoscível, dádivas sem conta e de inestimável valor. As vestes dos louvores humanos não podem esperar jamais ser adequadas à Sua nobre estatura; o manto das palavras jamais se poderá ajustar a Sua figura resplandente. Sem palavra, desvenda os mistérios mais recônditos; sem falar, revela os segredos das expressões divinas. Aos rouxinóis que cantam nos ramos do afastamento e da privação, ensina lamentos e gemidos, instrui-os na sutil arte do amor e esclarece-lhes o mistério que há na entrega do coração. Às flores do Rivdán da união celestial, revela a ternura do apaixonado e desvenda o encanto da formosa amada. Concede os mistérios da verdade às anêmonas do jardim do amor, e aos corações dos que amam, confia os símbolos das mais íntimas sutilezas. Nesta hora, tão generosa é a emanação de Sua graça, que o próprio Espírito Santo sente inveja! À gota concedeu as ondas do mar; à ínfima partícula, favoreceu com o esplendor do sol. Tal é a exuberância de Suas dádivas, que o mais desprezível besouro tem buscado o perfume do almíscar, e o morcego a luz do sol. Ressuscitou os mortos com o alento da vida e os fez apressarem-se a sair dos sepulcros dos seus corpos mortais. Estabeleceu no assento da erudição o ignorante, e elevou o opressor ao trono da justiça.
O universo está prenhe dessas múltiplas graças, aguardando a hora em que os efeitos de Suas dádivas invisíveis se tornem manifestos neste mundo, quando o sedento e aquele que languesce atinjam o Kawthar vivificante do Bem-Amado e o errante, perdido nas solidões do afastamento e da inexistência, entre no tabernáculo da vida e alcance a reunião com Aquele por quem seu coração anseia. De quem será o coração em cujo solo germinem estas santas sementes? Do jardim de que alma brotarão as flores das realidades invisíveis? Em verdade, digo, tão intensa é a flama na Sarça do amor, acesa no Sinai do coração, que jamais as águas transbordantes das palavras sagradas lhe poderão aplacar a chama. Oceanos jamais aliviarão a sede ardente desse Leviatã, e essa Fênix do imorredouro fogo em parte alguma pode habitar, a não ser no esplendor que irradia do Semblante do Bem-Amado. Portanto, ó irmão! com o óleo da sabedoria, acende no âmago de teu coração a lâmpada do espírito, e protege-a com o globo da compreensão, para que o sopro do infiel não lhe possa extinguir a flama, nem diminuir o brilho. Assim temos iluminado os céus das palavras com os esplendores do Sol da sabedoria e compreensão divinas, para que teu coração encontre paz e tu sejas um dos que voaram com as asas da certeza, para o céu do amor de seu Senhor, o Todo-Misericordioso.
E agora, quanto a Suas palavras: “E então aparecerá o sinal do Filho do homem no céu.” Significam estas palavras que, quando se tiver eclipsado o sol dos ensinamentos celestiais, quando tiverem caído as estrelas das leis divinamente estabelecidas, e a lua do verdadeiro conhecimento – o educador da humanidade – estiver obscurecida; quando os estandartes do esclarecimento e da felicidade estiverem virados e a manhã da verdade e retidão se tiver mergulhado na treva da noite, então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem. O “céu” quer dizer o céu visível, pois, ao aproximar-se a hora em que o Sol do céu da justiça deverá se manifestar e a Arca da sabedoria divina sulcar o oceano da glória, aparecerá no céu uma estrela para anunciar ao povo o advento daquela mais grandiosa luz. Do mesmo modo, no céu invisível, haverá de se manifestar uma estrela que será um arauto proclamando, aos povos da terra, o romper daquela Manhã verdadeira e sublime. Esses sinais duplos, no céu visível e no invisível, têm anunciado a Revelação de cada um dos Profetas de Deus, como geralmente se acredita.
Um dos Profetas foi Abraão, o Amigo de Deus. Antes de Ele se manifestar, Nimrod teve um sonho. Chamou então os adivinhos, que lhe informaram haver surgido uma estrela no céu. Apareceu, outrossim, um arauto que anunciou por toda a terra a vinda de Abraão.
Depois d´Ele, veio Moisés, Aquele que conversava com Deus. Os adivinhos de Seu tempo advertiram a Faraó nestes termos: “Surgiu uma estrela no céu! Ei-la! Prognostica a concepção de uma Criança que segura nas mãos o vosso destino e o de vosso povo.” Assim também apareceu, na escuridão da noite, um sábio trazendo novas de júbilo ao povo de Israel, consolando-lhe a alma e tranqüilizando-lhe o coração. Testemunho disso se encontra nos relatos dos Livros Sagrados. Fossemos mencionar os detalhes, esta epístola se tornaria um livro. Além disso, não é Nosso desejo contar histórias dos dias passados. Deus é Nossa Testemunha de que até mesmo isto que agora mencionamos é devido somente à Nossa terna afeição por ti, para que os pobres da terra talvez possam atingir a orla do mar da riqueza e os ignorantes ser conduzidos ao oceano do conhecimento divino, e aqueles que têm sede de compreensão possam participar do Salsabíl da sabedoria divina. De outro modo, este servo consideraria um erro grave e uma transgressão lastimável levar em conta tais relatos.
Semelhantemente, ao aproximar-se a hora da Revelação de Jesus, alguns dos Magos, cientes de que aparecera no céu a estrela de Jesus, procuraram-na e seguiram-na, até que vieram à cidade que era a sede do Reino de Herodes. O domínio de sua soberania naquele templo abrangia toda aquela terra.
Disseram os Magos: “Onde está o Rei dos Judeus, que é nascido? porque nós vimos no oriente a Sua estrela e viemos adorá-Lo.” (45) Depois de haverem procurado, descobriram que em Belém, na terra da Judéia, a Criança nascera. Foi este o sinal que se manifestou no céu visível. Quanto ao sinal no céu invisível – céu do conhecimento e da compreensão divinos – foi Yahyá, filho de Zacarias, quem deu ao povo as boas novas da Manifestação de Jesus. Assim mesmo como Ele revelou: “Deus te anuncia Yahyá, que dará testemunho do Verbo de Deus, de um Ser grande e puro.” (46) O termo “Verbo” refere-se a Jesus, Cuja vinda Yahyá predisse. Ainda mais, encontra-se nas sagradas Escrituras: “Veio João Batista pregando no deserto da Judéia e dizendo: Fazei penitência; porque está próximo o Reino dos céus.” (47) Por João se entende Yahyá.
E também, antes de se desvelar a beleza de Maomé, manifestaram-se os sinais do céu visível. Quanto aos sinais no céu invisível, apareceram quatro homens que sucessivamente anunciaram ao povo as boas novas de que nascera aquele Luminar divino. Rúz-bih, mais tarde chamado Salmán, teve a honra de estar a seu serviço. Ao aproximar-se o fim da vida de um deles, este mandava Rúz-bih a um outro, até que o quarto desses homens, percebendo estar próxima sua morte, se dirigiu a Rúz-bih, dizendo: “Ó Rúz-bih! Quando tiveres tomado meu corpo e o enterrado, vá a Hijaz, pois aí há de nascer o Sol de Maomé. Feliz és tu, porque verás Seu semblante!”
E agora a respeito desta Causa maravilhosa e excelsa: Sabe tu, em verdade, que muitos astrônomos anunciaram o aparecimento de sua estrela no céu visível. Também apareceram na terra Ahmad e Kázim, (48) aquelas esplendorosas luzes gêmeas – que Deus lhes santifique o lugar de descanso!
De tudo o que já dissemos, torna-se claro e evidente que, antes da revelação de cada um dos Espelhos refletores da Essência Divina, os sinais anunciantes de Seu advento devem por força se manifestar no céu visível, bem como no invisível, no qual se encontra a sede do sol do conhecimento, da lua da sabedoria e das estrelas da compreensão e das palavras. O sinal do céu invisível tem de ser revelado na pessoa daquele homem perfeito que, antes do aparecimento de cada Manifestante, educa e prepara as almas dos homens para o advento do Luminar divino, da Luz da Unidade de Deus entre os homens.
Referindo-se, agora, a Suas palavras: “E então todos os povos da terra chorarão e verão o Filho do homem, que virá sobre as nuvens do céu com grande poder e majestade.” Estas palavras significam que naqueles dias os homens lamentarão a perda do Sol da Beleza Divina, da Lua do conhecimento e das Estrelas da sabedoria divina. Depois, verão o semblante do Prometido, a Beleza adorada, descer do céu e mover-se sobre as nuvens. Quer isso dizer que a Beleza Divina se manifestará do céu da Vontade de Deus e aparecerá na forma do “templo humano”. O termo “céu” significa sublimidade e exaltação, desde que é a sede da revelação desses Manifestantes da Santidade, Auroras da Glória antiga. Embora nasçam do ventre materno, esses Seres antigos descem, na realidade, do céu da Vontade de Deus. Ainda que habitem nesta terra, suas verdadeiras moradas são, entretanto, as plagas gloriosas nos reinos do além. Enquanto andam entre os homens mortais, voam no céu da Presença Divina. Sem pés, trilham o caminho do espírito e, sem asas, se elevam às sublimes alturas da Unidade Divina. Com cada alento fugaz, atravessam a imensidade do espaço e a todo instante passam pelos domínios do visível e do invisível. Sobre seus tronos está escrito: “Nada em absoluto O impede de se ocupar em alguma outra coisa.” E nos seus assentos se inscreveu: “Em verdade, os métodos d´Ele diferem todo dia.” (49) Esses Seres são enviados através do poder transcendente do Ancião dos Dias e surgem de acordo com a excelsa Vontade de Deus, o Rei poderosíssimo. Eis o que significa a expressão: “virá sobre as nuvens do céu.”
Nas palavras dos divinos Luminares, o termo “céu” indica muitas coisas diferentes, tais como o “céu do Mando”, o “céu da Vontade”, o “céu do Desígnio divino”, o “céu do Conhecimento divino”, o “céu da Certeza”, o “céu das Palavras”, o “céu da Revelação”, o “céu da Ocultação” e outros semelhantes. Em cada caso, Ele dá ao termo “céu” um sentido especial que não se revela, salvo àqueles iniciados nos mistérios divinos, àqueles que tenham sorvido do cálice da vida imortal. Diz Ele, por exemplo: “O céu tem sustento para vós e contém o que vos é prometido”, (50) embora seja a terra que dá tal sustento. De modo igual, se tem dito: “Os nomes descem do céu”; entretanto, procedem da boca dos homens. Se limpasses o espelho de teu coração, tirando-lhe o pó da malícia, compreenderias o sentido dos termos simbólicos revelados pelo Verbo de Deus, que a tudo abarca, tornado manifesto em cada Era, e descobririas os mistérios do conhecimento divino. Antes de consumires, no entanto, com a chama do desprendimento absoluto, aqueles véus de vã erudição usual entre os homens, não poderás contemplar o brilhante amanhecer do conhecimento verdadeiro.
Sabe tu que há, em verdade, duas espécies de Conhecimento: a divina e a satânica. Uma emana da fonte da inspiração divina; a outra é apenas o reflexo de pensamentos vãos e obscuros. A origem daquela é o próprio Deus; a força motriz desta são os sussurros do desejo egoístico. Uma é guiada pelo princípio de: “Temei a Deus; Deus ensinar-vos-á.” A outra nada mais é que a confirmação desta verdade: “A erudição é o mais lastimável véu entre o homem e seu Criador.” Aquela dá o fruto da paciência, do anelo, da verdadeira compreensão e do amor; enquanto esta nada pode produzir senão a arrogância, a vanglória e o orgulho. Nas palavras daqueles Mestres do santo Verbo, que têm esclarecido o significado do verdadeiro conhecimento, não se pode perceber, de modo algum, o odor destes ensinamentos obscuros que turvaram o mundo. A árvore de tais ensinamentos não dará outro resultado que a iniqüidade e a rebeldia, e nenhum fruto produzirá, a não ser o ódio e a inveja. Seu fruto é veneno mortal; sua sombra, um fogo voraz. Bem se há dito: “Apega-te ao manto do Desejo do teu coração, e põe de lado toda vergonha; manda que se afastem os versados nos conhecimentos do mundo, por grandes que sejam seus nomes.”
O coração, pois, deve ser purificado das vãs palavras dos homens e santificado de todo afeto terreno, a fim de que possa descobrir o sentido oculto da inspiração divina e se tornar o tesouro dos mistérios do conhecimento divino. Assim se tem dito: “Quem trilhar o Caminho níveo e seguir as pegadas do Pilar Carmesim, jamais alcançará a sua morada, a não ser que suas mãos se desapeguem daquelas coisas do mundo estimadas pelos homens.” É o primeiro requisito para quem quer que trilhe esse caminho. Pondera isso, pois, para que, com teus olhos desvendados, tu possas perceber a verdade destas palavras.
Fizemos uma digressão do propósito de Nosso argumento; no entanto, qualquer coisa que seja mencionada serve apenas para confirmar Nosso propósito. Por Deus, embora seja grande Nosso desejo de ser breve, sentimos, todavia, que não podemos restringir Nossa pena. A despeito de tudo o que já mencionamos, quão inúmeras são as pérolas que permanecem intactas na concha do Nosso coração! Quantas são as húris do sentido interior que ainda estão veladas dentro dos aposentos da sabedoria divina! Delas ninguém, ainda, se aproximou; - húris “que nem homem nem espírito até agora tem tocado.” (51) Apesar de tudo quanto se já disse, parece que nenhuma letra de Nosso intuito foi ainda pronunciada, nem sequer um sinal divulgado em relação a Nosso objeto. Quando será encontrado alguém que busque fielmente e consinta em vestir as roupagens de peregrino; que atinja o Ka´bih do desejo do coração e descubra, sem ouvido ou língua, os mistérios das palavras divinas?
Por estas explicações luminosas, concludentes e lúcidas, se tornou claro e evidente o sentido de “céu” no versículo já mencionado. E agora com referência a Suas palavras, que o Filho do homem “virá sobre as nuvens do céu”, o termo “nuvens” significa aquelas coisas que são contrárias aos métodos e aos desejos dos homens. Assim mesmo como Ele revelou no versículo já citado: “Todas às vezes que vem um Apóstolo trazendo-nos o que vossas almas não desejam, vós vos inchais de orgulho, acusando alguns de impostores e a outros matando.” (52) Essas “nuvens” significam, em um sentido, a anulação das leis, a revogação das Revelações anteriores e dos ritos e costumes correntes entre os homens, o enaltecimento dos iletrados fiéis acima dos eruditos que se opõem à Fé. Em outro sentido, referem-se ao aparecimento daquela Beleza Eterna na imagem do homem mortal, com tais limitações humanas como a necessidade de comer e beber, a pobreza e a riqueza, a glória e a humilhação, o dormir e o despertar e outras coisas semelhantes que criam dúvida na mente dos homens e causam seu afastamento. Todos esses véus são chamados, simbolicamente, “nuvens”.
Essas são as “nuvens” que fazem com que se rompam os céus do conhecimento e da compreensão de todos os que habitam a terra. Assim como Ele revelou: “Naquele dia o céu será rompido pelas nuvens.” (53) Do mesmo modo que as nuvens impedem os olhos dos homens de ver o sol, também essas coisas impedem suas almas de reconhecer a luz do Luminar Divino. A isso testifica o que procedeu da boca dos descrentes, segundo revela o Livro Sagrado: “E disseram: Que espécie de apóstolo é esse? Toma alimentos e anda nas ruas. A não ser que um anjo seja enviado e apóie Suas advertências, nós não acreditaremos.” (54) Outros Profetas, igualmente, têm estado sujeitos à pobreza e às aflições, à fome e aos males e vicissitudes deste mundo. Porque essas Pessoas santas estavam sujeitas a tais necessidades, o povo, em conseqüência disso, perdia-se nas solidões de desconfianças e dúvidas, aflito pela confusão e perplexidade. Como seria possível – queriam eles saber – uma pessoa ser enviada por Deus, declarar Sua ascendência sobre todos os povos e todas as raças da terra e se proclamar o objetivo de toda a criação – assim mesmo como Ele disse: “Se não fosses tu, Eu não teria criado todos os que estão no céu e na terra”, - e, apesar de tudo isso, ainda ficar sujeita a coisas tão triviais? Deveis ter sido informados, sem dúvida, das tribulações, da pobreza, das adversidades e da degradação que sobrevieram a todo Profeta de Deus e Seus companheiros. Deveis ter sabido como as cabeças de Seus discípulos foram enviadas de presente a várias cidades e como se os impediu, lastimavelmente, daquilo que lhes fora ordenado. Cada um deles caiu vítima nas mãos dos inimigos de Sua Causa, tendo que sofrer tudo o que estes decretassem.
Evidentemente, as modificações efetivadas em cada Era constituem as nuvens negras interpostas entre os olhos do entendimento do homem e o divino Luminar que se irradia da aurora da Essência Divina. Considerai como os homens, desde muitas gerações, imitam cegamente os pais, sendo ensinados de acordo com os costumes e normas que os ditames de sua Fé estabeleceram. Se esses homens, pois, descobrissem subitamente que um Homem que vivia entre eles e lhes era igual no que diz respeito a todas as limitações humanas, viera a levantar-se com o fito de abolir todos os princípios impostos pela sua Fé – princípios segundo os quais eles haviam sido educados desde séculos, tendo-se habituado a considerar como infiel, corrupto e perverso, qualquer um que os negasse ou lhes fizesse oposição – ficariam, certamente, velados e impedidos de reconhecer Sua verdade. Tais coisas são como “nuvens” que velam os olhos daqueles cujo ser interior não saboreou o Salsabil do desprendimento, nem bebeu do Kawthar do conhecimento de Deus. Esses homens, ao saberem dessas circunstâncias, ficam tão velados que, sem a menor dúvida, pronunciam o Manifestante de Deus um infiel e O sentenciam à morte. Deveis ter sabido como tais coisas aconteciam no decorrer dos séculos e agora, nestes dias, as estais observando.
Cumpre-nos, portanto, fazer o máximo esforço para que, graças ao invisível amparo de Deus, esses véus obscuros, essas nuvens que são provações mandadas pelo céu, não nos possam impedir de ver a beleza do Seu Semblante luminoso, e para que O possamos reconhecer somente por Ele Próprio. E se pedíssemos um testemunho de Sua verdade, nós nos deveríamos contentar com um, e um só; para que assim atingíssemos Àquele Que é a Fonte Primitiva da infinita graça, em Cuja Presença toda a abundância do mundo se esvaece, e deixássemos de cavilar d´Ele, todos os dias, e de nos apegar à nossa própria vã fantasia.
Deus bondoso! Não obstante a advertência pronunciada em tempos passados, expressa em linguagem maravilhosamente simbólica e em sutis alusões, com o intuito de despertar os povos do mundo e não os deixar se privarem de sua parte do oceano encapelado da graça divina, sucederam ainda tais coisas como já presenciamos! Também no Alcorão há referência a essas coisas, como se vê pelo seguinte versículo: “Que podem essas pessoas esperar senão que Deus desça para elas encoberto de nuvens?” (55) Alguns sacerdotes, que se prendem firmemente à letra da Palavra de Deus, vieram a considerar esse versículo como um dos sinais daquela esperada ressurreição oriunda de sua vã fantasia. E isso, apesar do fato de haverem sido feitas referências semelhantes na maioria dos Livros celestiais e inscritas em todas as passagens que tratam dos sinais do Manifestante vindouro.
Diz Ele também: “No dia em que o céu emitir uma fumaça palpável, a qual haverá de amortalhar a humanidade; isto será um tormento aflitivo.” (56) O Todo-Glorioso decretou estas coisas contrárias aos desejos dos homens perversos, exatamente para serem a pedra de toque, o padrão pelo qual Ele prova Seus servos, de modo que o justo se distinga do ímpio, e o fiel do infiel. O termo simbólico “fumaça” refere-se a graves dissensões, à revogação e ao desmoronamento dos padrões reconhecidos, com a destruição completa daqueles de mentalidade estreita que lhes são os expoentes. Que fumaça poderia ser mais densa e acabrunhadora do que aquela que atualmente amortalha todos os povos do mundo, tornando-se-lhes um suplício, e do qual eles nenhuma esperança têm de livrar-se, por mais que lutem? Tão feroz é esse fogo do eu, ardendo no seu íntimo, que, a cada momento, parecem ser atingidos por tormentos novos. Quanto mais se lhes diz que esta maravilhosa Causa de Deus, esta Revelação proveniente do Altíssimo, se tornou manifesta para toda a humanidade e dia a dia progride e se fortifica, mais se enfurece o ardor do fogo em seus corações. Quanto mais observam o poder indomável, a renúncia sublime, a constância inabalável dos santos companheiros de Deus, os quais, por Ele ajudados, se tornam cada vez mais nobres e gloriosos, tanto mais profunda é a consternação que lhes consome a alma. Nestes dias – louvado seja Deus – o poder de Sua Palavra adquiriu tal ascendência sobre os homens que não se atrevem a murmurar nem sequer uma palavra. Fossem eles encontrar um dos companheiros de Deus disposto a oferecer, se pudesse, dez mil vidas livre e alegremente, em holocausto pelo Amado, tão grande seria seu medo que logo professariam sua fé n´Ele, enquanto, porém, secretamente, Lhe vilipendiando e execrando o Nome! Assim mesmo como Ele revelou: “E quando vos encontram, dizem – Acreditamos – mas quando estão afastados, mordem de ira as pontas dos dedos. Dizei – Morri em vossa ira! (57) – Deus conhece, em verdade, os próprios recônditos de vossos corações.”
Dentro em breve teus olhos verão desdobrarem-se os estandartes do poder divino por todas as regiões e os sinais de Sua soberania e grandeza triunfantes manifestarem-se em todos os recantos da terra. Desde que a maioria dos sacerdotes não pode entender o sentido desses versículos, nem compreendeu o que significa o Dia da Ressurreição, eles, pois, interpretaram esses versículos insensatamente, de acordo com sua concepção vã e errada. Deus, Uno e Verdadeiro, é Minha Testemunha! Pouca percepção é necessária para que possam inferir, da linguagem simbólica desses dois versículos, tudo o que intentamos expor, e assim possam atingir, através da graça do Todo-Misericordioso, o resplandente amanhecer da certeza. Tais são os acordes da melodia celestial que a Ave imortal do Céu, chilreando no Sadrih de Bahá, faz manar sobre ti, a fim de que tu possas, pela permissão de Deus, trilhar o caminho da sabedoria e dos conhecimentos divinos.
E agora, com referência às Suas palavras: “E Ele enviará Seus anjos...” Por “anjos” se quer dizer aqueles que, reforçados pelo poder do espírito, consumiram todas as qualidades e limitações humanas com o fogo do amor de Deus, e se adornaram com os atributos dos Seres mais excelsos e dos Querubins. Aquele homem santo, Sádiq, (58) em seu elogio dos Querubins, diz: “Há uma companhia de nossos irmãos xiitas atrás do Trono.” Diversas e múltiplas sãos as interpretações das palavras “atrás do Trono.” Em um sentido, indicam que não existe nenhum xiita verdadeiro. Assim como ele diz em outra passagem: “Um verdadeiro crente assemelha-se à pedra filosofal.” Dirigindo-se em seguida ao ouvinte, pergunta: “Tu já viste a pedra filosofal?” Reflete como esta linguagem simbólica, mais eloqüente do que qualquer afirmação, por mais direta que seja, atesta a inexistência do verdadeiro crente. Tal é o testemunho de Sádiq. Que consideres agora como são injustos e como são numerosos, os homens que, mesmo não conseguindo aspirar a fragrância da fé, condenam como infiéis, no entanto, aqueles por cuja palavra é reconhecida e estabelecida a própria fé.
E agora, por haverem estes santos seres se purificado de todas as limitações humanas, se dotado dos atributos espirituais e se adornado com as nobres qualidades dos bem-aventurados, eles, pois, foram denominados “anjos”. Eis o que significam esses versículos, dos quais cada palavra tem sido explicada por meio dos mais lúcidos textos, dos mais convincentes argumentos e das provas com maior firmeza estabelecidas.
Como os seguidores de Jesus jamais compreenderam o sentido oculto dessas palavras, e como os sinais esperados por eles e pelos dirigentes de sua Fé não apareceram, eles, por isso, se recusaram a admitir – e ainda hoje se recusam – a verdade dos Manifestantes da Santidade que têm vindo desde os dias de Jesus. Assim se privaram das emanações da santa graça de Deus e das maravilhas de Suas palavras divinas. Tal é seu baixo grau neste Dia, o Dia da Ressurreição! Nem mesmo perceberam que, se os sinais do Manifestante de Deus em cada era aparecessem no reino visível de acordo com o texto das tradições estabelecidas, seria impossível que pessoa alguma o negasse ou d´Ele se afastasse, e assim o bem-aventurado não se distinguiria do desventurado, o transgressor do piedoso. Julgai imparcialmente: se as profecias registradas no Evangelho fossem cumpridas literalmente: se Jesus, Filho de Maria, acompanhado de anjos, descesse do céu visível sobre as nuvens, quem se atreveria a descrer, quem ousaria rejeitar a verdade e se tornar desdenhoso? Não, tamanha consternação logo se apoderaria de todos os que habitam a terra, que nenhuma alma se sentiria capaz de pronunciar uma palavra e, muito menos, de rejeitar ou aceitar a verdade. Foi por não haverem compreendido essas verdades, que muitos sacerdotes cristãos fizeram objeção a Maomé, expressando seu protesto em palavras como estas: “Se Tu és, em verdade, o Profeta prometido, por que, então não vens acompanhado daqueles anjos preditos pelos nossos Livros Sagrados, que devem descer com a prometida Beleza para Lhe ajudar em Sua Revelação e admoestar Seu povo?” Assim mesmo como o Todo-Glorioso registrou as palavras deles: “Por que não Lhe foi enviado um anjo, de modo a ser um admoestador com Ele?” (59)
Objeções e divergências como estas têm persistido em todas as eras e todos os séculos. Sempre os homens se ocupam com discursos ilusórios, protestando futilmente: “Por que não apareceu este ou aquele sinal?” E têm passado por tais vicissitudes somente porque se prenderam aos caminhos apontados pelos sacerdotes do tempo em que viviam e os imitavam cegamente na aceitação ou negação destas Essências dos Desprendimentos, destes Seres santos, divinos. Esses líderes, estando imergidos em desejos egoístas e preocupados com coisas efêmeras e sórdidas, têm considerado estes Luminares divinos como opostos aos padrões de seu conhecimento e sua compreensão e inimigos de seus juízos e normas. Por haverem interpretado literalmente a Palavra de Deus e as declarações e tradições das Letras da Unidade, e as explicado de acordo com sua própria compreensão deficiente, eles privaram-se a si mesmos e a todo o seu povo, dos abundantes favores e dádivas de Deus. E dão testemunho, no entanto, desta bem conhecida tradição: “Em verdade, Nossa Palavra é abstrusa, tão abstrusa que confunde.” Em outra instância se diz: “Nossa Causa traz severas provações e grande perplexidade; ninguém pode suportá-la exceto um favorecido do céu, ou um Profeta inspirado, ou aquele cuja fé Deus tenha provado.” Esses dirigentes religiosos admitem que nenhuma dessas três condições especificadas lhes é aplicável. As duas primeiras estão, evidentemente, além de seu alcance; quanto à terceira, é claro que jamais ficaram inabaláveis diante daquelas provações mandadas por Deus e que, ao aparecer a Pedra de Toque divina, demonstraram-se nada ser senão escória.
Grande Deus! Apesar de aceitarem a verdade desta tradição, esses sacerdotes que ainda discutem e têm dúvidas acerca das obscuras questões teológicas em sua Fé, pretendem, mesmo assim, ser os intérpretes das sutilezas da lei de Deus e dos mistérios essenciais de Sua Santa Palavras. Afirmam com toda confiança não terem ainda sido cumpridas as tradições relativas ao advento do esperado Qá´im. Eles mesmos não puderam aspirar a fragrância do significado dessas tradições, nem tampouco estão cientes do fato de que já se realizaram todos os sinais preditos e se revelou o caminho da santa Causa de Deus, onde mesmo agora já passa, tão veloz como o relâmpago, a assembléia dos fiéis, enquanto eles, estultos sacerdotes, ainda esperam presenciar os sinais preditos. Dize: “Ó vós, insensatos! Esperai, assim como esperam aqueles que vos antecederam!”
Se fossem interrogados a respeito dos sinais que deveriam necessariamente anunciar a revelação e o nascer do sol da Era Maometana, aos quais já nos referimos e dos quais nenhum se cumpriu literalmente, e se lhes fosse perguntado: “Por que rejeitastes as pretensões dos cristãos e dos povos de outras crenças e os considerais infiéis?”, eles, por não saberem que resposta dar, replicariam: “Esses Livros têm sido corrompidos e não são de Deus, nem o foram jamais.” Refleti: as palavras dos próprios versículos dão testemunho eloqüente do fato de serem de Deus. Um versículo semelhante foi revelado no Alcorão – fosseis vós daqueles que compreendem. Digo, em verdade, que durante todo esse período não conseguiram compreender, em absoluto, o que significa corromper o texto.
Sim, nos escritos e discursos dos Espelhos que refletem o Sol da Era Maometana, se tem mencionado a “Modificação pelos seres elevados”, e a “alteração pelos desdenhosos”. Tais passagens, porém, referem-se somente a casos especiais, encontrando-se entre estes a história de Ibn-i-Súríyá. Quando o povo de Khaybar perguntou à Fonte da Revelação Maometana acerca da pena estabelecida para adultério entre um homem casado e uma mulher casada, Maomé respondeu: “Segundo a lei de Deus, é morte por apedrejamento.” Então protestaram, dizendo: “Não foi revelada no Pentateuco tal lei.” Replicou então Maomé: “Quem entre vossos rabinos é considerado por vós uma autoridade reconhecida e possuidor de seguros conhecimentos da verdade?” Concordaram em designar Ibn-i-Súríyá. A este, pois, Maomé mandou chamar, e disse: “Adjuro-te por Deus – Aquele que para vós dividiu o mar, que fez o maná descer sobre vós e a nuvem vos abrigar em sua sombra, vos livrou de Faraó e seu povo e vos exaltou acima de todos os seres humanos – para que nos digas o que decretou Moisés acerca do adultério entre um homem casado e uma mulher casada.” Ele respondeu: “O Maomé! Morte por apedrejamento é a lei.” “Por que, então”, observou Maomé, “essa lei está anulada, não mais vigorando entre os judeus?” Disse ele em resposta: “Quando Nabucodonosor entregou Jerusalém às chamas e trucidou os judeus, sobreviveram muito poucos. Os sacerdotes daquele tempo, levando em conta o número extremamente limitado de judeus e a multidão de amalekitas, deliberaram e chegaram à conclusão de que, se executassem a lei do Pentateuco, todo sobrevivente que fora livrado da mão de Nabucodonosor, haveria de ser morto, segundo o veredicto do Livro. Em vista dessas considerações, revogaram totalmente a pena de morte.” Entrementes, Gabriel inspirou ao coração iluminado de Maomé estas palavras: “Eles pervertem o texto da Palavra de Deus.” (60)
Esse é um dos exemplos a que nos referimos. Em verdade, “perverter” o texto não significa o que aquelas pessoas néscias e desprezíveis imaginam, assim como alguns alegam haverem sacerdotes judaicos e cristãos apagado do Livro quaisquer versículos que exaltassem e elogiassem o semblante de Maomé, e inserido em seu lugar outros de sentido contrário. Quão completamente vãos e falsas são tais palavras! Pode um homem que acredita num livro e o considera inspirado por Deus, mutilá-lo? Além disso, o Pentateuco havia sido espalhado sobre a superfície de toda a terra e não se confinava à Meca e Medina de modo que lhes fosse permitido corromper e perverter seu texto secretamente. Ao contrário, corromper o texto significa aquilo em que todos os sacerdotes muçulmanos estão hoje ocupados, ou seja, na interpretação do Sagrado Livro de Deus de acordo com suas vãs imaginações e seus desejos fúteis. E uma vez que os judeus, no tempo de Maomé, interpretaram segundo sua própria fantasia os versículos do Pentateuco relativas à Sua Manifestação, não querendo se contentar com Suas santas palavras, pronunciou-se contra eles a acusação de “perverter” o texto. Do mesmo modo, hoje está claro que também o povo do Alcorão tem pervertido o texto do santo Livro de Deus, no tocante aos sinais do esperado Manifestante, interpretando-o de acordo com sua própria inclinação e seus próprios desejos.
Em ainda outra instância, Ele diz: “Uma parte deles ouviu a Palavra de Deus, e então, depois de havê-la compreendido, perverteu-a, sabendo o que fazia.” (61) Este versículo indica também que se perverteu o sentido da Palavra de Deus, e não que tivessem sido obliteradas as próprias palavras. Testificam desta verdade os de mente sã.
Em outra ocasião ainda, Ele diz: “Ai daqueles que com as próprias mãos transcrevem o Livro corruptamente e dizem então – Isto é de Deus – a fim de poderem vendê-lo por algum preço desprezível.” (62) Este versículo foi revelado com relação aos sacerdotes e expoentes da Fé Judaica. Esses sacerdotes, para agradar aos ricos, adquirir emolumentos materiais e se desafogar de sua inveja e falsa crença, escreveram vários tratados, nos quais refutaram as pretensões de Maomé, sustentando seus argumentos com evidências indignas de menção, alegando que esses argumentos foram tirados do texto do Pentateuco.
O mesmo se pode ver hoje. Considerai como são abundantes as denúncias escritas pelos insensatos sacerdotes da época atual contra esta admirável Causa! Como inutilmente fantasiam que essas calúnias estejam de acordo com os versículos do Sagrado Livro de Deus e em harmonia com as palavras dos homens do discernimento.
Nosso propósito em relatar essas coisas é advertir-vos de que, se eles alegassem haverem sido pervertidos aqueles versículos que mencionam os sinais aos quais o Evangelho se refere, se os rejeitassem e se apegassem a outros versículos e tradições em seu lugar, deveríeis saber serem absolutamente falsas suas palavras, - serem pura calúnia. Sim, tem havido, realmente, “corrupção” do texto, no sentido que Nós mencionamos, em casos especiais. A alguns destes já nos referimos, a fim de tornar manifesto – a quem observar com discernimento – que alguns poucos Homens santos, embora nunca instruídos, têm sido dotados de todos os conhecimentos humanos, para que assim o malévolo opositor cesse de sustentar ser corrupção do texto indicada por certo versículo e deixe de insinuar havermos Nós mencionado tais coisas só por falta de conhecimentos. Além disso, a maior parte dos versículos que indicam “corrupção” do texto foi revelada com referência ao povo judaico – fosseis vós explorar as ilhas da Revelação alcoranista.
Temos ouvido também numerosas pessoas insensatas na terra asseverarem que o genuíno texto do Evangelho celestial não existe entre os cristãos, havendo subido para o céu. Que erro lastimável! Como são inconscientes do fato de que tal asseveração imputa a maior injustiça e tirania a uma Providência clemente e benévola! Como poderia Deus – uma vez que o Sol da beleza de Jesus havia desaparecido da vista do Seu povo e ascendido para o quarto céu – fazer desaparecer também Seu Livro Sagrado, Seu maior testemunho entre Suas criaturas? Que restaria como esteio desse povo depois do ocaso do Sol de Jesus até o nascer do Sol da Era Maometana? Que lei seria seu apoio e guia? Como se poderia fazer esse povo vítima da ira vingativa de Deus, o Vingador onipotente? Como poderia o Rei celestial afligi-lo com o açoite da punição? E, acima de tudo, como seria possível fazer para o fluxo da graça do Todo-Generoso, e aquietar o oceano da Sua terna compaixão? Refugiamo-nos em Deus, para que nos proteja daquilo que Suas criaturas sobre Ele têm imaginado! Excelso é Ele acima da compreensão que elas possuem!
Estimado amigo! Agora, ao romper da luz da eterna Manhã de Deus, quando o esplendor de Suas santas palavras: “Deus é a luz dos céus e da terra” (63) está iluminando toda a humanidade; quando Sua sagrada declaração: “Deus quis aperfeiçoar Sua luz” (64) proclama inviolável Seu tabernáculo; e quando a Mão da Onipotência, dando testemunho de que: “Em Suas Mãos Ele segura o reino de todas as coisas” se estende a todos os povos e raças da terra, cumpre-nos fazer o máximo esforço para que, porventura, através da graça e bondade de Deus, possamos entrar na Cidade celestial de “Em verdade, somos de Deus” e permanecer na excelsa morada de: “E a Ele regressamos”. Incumbe-te, pela permissão de Deus, purificar das coisas do mundo a vista do teu coração, de modo a poderes compreender a infinitude do conhecimento divino e discernir a Verdade tão claramente que não precisarás de prova para demonstrar Sua realidade, nem de evidência alguma para corroborar Seu testemunho.
Ó tu que buscas com afeto! Se voasses no santo domínio do espírito, haverias de reconhecer Deus manifesto e elevado acima de todas as coisas, de tal modo que pelos teus olhos ninguém seria visto senão Ele. “Deus estava só; não havia outro além d´Ele.” Tão elevado é esse grau, que testemunho algum o pode confirmar, nem qualquer evidência fazer jus à sua verdade. Se explorasses o sagrado domínio da verdade, descobririas que todas as coisas se conhecem somente à luz do Seu reconhecimento; saberias que Ele sempre foi – e para sempre continuará a ser – conhecido através de Si próprio. E se habitas na terra do testemunho, contenta-te com aquilo que Ele mesmo revelou: “Não lhes basta havermos feito descer a Ti, o Livro?” (65) É este o testemunho que Ele próprio ordenou; maior prova que esta não há, nem haverá jamais: “Esta prova é Sua Palavra; Seu próprio Ser, o testemunho de Sua verdade.”
E agora pedimos ao povo do Bayán, a todos os eruditos, sábios, sacerdotes e testemunhas entre eles, que não se esqueçam dos desejos e admoestações revelados em seu Livro. Que eles, em todos os tempos, fixem o olhar nas coisas essenciais de Sua Causa, para evitar que – quando se manifestar Aquele que é a Quinta-essência da verdade, a Realidade mais íntima de todas as coisas e a Fonte de toda a luz – eles se prendam a certas passagens do Livro e Lhe inflijam o que se infligiu na Era do Alcorão. Pois, em verdade, poderoso é Ele, Rei de onipotência divina, para extinguir com apenas uma letra de Suas palavras maravilhosas, o alento da vida em todo o Bayán e seu povo e, com apenas uma letra, conceder-lhe uma vida nova e sempiterna e fazê-lo apressar-se para sair dos sepulcros dos seus desejos vãos e egoístas. Sede atentos e vigilantes; e lembrai-vos de que todas as coisa atingem sua consumação ao crerem n´Ele, ao alcançarem Seu dia e elevarem-se à Sua Divina Presença. “Não há piedade em voltardes vossa face para o este ou para o oeste; piedoso, sim, é aquele que crê em Deus e no Último Dia.” (66) Daí ouvidos, ó povos do Bayán, à verdade a que Nós vos admoestamos, para que vos possais abrigar, porventura, à sombra que se estende sobre toda a humanidade no Dia de Deus.
Veramente, Aquele Que é o Sol da Verdade e o Revelador do Ser Supremo, possui inquestionável soberania, em todos os tempos, sobre tudo o que está no céu e sobre a terra, embora se não encontre na terra homem algum que Lhe obedeça. Ele, em verdade, é independente de todo o domínio terreno, ainda que esteja desprovido de tudo. Assim Nós te revelamos os mistérios da Causa de Deus e te conferimos as jóias da sabedoria divina, a fim de poderes voar, porventura, com as asas da renúncia, para aquelas alturas veladas aos olhos dos homens.
A significação e o propósito essencial implícito nessas palavras consistem em revelar e demonstrar, aos puros de coração e santificados de espírito, que Aqueles que são os Luminares da verdade e os Espelhos que refletem a luz da Divina Unidade – em qualquer época ou ciclo em que sejam enviados de suas moradas invisíveis de glória antiga e desçam para este mundo, a fim de educar as almas dos homens e conceder graça a todas as coisas criadas – são dotados, invariavelmente, de predominante poder e investidos de uma soberania invencível. Pois essas Jóias ocultas, esses Tesouros invisíveis, em si mesmos, manifestam e sustentam a realidade destas santas palavras: “Em verdade, Deus faz qualquer coisa que queira e ordena o que Lhe apraz.”
É evidente a todo coração iluminado e possuidor de discernimento, que Deus, a Essência incognoscível, o Ser Divino, é imensamente elevado além de todos os atributos humanos, tais como existência corpórea, ascensão e descida, saída e regresso. Longe esteja de Sua glória que a língua humana celebre adequadamente Seu louvor, ou o coração humano compreenda Seu insondável mistério. Ele está, e sempre esteve, velado na eternidade antiga de Sua Essência, e permanecerá em Sua Realidade, para todo o sempre, escondido da vista dos homens. “Nenhuma visão O abrange, mas Ele abrange toda a visão; Ele é o Sutil, Aquele que a tudo percebe.” (1) Nenhum laço de relação direta pode, em absoluto, ligá-Lo às Suas criaturas. Ele se mantém elevado além e acima de toda separação e união, toda proximidade e todo afastamento. Nenhum sinal pode indicar Sua presença ou Sua ausência; já que foi por uma palavra de Seu mando que todos no céu e na terra vieram a existir, e pelo Seu desejo – o qual é a própria Vontade Primaz – que todos emergiram do nada absoluto e entraram no reino da existência, no mundo das coisas visíveis.
Deus bondoso! Como poderia se conceber uma relação ou conexão existente entre Sua Palavra e aqueles que foram por ela criados? O versículo: “Deus adverte que vos acauteleis d´Ele Mesmo” (2) dá evidência inequívoca da realidade de Nosso argumento, e as palavras: “Deus estava só; ninguém havia além d´Ele” são um testemunho seguro de sua verdade. Todos os Profetas de Deus e Seus Eleitos, todos os sacerdotes, eruditos e sábios de toda geração reconhecem unanimemente sua própria incapacidade de atingir à compreensão daquela Quinta-Essência de toda a verdade, e se confessam impotentes para abranger Aquele que é a mais íntima Realidade de todas as coisas.
Estando a porta do conhecimento do Ancião dos Dias assim fechada ante a face de todos os seres, determinou Aquele Que é a Fonte da graça infinita – segundo Suas palavras: “Sua graça transcendeu todas as coisas; Minha graça abarcou a todos” – que aparecessem do reino do espírito, aquelas luminosas Jóias da Santidade na nobre forma do templo humano, manifestando-se a todos os homens, para que dessem ao mundo o conhecimento dos mistérios do Ser imutável e relatassem as sutilezas de Sua Essência imperecedoura. Esses Espelhos santificados, essas Auroras da glória antiga, são – cada um e todos – os Expoentes na terra d´Aquele Que é o Orbe central do universo, sua Essência e seu Propósito final. D´Ele recebem o conhecimento e o poder; d´Ele derivam a soberania. A formosura que lhes adorna o semblante é apenas um reflexo de Sua imagem e o que revelam, um sinal de Sua glória imorredoura. São os Tesouros do conhecimento divino e os Repositórios da sabedoria celestial. Por eles é transmitida uma graça que é infinita, e revelada a luz que jamais se esvairá. Assim mesmo como Ele disse: “Não há distinção alguma entre Ti e Eles, exceto que Eles são Teus servos e criados por Ti.” Eis o que significa a tradição: “Eu sou Ele, Ele mesmo, e Ele Eu, Eu mesmo.”
Diversas e numerosas são as tradições e as asserções que se referem diretamente ao Nosso tema; deixamos de citá-las por motivo de brevidade. Ainda mais, qualquer coisa que esteja nos céus e qualquer coisa que esteja sobre a terra, é evidência direta da revelação, no seu imo, dos atributos e nomes de Deus, já que dentro de cada átomo estão encerrados os sinais que dão eloqüente testemunho da revelação daquela mais grandiosa Luz. Se não fosse a potência dessa revelação, jamais poderia existir, parece-me, ser algum. Como são resplandecentes os luminares de conhecimento que brilham num átomo e vastos os oceanos de sabedoria que se encapelam dentro de uma gota! Em grau supremo é isso verdade no caso do homem, pois ele dentre todas as coisas criadas, foi adornado com as vestes desses dons e só a ele se concedeu a glória de tal distinção. Todos os atributos e nomes de Deus nele se revelam, potencialmente, num grau mais excedido por qualquer outro ser criado. Todos esses nomes e atributos lhe são aplicáveis. Assim mesmo como Ele disse: “O homem é Meu mistério, e Eu sou seu mistério.” Numerosos e variados são os versículos revelados, repetidamente, em todos os Livros celestiais e nas Sagradas Escrituras, que tratam desse tema, o mais sutil e elevado. Assim mesmo como Ele revelou: “Nós seguramente mostrar-lhes-emos os Nossos sinais no mundo e dentro deles mesmos.” (3) E diz Ele ainda: “E também dentro de vós mesmos: não quereis então ver os sinais de Deus?” (4) E ainda outra vez Ele revela: “E não sejais semelhantes àqueles que se esquecem de Deus e a quem Ele, por isso, fez esquecerem-se de si mesmos.” (5) Com referência a isso, Aquele que é o Rei eterno – que as almas de todos os que habitam no Tabernáculo místico Lhe sejam oferecidas em holocausto – disse: “Quem tiver conhecido a si próprio, terá conhecido a Deus.”
Deus é Minha testemunha, ó estimado e honrado amigo! Se ponderasses no coração estas palavras, haverias certamente de encontrar as portas da sabedoria divina e do infinito conhecimento abertas de par em par, ante a tua face.
Do que se tem dito, torna-se claro que todas as coisas, em sua mais íntima realidade, evidenciam a revelação dos nomes e atributos de Deus dentro de si mesmas. Cada uma, de acordo com sua capacidade, indica e expressa o conhecimento de Deus. Esta revelação é tão potente e tão universal que abrangeu todas as coisas, visíveis e invisíveis. Assim Ele revelou: “Possui alguma coisa além de Ti um poder de revelação por Ti não possuído, de modo que ela Te possa ter manifestado? Cegos são os olhos que não Te percebem.” De igual modo falou o Rei eterno: “Nenhuma coisa tenho percebido, sem que eu percebesse Deus dentro dela, Deus antes dela, ou Deus depois dela.” Também na tradição de Kumayl está escrito: “Eis aí, resplandeceu uma luz na Manhã da eternidade, e ei-la! suas ondas penetraram a mais íntima realidade de todos os homens.” O homem – de todas as coisas criadas, a mais nobre e perfeita – excede a todas na intensidade desta revelação e é uma expressão mais completa de sua glória. E dentre todos os homens, os mais perfeitos, os que mais se distinguem, os excelsos, são os Manifestantes do Sol da Verdade. Ainda mais, todos os outros, além dos Manifestantes, vivem pela operação da Vontade deles, existem e movem-se através das emanações de sua graça. “Se não fosses Tu, Eu não teria criado os céus.” Mais que isto, todos em sua santa presença se esvaem, se tornam simplesmente nada, uma coisa esquecida. Língua humana jamais poderá cantar, de um modo digno, os seus louvores, nem as palavras humanas terão o poder de desvendar seu mistério. Estes Tabernáculos de santidade, estes Espelhos primazes que refletem a luz da glória perene, são apenas expressões d´Aquele que é o Invisível dos Invisíveis. Pela revelação destas Jóias de virtude divina, manifestam-se todos os nomes e atributos de Deus, tais como poder e conhecimento, majestade e domínio, misericórdia e sabedoria, glória, generosidade e clemência.
Estes atributos de Deus não são e nunca foram concedidos especialmente a certos Profetas e negados a outros. Não, todos os Profetas de Deus, Seus favorecidos, santos e escolhidos Mensageiros, são, sem exceção, os portadores de Seus nomes e incorporam Seus atributos. Diferem somente na intensidade de suas revelações, na potência comparativa de sua luz. Assim mesmo como Ele revelou: “A alguns dos Apóstolos Nós fizemos exceder a outros.” (6) Está, pois, claro e evidente que, dentro dos tabernáculos destes Profetas e Eleitos de Deus se reflete a luz dos Seus nomes infinitos e atributos excelsos, ainda que a luz de alguns destes atributos talvez não seja revelada por estes Templos luminosos, exteriormente, aos olhos dos homens. Por não haverem estas Essências do Desprendimento manifestado, aparentemente, certo atributo de Deus, não se deve inferir, em absoluto, que estas Auroras de Seus atributos, os Tesouros de Seus santos nomes, realmente não o tivessem possuído. Assim, pois, todas estas Almas iluminadas, estes belos Semblantes, foram dotados de todos os atributos de Deus, tais como a soberania, o domínio, e outros semelhantes, embora fossem, aparentemente, privados de toda majestade terrena. Aos olhos que discernem, isto é evidente e manifesto; não exige argumento ou prova.
Sim, já que os povos do mundo não se dirigiram às Fontes luminosas, cristalinas, do conhecimento divino, em busca do sentido interior das santas palavras de Deus, por isso languesceram, aflitos e sequiosos no vale da vã fantasia e da desobediência. Desviaram-se muito das águas frescas que aliviam a sede e juntaram-se ao redor do sal que arde amargamente. Referindo-se a eles, disse o Pombo da Eternidade: “E se virem o caminho da retidão, não o tomarão para seu caminho; mas se virem o caminho do erro, para si o tomarão. E isso porque consideraram mentiras os Nossos sinais e os desprezaram.” (7)
Isso é testificado por aquilo que se já viu nesta Era maravilhosa e sublime. Miríades de sagrados versículos desceram do céu do poder e da graça, mas ninguém para eles se voltou, tampouco pessoa alguma deixou de se prender àquelas palavras dos homens, das quais nenhuma letra é compreendida por aqueles que as pronunciaram. Por esta razão tem o povo duvidado das verdades incontestáveis, tais como estas, e se privado do Ridván do conhecimento divino e dos prados eternos da sabedoria celestial.
E agora, voltando a Nosso argumento relativo à seguinte pergunta: Como é que a soberania do Qá´im, afirmada no texto das tradições registradas e transmitida pelas estrelas brilhantes da Era Maometana, nem no mínimo grau, se manifestou? De fato, sucedeu o contrário. Não foram Seus discípulos e companheiros afligidos pelos homens? Não são eles ainda as vítimas da violenta oposição de seus inimigos? Não levam hoje a vida de mortais rebaixados e sem poder? Sim, a soberania atribuída ao Qá´im e mencionada nas Escrituras, é um fato, a verdade do qual ninguém pode duvidar. Essa soberania, porém, não é aquela que as mentes dos homens têm, falsamente, imaginado. Além disso, os Profetas da antiguidade – todos sem exceção – sempre que anunciavam ao povo de seu tempo o advento da Revelação vindoura, referiam-se invariável e especificamente àquela soberania da qual o prometido Manifestante haveria de ser investido. As Escrituras do passado atestam isso. Essa soberania não foi atribuída única e exclusivamente ao Qá´im. Não, o atributo da soberania e todos os outros nomes e qualidades de Deus sempre foram e serão concedidos a todos os Seus Manifestantes, antes d´Ele, e também depois, visto que estes Manifestantes, como já foi explicado, incorporam os atributos de Deus, o Invisível, e são os Reveladores dos mistérios divinos.
Além disso, por soberania se entende o poder que a tudo abarca, a tudo penetra, e que é exercido inerentemente pelo Qá´im, quer apareça ao mundo ou não, adornado com a majestade do domínio terreno. Depende isso, tão somente, da vontade e do beneplácito do próprio Qá´im. Reconhecereis prontamente que os termos soberania, riqueza, vida, morte, juízo e ressurreição, mencionados nas Escrituras do passado, não são o que essa geração concede e futilmente imagina. Não, por soberania se quer dizer aquela soberania que em cada era reside dentro da pessoa do Manifestante – o Sol da Verdade – e é por Ele exercida. Tal soberania é a ascendência espiritual que Ele exerce no máximo grau, sobre tudo o que está no céu e na terra, soberania essa que, no devido tempo, se revela ao mundo em proporção direta à sua capacidade e receptividade espiritual, assim como a soberania de Maomé, o Mensageiro de Deus, está hoje evidente e manifesta entre o povo. Bem sabeis o que aconteceu à Sua Fé nos primeiros dias de Sua Era. Que sofrimentos lastimáveis infligiu a mão dos infiéis e errados – os sacerdotes daquela era e seus seguidores – àquela Essência espiritual, àquele puríssimo e santo Ser! Quão abundantes os espinhos que Lhe espargiram no caminho! Evidentemente, aquela geração vil, em sua fantasia perversa e satânica, pensava que toda ofensa àquele Ser imortal fosse um meio de atingir uma felicidade imperecível; desde que os reconhecidos sacerdotes daquela era, tais como ´Abdu´lláh-i-Ubayy, Abú´Ámir, o eremita, Ka´b-Ibn-i-Ashraf, e Nadr-Ibn-i-Hárith, todos, O trataram como impostor e O pronunciaram um lunático e caluniador. Fizeram contra Ele tão penosas acusações que, ao querermos relatá-las, Deus proíbe que a tinta corra, que Nossa pena se mova, ou a página as suporte. Essas imputações maliciosas provocaram o povo a levantar-se e atormentá-Lo. E quão feroz é esse tormento quando os sacerdotes do tempo são os instigadores principais, quando estes O denunciam a seus adeptos, O expulsam do seu meio e O declaram um ímpio! Não sucedeu o mesmo a este Servo, e não foi testemunhado por todos?
Por esta razão Maomé exclamou: “Nenhum Profeta de Deus sofreu tanta injúria quanto Eu tenho sofrido.” E no Alcorão estão registradas todas as calúnias e repreensões pronunciadas contra Ele, como também todas as aflições que sofreu. Procurai este Livro, a fim de que possais, talvez, vos informar daquilo que aconteceu à Sua Revelação. Tão aflitiva era Sua situação que, por algum tempo, todos deixaram de ter contato com Ele e Seus companheiros. Qualquer um que a Ele se associasse caía vítima da implacável crueldade de Seus inimigos.
Sobre esse ponto citaremos apenas um versículo daquele Livro. Se o observares com olhos discernentes, lamentarás e deplorarás, durante todos os dias restantes de tua vida, a injúria a Maomé, àquele tão ultrajado e oprimido Mensageiro de Deus. Revelou-se esse versículo num tempo em que Maomé languescia, fatigado e aflito sob o peso da oposição e do tormento incessante por parte do povo. Em meio à Sua angústia, a Voz de Gabriel, chamando do Sadratu´l-Muntahá, fez-se ouvir, dizendo: “Mas se sua oposição Te for penosa – se puderes, busca uma abertura para dentro da terra, ou uma escada para o céu.” (8) Estas palavras significaram que Seu caso não tinha remédio, que d´Ele o povo não haveria de deter as mãos, a não ser que Ele se escondesse nas profundezas da terra ou alçasse vôo para o céu.
Considera tu, como é grande a transformação, hoje! Vê quantos soberanos se ajoelham ante Seu Nome! Quão numerosos os povos e reinos que têm buscado abrigo à Sua sombra, que prestam lealdade à Sua Fé, e disso se orgulham! Do alto do púlpito ascendem hoje as palavras de louvor que, em completa humildade, glorificam Seu Nome abençoado; e das alturas dos minaretes ressoa o chamado que convoca a assembléia de Seu povo a adorá-Lo. Até aqueles reis da terra que recusaram abraçar Sua Fé e tirar as vestes da descrença, confessam, no entanto, e reconhecem a grandeza e a inexcedível majestade daquele Sol de benevolência. Tal é Sua soberania terrena, da qual tu vês, de todos os lados, as evidências. Essa soberania há forçosamente de ser revelada e estabelecida, quer seja durante a vida de cada Manifestante de Deus, quer depois de haver Ele ascendido à Sua verdadeira morada nos domínios do além. O que hoje vês é apenas uma confirmação desta verdade. A ascendência espiritual, porém, à qual se queria referir, primeiramente, reside dentro d´Eles e a Seu redor se move, de eternidade à eternidade. D´Eles nem por um momento sequer, pode ser divorciada. Seu domínio abrange tudo o que está no céu e na terra.
O seguinte comprova a soberania exercida por Maomé, o Sol da Verdade. Não ouviste dizer que Ele, com um simples versículo, separou a luz da escuridão, os retos dos ímpios, e os fiéis dos infiéis? Todos os sinais e alusões no tocante ao Dia do Juízo, os quais já ouviste, tais como a ressurreição dos mortos, o Dia do Julgamento, o Juízo Final e outros, tornaram-se manifestos, ao ser revelado esse versículo. Essas palavras reveladas foram uma bênção para os justos, que, ao ouvi-las, exclamaram: “Ó Deus, nosso Senhor, ouvimos e obedecemos.” Foram uma maldição para o povo da iniqüidade, o qual, ao ouvi-las, afirmou: “Ouvimos e nos rebelamos.” Essas palavras, aguçadas como a espada de Deus, separaram os fiéis dos infiéis, e apartaram do pai o filho. Já viste, seguramente, como aqueles que n´Ele confessaram sua fé e aqueles que O rejeitaram, guerrearam entre si e ambicionaram a propriedade uns dos outros. Quantos pais se alienaram dos filhos; quantos que amavam abandonaram o objeto de seu amor! Tão implacavelmente cortante foi essa maravilhosa espada de Deus, que rompeu todo laço! Por outro lado, que consideres o poder de unir que Sua Palavra exerce. Observa como aqueles em cujo meio o satã do ego desde anos lançara as sementes da malícia e do ódio, atingiram tal harmonia e união, através de sua lealdade a essa maravilhosa Revelação, que pareciam haver nascido do mesmo ventre. Tal é a força unificadora da Palavra de Deus, que liga os corações daqueles que renunciaram tudo, salvo a Ele, acreditaram em Seus sinais e beberam do Kawthar da santa graça de Deus, oferecido pela Mão da glória. Além disso, como são numerosos aqueles povos, de crenças diversas, de credos contraditórios e temperamentos opostos, que, através da fragrância ressuscitadora da Primavera Divina, emanada do Ridván de Deus, se adornaram com as novas vestes da Unidade divina e sorveram do cálix de Sua unicidade!
Isso é o que significam as conhecidas palavras: “O lobo e o carneiro pastarão juntos.” (9) Vede a ignorância e a insensatez daqueles que, semelhantes às nações antigas, esperam ainda ver o tempo em que esses animais se apascentem na mesma pastagem! Tão obscurecido é seu estado. Nunca, parece-me, seus lábios tocaram o cálice da compreensão, nem seus pés trilharam o caminho da justiça. Além disso, de que proveito seria ao mundo, se sucedesse tal coisa? Bem disse Ele a seu respeito: “Corações eles os têm, com os quais não compreendem, e olhos, com os quais não vêem!” (10)
Considerai: só com este versículo que emanou do céu da Vontade de Deus, o mundo e tudo o que nele existe foi chamado para Lhe prestar contas. De todo aquele que confessou Sua verdade e para Ele se volveu, as boas ações foram consideradas como excedentes às más e todos os pecados lhe foram remidos e perdoados. Assim se torna manifesta a verdade destas palavras a Ele referentes: “Veloz é Ele em julgar.” Assim Deus transforma a iniqüidade em retidão – fosseis vós explorar os reinos do conhecimento divino e sondar os mistérios de Sua sabedoria. Semelhantemente, qualquer um que participasse do cálix do amor, obteve seu quinhão do oceano da graça eterna na vida de fé – vida celestial e sempiterna. Quem rejeitou esse cálix, porém, foi condenado à morte eterna. Pelos termos “vida” e “morte” mencionados nas Escrituras, entende-se a vida de fé e a morte que é a descrença. O povo em geral, não podendo compreender o sentido destas palavras, rejeitou e desprezou a pessoa do Manifestante, privando-se da luz de Sua orientação divina e recusando seguir o exemplo daquela Beleza imortal.
Quando a luz da Revelação Alcoranista se acendeu no recesso do santo coração de Maomé, Ele pronunciou sobre o povo a sentença do Último Dia, a sentença da ressurreição, do juízo, da vida e da morte. Com isso se levantaram os estandartes da revolta e as portas do escárneo abriram-se. Assim Ele, o Espírito de Deus, registrou as palavras dos infiéis: “E se disseres: - Após a morte vós, seguramente, sereis ressuscitados -, os infiéis por certo exclamarão: - Isso nada mais é que magia manifesta. –“ (11) Diz Ele outra vez: “Se tu alguma vez admirares, admiráveis são, de certo, as palavras deles: - Como! Depois de sermos reduzidos a pó, seremos restaurados em uma nova criação? –“ (12) Assim exclama Ele, com ira, em outra passagem: “Estamos Nós fatigados com a primeira criação? Eles, no entanto, têm dúvida sobre uma criação nova!” (13)
Por haverem os comentadores do Alcorão e aqueles que o seguem à letra, interpretado erradamente o sentido interior das palavras de Deus, e por não terem podido perceber seu propósito essencial, tentaram demonstrar que, segundo as regras gramaticais, quando o termo “idhá” (que significa “se” ou “quando”) precede o tempo passado, se refere invariavelmente ao futuro. Mais tarde ficaram seriamente embaraçados ao tentarem explicar aqueles versículos do Livro em que esse termo não aparece. Assim mesmo como Ele revelou: “E houve um som de trombeta – Oh! É o Dia que ameaçava nos sobrevir! E cada alma é chamada para o julgamento – e com ela um impulsor e uma testemunha.” (14) Ao explicarem este versículo e outros semelhantes, sustentaram em alguns casos que se devia inferir o termo “idhá”. Em outros casos, eles argüiram futilmente que, por ser inevitável o Dia do Juízo, se referia a ele como sendo um acontecimento passado em vez de futuro. Que vãos seus sofismas! E lastimável sua cegueira! Recusam-se a reconhecer o som de trombeta que se fez ouvir tão explicitamente nesse texto, através da revelação de Maomé. Privam-se do Divino Espírito regenerador que nele soprou e estultamente esperam ouvir o som de trombeta do Serafim de Deus, daquele que é apenas um de Seus servos! Pelas próprias palavras de Maomé, não foi ordenado mesmo ao Serafim, o anjo do Dia do Juízo, bem como aos outros que lhe eram semelhantes? Dize: Como! Quereis dar aquilo que é para vosso bem em troca daquilo que é mau? Desprezível é aquilo que vós falsamente trocastes! Certamente, sois um povo mau, que sofreu uma perda lastimável.
Não, “trombeta” significa o toque de trombeta que foi a Revelação de Maomé, soando no coração do universo, e a “ressurreição” quer dizer Seu próprio aparecimento com o fim de proclamar a Causa de Deus. Ele ordenou aos iníquos e refratários que se levantassem e se apressassem para sair dos sepulcros que eram seus corpos; Ele os adornou com as belas vestes da fé e os ressuscitou com o alento de uma vida nova e maravilhosa. Assim na hora em que Maomé, aquele Ser de beleza divina, intentou desvendar um dos mistérios ocultos nos termos simbólicos “ressurreição”, “juízo”, “paraíso” e “inferno”, ouviu-se Gabriel, a Voz da Inspiração, dizer: “Breve sacudirão eles as cabeças perante Ti, dizendo: - Quando será isso? – Dize: - Talvez esteja próximo. –“ (15) As inferências a serem tiradas só deste versículo seriam suficientes para os povos do mundo, se o ponderassem nos corações.
Deus bondoso! Quanto esse povo se desviou do caminho de Deus! Embora o Dia da Ressurreição tivesse amanhecido através da Revelação de Maomé e Sua luz e Seus sinais tivessem cingido a terra e tudo o que nela está, esse povo, não obstante, d´Ele zombou, submeteu-se àqueles ídolos que os sacerdotes do tempo, em sua vã e fútil fantasia, haviam concebido, e se privou da luz da graça celestial e dos copiosos favores divinos. Sim, o besouro vil nunca poderá perceber a fragrância da santidade, nem o morcego das trevas encarar jamais o esplendor do sol.
Tais coisas têm sucedido nos dias de cada um dos Manifestantes de Deus. Assim como disse Jesus: “Importa-vos nascer outra vez.” (16) E ainda: “Quem não renascer da água e do Espírito Santo, não poderá entrar no Reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito.” (16-A) O intuito destas palavras é que, em cada era, quem nasce do Espírito e se vivifica pelo alento do Manifestante da Santidade, é, em verdade, dos que atingiram a “vida” e a “ressurreição”, e entraram no “paraíso” do amor de Deus. E quem quer que não seja desses, é condenado à “morte” e “privação”, ao “fogo” da descrença e à “ira” de Deus. Em todos os livros, em todas as Escrituras e crônicas, a sentença de morte, de fogo, de cegueira, de falta de compreensão e de surdez, foi pronunciada contra aqueles cujos lábios não provaram a taça etérea do verdadeiro conhecimento e cujos corações foram privados da graça do Espírito Santo em seu tempo. Assim mesmo como foi anteriormente registrado: “Corações eles os têm, com os quais não compreendem.” (16-B)
Em outra passagem do Evangelho está escrito: “E aconteceu que, certo dia, morrera o pai de um dos discípulos de Jesus. Esse discípulo, relatando a Jesus a morte do pai, pediu que lhe fosse permitido ir enterrá-lo. Com isso respondeu Jesus, aquela Essência do Desprendimento, dizendo: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos.” (16-C)
De modo semelhante, foram a ´Alí, Comandante dos Fiéis, dois homens de Kúfih. Um possuía uma casa e desejava vendê-la; o outro seria o comprador. Haviam combinado que se realizasse a transação e escrevesse o contrato com o conhecimento de ´Alí. Este, o expoente da lei de Deus, dirigindo-se ao escrivão, disse: “Escreve: - Um morto comprou de outro morto uma casa. Essa casa está demarcada por quatro limites. Um se estende em direção ao túmulo, outro para o arco do sepulcro, o terceiro para o Sirát, e o quarto limite, ou para o Paraíso, ou para o inferno. –“ Reflete: se essas duas almas tivessem sido ressuscitadas pelo toque de trombeta de ´Alí, e, através do poder de Seu amor se tivessem levantado do sepulcro do erro, não se haveria pronunciado contra elas, certamente, a sentença de morte.
Em cada era e século, os Profetas de Deus e Seus eleitos não tiveram outro objetivo senão o de afirmar o sentido espiritual dos termos “vida”, “ressurreição” e “juízo”. Se se ponderar no coração, apenas por pouco tempo, essa afirmação de ´Alí, se haverá, seguramente, de descobrir todos os mistérios ocultos nos termos “túmulo”, “sepulcro”, “sirát”, “paraíso”, e “inferno”. Mas oh! que estranho e lastimável! Vê, todo o povo está aprisionado dentro do túmulo do ego e jaz enterrado nas ínfimas profundezas do desejo mundano! Fosse tu atingir uma simples gota de orvalho das águas cristalinas do conhecimento divino, haverias de compreender, prontamente, que a vida verdadeira não é a vida da carne, mas sim, a do espírito. Pois a vida da carne é comum aos homens e animais, enquanto que a do espírito é possuída somente pelos puros de coração, por aqueles que sorveram do oceano da fé e participaram do fruto da certeza. Essa vida não conhece morte alguma; essa existência é coroada pela imortalidade. Assim mesmo como se disse: “Quem é um crente verdadeiro, vive em ambos os mundos, neste e no vindouro.” Se por “vida” se entende a vida terrena, evidentemente, a morte há de alcançá-la.
Outrossim, todas as Escrituras dão testemunho desta verdade sublime, desta palavra excelsa. Além disso, este versículo do Alcorão, revelado a respeito de Hamzih, “Príncipe dos Mártires” (17) , e Abú-Jahl, é evidência luminosa e prova segura, da verdade de Nossas palavras: “Deverá o morto, que Nós temos vivificado e para quem ordenamos uma luz pela qual pudesse andar entre os homens, ser igual àquele cuja semelhança está na escuridão, donde ele não quer sair?” (17-A) Este versículo baixou do céu da Vontade Primaz, num tempo em que Hamzih já vestira o sagrado manto da fé e Abú-Jahl se tornara implacável em sua oposição e descrença. Do Manancial da onipotência e da Fonte da santidade eterna, veio o juízo que conferiu a Hamzih a vida eterna e condenou Abú-Jahl a castigo perpétuo. Foi isso o sinal que fez arderem os fogos da descrença com a mais intensa chama no coração dos infiéis, e os instigou a repudiar abertamente Sua verdade. Clamaram em altas vozes: “Quando foi que Hamzih morreu? Quando ressuscitou? A que hora se lhe concedeu tal vida?” Por que não compreenderam o sentido dessas nobres palavras, nem procuraram ser esclarecidos pelos autorizados expositores da Fé – para que estes lhes pudessem conceder umas gotas do Kawthar do conhecimento divino – por isso, se acenderam tais fogos daninhos entre os homens.
Tu vês hoje como, apesar do radiante esplendor do Sol do conhecimento, todos os homens, sejam de alto grau ou humildes, se prendem aos caminhos daquelas desprezíveis manifestações do Príncipe da Treva, a elas recorrendo continuamente para que sejam auxiliados no desenredar dos pontos intrincados de sua Fé, e delas recebendo, por falta de conhecimento, somente respostas que de modo algum lhes possam prejudicar a fama e fortuna. É claro que aquelas almas, vis e miseráveis como o próprio besouro, nenhum quinhão tiveram na brisa almiscarada da eternidade e nunca entraram no Ridván do deleite celestial. Como, pois, podem conceder aos outros a imperecível fragrância da santidade? Tal é seu modo e assim continuará sendo para sempre. Só atingirá o conhecimento da Palavra de Deus, quem a Ele se tiver dirigido, repudiando as manifestações de Satanás. Assim Deus reafirmou a lei do dia de Sua Revelação e a inscreveu com a pena do poder sobre a Epístola mística, encoberta pelo véu da glória celestial. Se atentasses para essas palavras, se ponderasses no coração seu sentido exterior bem como o interior, compreenderias o que significam todos os problemas obscuros que, neste dia, se tornaram barreiras insuperáveis entre os homens e o conhecimento do Dia do Juízo. Não mais, então, terás perguntas para te confundir. Esperemos que, permitindo-o Deus, tu não regresses privado e sequioso ainda, da orla do oceano da graça divina, nem destituído voltes do Santuário imperecível almejado pelo teu coração. Que seja visto agora o resultado de tua busca e de teus esforços.
Voltando a nosso assunto: Ao expormos estas verdades, visamos demonstrar a soberania d´Aquele que é o Rei dos reis. Sê justo: Será superior esta soberania que, mediante uma só Palavra, manifestou tal preponderância, tal ascendência e tão imponente majestade, ou será superior o domínio mundano daqueles reis da terra, que, apesar de sua solicitude pelos súditos e seu auxílio aos pobres, não podem contar senão com uma lealdade aparente e fugaz, pois nos corações dos homens eles não inspiram nem afeição nem respeito? Não pôde esta soberania, através da potência de uma só palavra, dominar o mundo inteiro, animá-lo e revivificá-lo? Como! Pode-se comparar o humilde pó da terra com Aquele Que é o Senhor dos Senhores? Que língua se atreve a mencionar a imensurável diferença que existe entre eles? Não! Toda comparação está longe de atingir o sagrado santuário de Sua soberania. Fosse o homem refletir, perceberia certamente que, até o servo em Seu limiar rege todas as coisas criadas! Isso já se viu e futuramente se tornará manifesto.
Este é apenas um dos sentidos da soberania espiritual que temos exposto de acordo com a capacidade e a receptividade do povo. Pois Ele, O que dá impulso a todos os seres, aquele Semblante glorificado, é a fonte de tais potências como nem este Injuriado pode revelar, nem esse povo indigno pode compreender. Imensamente elevado é Ele acima dos elogios que os homens fazem de Sua soberania; glorificado é Ele além daquilo que Lhe atribuem!
E agora pondera isto em teu coração: Se por soberania se quisesse dizer a soberania terrena, o domínio temporal, que implicasse na sujeição e lealdade exterior de todos os povos e raças da terra – pela qual Seus amados fossem enaltecidos, podendo viver em paz, e Seus inimigos fossem rebaixados e atormentados – tal forma de soberania nem se poderia atribuir ao próprio Deus, Fonte de todo o domínio, de Cuja majestade e poder todas as coisas dão testemunho. Pois não verificas que a humanidade em geral está sob o jugo de Seus inimigos? Todos não se desviaram do caminho de Seu beneplácito? Não fizeram o que Ele proibira e deixaram de fazer – até mais, se opuseram e repudiaram – aquelas coisas que Ele ordenara? Não foram Seus amigos sempre vítimas da tirania de Seus adversários? Todas essas coisas estão mais óbvias do que o esplendor do sol do meio-dia.
Sabe, pois, Ó tu que interrogas e buscas, que a soberania terrena nenhum valor tem e nem jamais terá, aos olhos de Deus e de Seus Eleitos. Além disso, se interpretarmos ascendência e domínio como sendo supremacia terrena e poder temporal, quão impossível te será, assim, explicar estes versículos: “E em verdade, Nossa hoste vencerá.” (17-B) “Bem queriam eles extinguir a luz de Deus com suas bocas: Mas Deus quis aperfeiçoar Sua luz, ainda que os infiéis a detestassem.” (17-C) “Ele é o Dominante, acima de todas as coisas.” Do mesmo modo, a maior parte do Alcorão evidencia esta verdade.
Fosse verdadeira a vã alegação dessas almas insensatas e desprezíveis, não teriam outro recurso senão o de rejeitar todas estas santas afirmações e alusões celestiais. Pois não se podia encontrar na terra um guerreiro mais excelente e mais próximo de Deus do que Husayn, filho de Áli, tão excelso e incomparável era ele. “Não havia no mundo quem o igualasse ou lhe fosse semelhante.” No entanto, deves ter ouvido contar o que lhe sucedeu. Que a maldição de Deus esteja sobre a cabeça do povo da tirania! (17-D)
Fosse interpretado literalmente, o versículo “E em verdade, Nossa hoste vencerá”, é claro que não seria aplicável, de modo algum, aos Eleitos de Deus e Suas Hostes, desde que Husayn, cujo heroísmo estava manifesto como o sol, foi derrotado e subjugado e, finalmente, bebeu do cálice do martírio em Karbilá, na terra de Taff. Também o sagrado versículo “Bem queriam extinguir a luz de Deus com suas bocas: Mas Deus quis aperfeiçoar Sua luz, ainda que os infiéis a detestassem.” Se fosse interpretado à letra, nunca poderia corresponder à verdade. Pois, em cada era, a luz de Deus é, aparentemente, apagada pelos povos da terra, e as Lâmpadas de Deus por eles extinguidas. Como, então, explicar a ascendência da soberania dessas Lâmpadas? Qual seria o significado da potência da Vontade Divina para “aperfeiçoar Sua luz”? Segundo já se verificou, tamanha foi a inimizade dos infiéis, que nenhum desses Luminares divinos jamais encontrou lugar de abrigo, nem saboreou a taça da tranqüilidade. Tão aflitivamente foram oprimidos, que o mais insignificante dos homens infligia o que quisesse, a essas Essências da vida. Estes sofrimentos têm sido observados e avaliados pelo povo. Como, pois, podem tais pessoas ser capazes de compreender e explicar estas palavras de Deus, estes versículos de glória eterna?
O intuito desses versículos, porém, não é o que imaginam. Ao contrário, dos termos “ascendência”, “poder” e “autoridade” devemos inferir um grau e um sentido totalmente diversos. Que consideres, por exemplo, o poder penetrante daquelas gotas do sangue de Husayn que se espargiram sobre a terra. Que ascendência e poder o próprio pó, através da santidade e da eficácia daquele sangue, tem exercido sobre os corpos e as almas dos homens! Tanto que, quando alguém buscava alívio de seus males, ele era curado ao tocar o pó daquela terra santa, e aquele que, querendo proteger sua propriedade, entesourava dentro de sua casa, com fé absoluta e compreensão, um pouco dessa sagrada terra, salvaguardava todas as possessões. São estas as manifestações exteriores de sua potência. E se fôssemos relatar suas virtudes ocultas, eles certamente diriam: “Ele, em verdade, considerou o pó como se fosse o Senhor dos Senhores e abandou inteiramente a Fé Divina.”
Além disso, recorda tu as circunstâncias vergonhosas que acompanharam o martírio de Husayn. Reflete sobre sua soledade, como não foi encontrado, aparentemente, quem o socorresse, ou quem levasse seu corpo para enterrar. No entanto, vê como são numerosos hoje aqueles que vêm dos mais remotos cantos da terra, trajando-se como peregrinos, em busca do sítio de seu martírio, a fim de lá deitarem as cabeças sobre o limiar de seu sagrado túmulo! Tal é a ascendência e tal o poder de Deus! Tal é a glória de Seu domínio e Sua majestade!
Não penses que, por haverem essas coisas sucedido após o martírio de Husayn, toda essa glória lhe tivesse sido improfícua. Pois essa alma santa é imortal, vive a vida de Deus e habita nas plagas da glória celestial, sobre o Sadrih da reunião divina. Essas Essências da existência são os brilhantes Exemplos do sacrifício. Têm oferecido e continuarão a oferecer suas vidas, sua substância, suas almas, seus espíritos – tudo, no caminho do Bem-Amado. Por eles, nenhuma posição, por elevada que fosse, seria mais estimada. Pois quem ama, desejo algum alimenta, senão o beneplácito do Amado e a nada aspira, salvo à reunião com Ele.
Se quiséssemos te conceder um vislumbre dos mistérios do martírio de Husayn e te revelar seus frutos, estas páginas nunca seriam suficientes, nem poderiam esgotar seu significado. É Nossa esperança que, Deus querendo, a brisa da misericórdia venha a soprar e a Primavera divina revista a árvore da existência com o manto de uma vida nova; de modo que possamos descobrir os mistérios da Sabedoria divina e, através de Sua Providência, nos tornar independentes do conhecimento de todas as coisas. Não temos discernido, até agora, mais que uma mão cheia de almas – e estas completamente destituídas de renome – que tenham atingido esse grau. Oxalá mostre o futuro o que o Juízo de Deus haverá de ordenar e o Tabernáculo do Seu decreto revelar. Assim te relatamos as maravilhas da Causa de Deus e a teus ouvidos emitimos os tons da melodia celestial, para que talvez possas alcançar o grau do verdadeiro conhecimento e de seus frutos participar. Sabe tu, pois, com certeza, que embora esses Luminares de majestade celestial habitem no pó, sua verdadeira morada é o trono da glória nos reinos do além. Embora destituídos de todas as possessões terrenas, voam, não obstante, nos domínios das riquezas imensuráveis. E enquanto sujeitos a provações penosas nas mãos do inimigo, estão sentados à direita do poder e da supremacia celestial. Em meio às trevas de sua humilhação, brilha sobre eles a luz de uma glória que não esvaece, e sobre seu estado de desamparo, chovem os emblemas de uma soberania invencível.
Assim, Jesus, Filho de Maria, enquanto um dia sentado, proferiu, por inspiração do Espírito Santo, palavras como estas: “Ó povo! Meu alimento é a grama dos campos, com a qual satisfaço a fome. Meu leito é o pó; minha lâmpada, o luar, à noite, e meu corcel, os próprios pés. Vê, quem na terra é mais rico do que eu?” Pela justiça de Deus! Milhares de tesouros giram em volta desta pobreza e miríades de reinos de glória anelam tal rebaixamento! Se tu atingisses a uma gota do oceano do sentido interior dessas palavras, abandonarias, seguramente, o mundo e tudo o que nele está e assim como a Fênix, consumir-te-ias nas chamas do Fogo imorredouro.
Semelhantemente, conta-se que, certo dia, um dos companheiros de Sádiq em sua presença queixou-se de ser pobre. Então Sádiq – aquele Ser de beleza imortal – respondeu: “Em verdade, tu és rico e tens bebido a poção da riqueza.” Perplexo diante das palavras pronunciadas por aquele Semblante luminoso, esse homem, tão aflito pela pobreza, replicou: “Onde estão as riquezas que eu possuo – eu, que careço de uma simples moeda?” Observou então Sádiq: “Não possues tu nosso amor?” E ele respondeu: “Sim, possuo-o, ó tu, descendente do Profeta de Deus!” E Sádiq lhe perguntou: “Trocarias esse amor por mil dinares?” Replicou ele: “Não, nunca trocá-lo-ei, ainda que me sejam dados o mundo e tudo o que nele está!” Sádiq perguntou, então: “Como se pode chamar de pobre a quem possui tal tesouro?”
Essa pobreza e essa riqueza, essa humilhação e essa glória, esse domínio, poder, e coisas semelhantes, às quais se apegam os olhos e corações dessas pessoas vãs e ineptas – tudo se esvai e se torna simplesmente nada, naquela Corte! Assim como por Ele foi dito: “Ó homens! Nada mais sois que indigentes que precisam de Deus; mas Deus é o Rico, o Suficiente por Si Mesmo.” (18) Por “riqueza”, pois, se quer dizer a independência de tudo, menos de Deus, e por “pobreza”, a falta das coisas que a Deus pertencem.
Outrossim, recorda tu o dia em que os judeus, a redor de Jesus, Filho de Maria, Lhe instavam que confessasse Sua pretensão de ser o Messias e Profeta de Deus, a fim de que pudessem declará-Lo infiel e contra Ele pronunciar a sentença de morte. Então levaram-No embora – Aquele que era o Sol do céu da Revelação divina, e O entregaram a Pilatos e a Caifás, que era o sumo sacerdote daquele tempo. Os príncipes dos sacerdotes estavam todos reunidos no palácio como também uma multidão que se ajuntara a fim de presenciar Seus sofrimentos, escarnecê-Lo e injuriá-Lo. Embora O interrogassem repetidas vezes, esperando que Ele confessasse Sua pretensão, Jesus, entretanto, guardou silêncio, nenhuma palavra proferindo. Finalmente levantou-se um maldito de Deus e, aproximando-se de Jesus, Lhe adjurou, dizendo: “Tu não pretendeste ser o Divino Messias? Não disseste – Sou o Rei dos Reis, Minha Palavra é a Palavra de Deus, e sou o Violador do Sábado -?” Então levantou Jesus a cabeça e disse: “Não vês o Filho do Homem sentado à direita do Poder e da Grandeza?” Foram estas Suas palavras, e consideremos, porém, como estava Ele destituído, aparentemente, de todo poder, salvo aquele poder interior, que era de Deus e que abrangera tudo o que existe no céu e sobre a terra. Como posso relatar tudo o que Lhe sucedeu depois que pronunciou essas palavras? Como descrever a conduta odiosa de que foi alvo? Amontoaram sobre Sua abençoada Pessoa, afinal, tais angústias que Ele alçou vôo para o quarto Céu.
Está escrito também no Evangelho Segundo São Lucas que, certo dia, Jesus passou junto a um judeu enfermo de paralisia, deitado num leito. Quando o judeu O viu, ele O reconheceu e chamou, pedindo-Lhe socorro. Disse-lhe Jesus: “Levanta-te do teu leito; perdoados te são os teus pecados.” Certos judeus que estavam perto, protestaram, dizendo: “Quem pode perdoar pecados, senão Deus só?” Conhecendo logo no seu espírito que eles pensavam desta maneira dentro de si, Jesus lhes disse: “Qual é mais fácil? dizer ao paralítico: Levanta-te, toma o teu leito, e anda; ou dizer: Os teus pecados te são perdoados? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar pecados.” (18-A) É esta a soberania verdadeira; é este o poder dos Eleitos de Deus! Todas essas coisas que temos mencionado repetidamente e os detalhes que temos citado de diversas fontes, não têm outro propósito senão o de te tornar capaz de compreender o significado das alusões nas palavras dos Eleitos de Deus, para que certas palavras Suas não façam vacilarem teus pés e desfalecer teu coração.
Assim, com passos firmes, podemos trilhar o Caminho da certeza, para que, porventura, a brisa que sopra dos prados do beneplácito de Deus nos possa transmitir as doces fragrâncias da aprovação divina e a nós – mortais efêmeros que somos - fazer atingir o Reino da glória sempiterna. Compreenderás, então, o sentido interior da soberania e coisas semelhantes mencionadas nas tradições e escrituras. Além disso, já te é evidente e sabido que aquelas mesmas coisas a que se atêm os judeus e cristãos, e as cavilações que amontoaram sobre a Beleza de Maomé, foram sustentadas nesta era pelo povo do Alcorão e vistas em suas acusações contra o “Ponto do Bayán” – que as almas de todos os que habitam no reino das Revelações divinas Lhe sejam oferecidas em holocausto! Vê sua insensatez: pronunciam as mesmíssimas palavras pronunciadas pelos judeus da antigüidade e não o sabem! Bem ditas e verdadeiras são Suas palavras referentes a eles: “Deixa-os entreterem-se a si mesmos com suas cavilações!” (19) “Pela Tua vida, ó Maomé! apoderou-se deles o frenesi de suas vãs fantasias.” (20)
Quando o Invisível, o Eterno, a Essência Divina, fez levantar-se sobre o horizonte do conhecimento o Sol de Maomé, figurou entre as cavilações que os sacerdotes judeus contra Ele pronunciaram, que após Moisés nenhum Profeta seria enviado por Deus. Sim, foi mencionada nas Escrituras uma Alma que haveria de se manifestar, de promover a Fé e servir os interesses do povo de Moisés, para que a Lei da Era Mosaica pudesse abranger toda a terra. Assim o Rei da glória eterna se referiu, em Seu Livro, às palavras pronunciadas por aqueles que vagavam no vale do afastamento e do erro: “Dizem os judeus – A mão de Deus está encadeada. – Encadeadas estejam suas próprias mãos! E por causa daquilo que disseram, foram amaldiçoados. Não, estendidas estão ambas as Suas mãos!” (21) “A mão de Deus está acima de suas mãos.” (22)
Embora tenham os comentadores do Alcorão relatado de maneiras diversas as circunstâncias que atenderam à revelação deste versículo, tu te deves esforçar, no entanto, por compreender seu intuito. Diz Ele: Como é falso aquilo que os judeus têm imaginado! Como pode a mão d´Aquele que é em verdade o Rei, que fez manifestar-se o semblante de Moisés e Lhe conferiu o manto de Profeta – como pode estar encadeada e agrilhoada a mão de tal Ser? Como seria concebível que a Ele faltasse o poder de fazer surgir outro Mensageiro após Moisés? Vê como é absurdo o que dizem; quanto sua afirmação se desviou do caminho do conhecimento e da compreensão! Observa tu como, neste tempo também, todas essas pessoas se têm ocupado com coisas igualmente tolas e absurdas. Há mais de mil anos recitam esse versículo e pronunciam sua censura contra os judeus, completamente inconscientes de que elas mesmas, tanto aberta como secretamente, estão expressando os sentimentos e as crenças do povo judaico. Deves conhecer seu vão argumento de que haja terminado toda a Revelação, estando fechados os portais da Misericórdia Divina; que não mais se levantará um sol dos alvoreceres da santidade eterna; que o oceano da perene generosidade se tenha aquietado para sempre e os Mensageiros de Deus tenham deixado de se manifestar do Tabernáculo da glória antiga. A tal ponto é falho o entendimento dessas pessoas desprezíveis, de mentalidade estreita. Imaginam que haja cessado a emanação da onipresente graça de Deus e de Seus copiosos favores, cessação esta em que mente alguma pode pensar. De todos os lados se levantaram e se cingiram da tirania, esforçando-se o mais possível para extinguir com as águas amargas de sua vã fantasia a chama da Sarça ardente de Deus, esquecidos de que o globo do poder haveria de proteger a Lâmpada Divina dentro de sua própria fortaleza inexpugnável. Basta, certamente, a destituição completa em que essas pessoas caíram, pois lhes foi impedido reconhecer o Propósito essencial e perceber o Mistério e a Substância da Causa de Deus – e a maior e mais excelente graça concedida aos homens é a de “atingir a Presença de Deus” e de reconhecê-Lo, o que a todos é prometido. É este o grau supremo de graça que o Todo-Generoso, o Ancião dos Dias, concede ao homem, e a plenitude da Sua generosidade absoluta para com Suas criaturas. Desta graça e destas dádivas, nenhuma dessas pessoas participou, nem foi honrada com esta excelsa distinção. Como são numerosos aqueles versículos revelados que dão testemunho explícito desta mais ponderável verdade, deste elevado Tema! Rejeitaram-no, entretanto, e segundo seu próprio desejo, lhe interpretaram erroneamente o sentido. Assim mesmo como Ele revelou: “Quanto àqueles que não crêem nos sinais de Deus nem acreditam que em algum tempo hão de encontrá-Lo, esperança alguma terão eles de Minha misericórdia e um castigo aflitivo os espera.” (23) Também diz Ele: “Os que estão lembrados de que há de atingir a Presença de seu Senhor e a Ele voltar.” (24) E diz ainda em outra passagem: “Aqueles que tinham por certo que haveriam de encontrar a Deus, disseram – Quantas vezes, pela vontade de Deus, uma pequena hoste tem vencido uma hoste numerosa! –“ (25) Em ainda outra passagem, Ele revela: “Que aquele, pois, que espera atingir a presença de seu Senhor, faça uma obra justa.” (26) E diz também: “Ele ordena todas as coisas. Ele torna claros Seus sinais, a fim de que tenhais fé firme em alcançar a presença do vosso Senhor.” (27)
Essas pessoas repudiaram todos esses versículos que atestam inequivocamente a realidade de “alcançar a Presença Divina.” Tema algum foi mais enfaticamente afirmado nas sagradas escrituras. Não obstante, privaram-se desse grau elevado e sublime, dessa posição suprema e gloriosa. Sustentam alguns que “alcançar a Presença Divina” se refere à “Revelação” de Deus no Dia da Ressurreição. Se asseverassem que a “Revelação” de Deus significa uma “Revelação Universal”, é claro e evidente que tal revelação já existe em todas as coisas. A verdade disso, Nós já a estabelecemos, tendo demonstrado que todas as coisas recebem e revelam os esplendores daquele Rei ideal e que os sinais da revelação daquele Sol, Fonte de todo o esplendor, existem e se manifestam nos espelhos dos seres. Ainda mais, se o homem contemplasse com os olhos do discernimento espiritual, divino, ele reconheceria prontamente que nada, em absoluto, pode existir, sem que revele o esplendor de Deus, o Rei ideal. Pondera tu como todas as coisas criadas dão eloqüente testemunho de que existe em seu âmago aquela Luz interior. Vê como dentro de todas as coisas se abrem as portas do Ridván de Deus, e assim os que buscam podem alcançar as cidades da compreensão e da sabedoria e entrar nos jardins do conhecimento e do poder. Em cada jardim haverão eles de ver a noiva mística do sentido interior encerrada dentro dos aposentos das palavras, na maior formosura e em pleno adorno. A maioria dos versículos do Alcorão indica e atesta este tema espiritual. O versículo, “Nem há coisa alguma que não celebre Seu louvor”, (28) dá testemunho eloqüente, disso; e “Notamos todas as coisas e as registramos”, (29) é evidência fiel. Ora, se por “Alcançar a Presença de Deus”, se quer dizer alcançar o conhecimento de tal revelação, é evidente que todos os homens já atingiram a presença do Semblante imutável daquele Rei sem igual. Por que, então, restringir tal revelação ao Dia da Ressurreição?
E se sustentassem que “Presença Divina” se referente à “Específica Revelação de Deus”, a qual certos súfis denominaram “Mais Santa Emanação”, se isto for na própria Essência, é claro que esteve eternamente no Conhecimento Divino. Admitindo-se a verdade desta hipótese, “alcançar a Presença Divina”, neste sentido, obviamente, não é possível a pessoa alguma, já que esta revelação se limita à mais íntima Essência, à qual homem algum pode atingir. “O caminho está obstruído e toda busca é vedada.” As mentes dos favorecidos do céu, por mais altamente que voem, nunca poderão atingir esta condição; quanto menos poderá a compreensão da qual são dotadas as mentes obscurecidas e limitadas!
E se dissessem que “Presença Divina” significa a “Revelação Secundária de Deus”, interpretada como a “Santa Emanação”, esta seria, admissivelmente, aplicável ao mundo da criação, ou seja, no reino da manifestação primaz e original de Deus. Tal revelação confina-se a Seus Profetas e Eleitos, pois ninguém mais poderoso que eles veio a viver no mundo da existência. Esta verdade é por todos conhecida e atestada. Esses Profetas e Eleitos de Deus recebem e revelam todos os Seus atributos e nomes imutáveis. São os espelhos que refletem fiel e verdadeiramente a Luz de Deus. Qualquer coisa que Lhes seja aplicável é, na realidade, aplicável ao próprio Deus, Quem é tanto o Visível como o Invisível. É impossível se conhecer Aquele que é a Origem de todas as coisas, ou d´Ele se aproximar, sem que se conheça a esses Seres luminosos que procedem do Sol da Verdade e deles se aproxime. Ao atingir, pois, a presença desses santos Luminares, se atinge a “Presença do próprio Deus”. Do conhecimento deles, se revela o conhecimento de Deus, e da luz do seu semblante, se manifesta o esplendor da Face de Deus. Através dos numerosos atributos dessas Essências do Desprendimento, as quais são tanto as primeiras como as últimas, as visíveis como as ocultas, torna-se evidente que Aquele que é o Sol da Verdade é “o Primeiro e o Último, o Visível e o Oculto.” (30) Assim é também com os outros nomes excelsos e atributos elevados de Deus. Quem, pois, em qualquer Era, tiver reconhecido e atingido a presença destes Luminares gloriosos, resplandecentes e sublimes, terá atingido, em verdade, a “Presença do próprio Deus” e entrado na cidade da vida imortal, da vida eterna. Atingir esta presença é possível somente no Dia da Ressurreição, o qual é o Dia em que surge o próprio Deus através de Sua Revelação que a tudo abrange.
É isso o que significa o “Dia da Ressurreição”, mencionado em todas as escrituras e anunciado a todos os povos. Reflete: pode-se conceber um dia mais precioso, de maior poder e glória do que o atual, para que o homem consentisse em renunciar à graça deste Dia e privar-se de suas dádivas, as quais caem do céu da misericórdia tão copiosamente como as chuvas primaveris, sobre toda a humanidade? Havendo-se demonstrado, de modo concludente, que não há dia maior do que este Dia, nem revelação mais gloriosa que esta Revelação, e tendo-se exposto todas estas provas ponderáveis e infalíveis, das quais nenhuma mente esclarecida pode duvidar, nem sábio algum menosprezar, como pode o homem, por causa dos vãos argumentos do povo da dúvida e da fantasia, privar-se de tão abundante graça? Não ouviram a conhecida tradição: “O dia em que aparece o Qá´im, é o Dia da Ressurreição.”? Do mesmo modo, os Imames, aquelas luzes inextinguíveis de orientação divina, interpretaram como referentes ao Qá´im e Seu Manifestante, o versículo: “Que podem tais pessoas esperar senão que Deus lhes desça encoberto de nuvens?” (31) – sinal esse que eles consideram, sem dúvida, como uma das características do Dia da Ressurreição.
Esforça-te, pois, Ó meu irmão, a fim de compreenderes o sentido da “Ressurreição”, e purifica os teus ouvidos das palavras vãs daquelas pessoas rejeitadas. Se entrares no reino do desprendimento completo, atestarás prontamente não haver dia maior do que este Dia e que jamais se poderá conceber uma ressurreição mais temível do que esta. Uma só boa obra realizada neste Dia iguala todos os atos virtuosos que desde incontáveis séculos os homens vêm praticando – não, rogamos a Deus perdoar-Nos tal comparação! Pois, em verdade, a recompensa merecida por tal ação está imensamente além e acima do poder dos homens em avaliá-la. Desde que aquelas almas desprezíveis e destituídas de discernimento não lograram perceber o verdadeiro sentido da “Ressurreição” e do “alcance da Presença Divina”, ficaram, por isso, inteiramente privadas de sua graça. Embora o objetivo único e fundamental de toda a erudição, com sua fadiga e seu labor, consista em reconhecer esse grau e em atingi-lo, todas essas pessoas, no entanto, estão imersas em seus estudos materiais. Não se permitem a si mesmas nenhum momento de lazer e ignoram completamente Aquele Que é a Essência de toda a erudição, o Objeto único de suas pesquisas! Seus lábios, penso, jamais tocaram o cálice do Conhecimento divino, nem parecem ter atingido uma gota de orvalho, sequer, da copiosa graça celestial.
Pondera tu: se alguém no dia da Revelação de Deus, não tiver podido atingir a graça da “Presença Divina” e reconhecer Seu Manifestante – ainda que tenha dedicado um tempo desmedido à busca do saber e adquirido toda a limitada erudição material dos homens – como poderá tal pessoa ser com justiça chamada de sábia? É claro, certamente, que se não pode, em absoluto, considerá-la o possuidor do verdadeiro conhecimento, enquanto o mais iletrado de todos os homens, se for honrado com esta suprema distinção, será contado, em verdade, entre aqueles homens que possuem a erudição divina, cujo conhecimento vem de Deus; pois tal homem atingiu o ápice do saber e alcançou o pináculo da erudição.
Este grau é também um dos sinais do Dia da Revelação, assim como se diz: “Os rebaixados entre vós, estes, Ele há de enaltecer; e aqueles que estão enaltecidos, Ele os rebaixará.” E, outrossim, revelou Ele no Alcorão: “E desejamos mostrar favor àqueles que foram rebaixados na terra e fazê-los dirigentes espirituais entre os homens e deles fazer Nossos herdeiros.” (32) Vê-se, neste dia, quantos entre os sacerdotes, pro causa de sua rejeição da Verdade, caíram e permanecem ainda nas ínfimas profundezas da ignorância e tiveram seus nomes apagados do pergaminho dos gloriosos e eruditos. E quantos entre os iletrados, por haverem aceito a Fé, se elevaram e alcançaram o mais alto ápice do conhecimento e tiveram seus nomes inscritos pela Pena do Poder sobre a Epístola do Conhecimento divino. Assim, “Deus há de revogar ou confirmar o que Lhe aprouver; pois com Ele está a Fonte da Revelação.” (33) Por isso, se tem dito: “Buscar evidência, quando já se estabeleceu a Prova, não é senão um ato indigno, e ocupar-se em adquirir conhecimento após haver atingido o Objeto de toda a erudição, é, em verdade, censurável.” Dize, ó povo da terra! Vê este Jovem, semelhante a uma chama, que velozmente atravessa as ilimitadas profundezas do Espírito, anunciando-vos as boas novas: “Eis que a Lâmpada de Deus está brilhando”, e convocando-vos para atender Sua Causa, a qual, embora se oculte atrás dos véus do esplendor antigo, brilha na terra do Iraque, sobre a aurora da santidade eterna.
Ó meu amigo, fosse a ave de tua mente explorar os céus da Revelação do Alcorão e contemplar o reino do conhecimento divino ai descerrado, tu haverias, seguramente, de encontrar abertas diante de ti inúmeras portas ao conhecimento. Por certo, reconhecerias que todas essas coisas que neste tempo têm impedido esse povo de alcançar as orlas do oceano da graça eterna, do mesmo modo na Era maometana, impediram o povo da época de reconhecer aquele Luminar divino e testemunhar Sua verdade. Compreenderias também os mistérios do “regresso” e da “revelação”, e habitarias com segurança nas mais altas moradas da certeza e convicção.
E aconteceu que, certo dia, alguns dos que se opunham àquele Ser de beleza incomparável – havendo-se desviado para longe do imperecível Santuário de Deus -, dirigiram desdenhosamente a Maomé estas palavras: “Em verdade, Deus entrou num convênio conosco segundo o qual não deveríamos acreditar em nenhum apóstolo antes de por ele nos ser apresentado um sacrifício que será devorado por fogo proveniente do céu.” (34) O significado deste versículo é que Deus fez um convênio com eles, pelo qual não devessem acreditar em nenhum mensageiro a não ser que fizesse o milagre de Abel e Caim, isto é, que oferecesse um sacrifício e o fogo do céu o consumisse; assim como haviam ouvido contar na história de Abel, segundo a narram as Escrituras. A isso, Maomé replicou: “Já vos têm vindo, antes de mim, Apóstolos com testemunhos seguros e com aquilo de que falais. Por que os matastes? Dizei-me, se sois homens da verdade.” (35) Ora, sê justo; como seria possível que aquelas pessoas vivendo nos dias de Maomé tivessem existido milhares de anos antes, na era de Adão ou de outros Profetas? Por que Maomé, aquela Essência da veracidade, acusou o povo de Seu tempo de haver assassinado Abel ou outros Profetas? Não tens outra alternativa: ou considerar Maomé um impostor ou um tolo – do que Deus nos defenda! – ou manter que aqueles perversos foram as mesmíssimas pessoas que em cada era se opuseram e zombaram dos Profetas e Mensageiros de Deus, até causarem, finalmente, o martírio de todos.
Pondera isso em teu coração, para que os ventos suaves do conhecimento divino, soprando dos prados da misericórdia, te possam transmitir a fragrância das palavras do Amado e fazer tua alma atingir o Ridván da compreensão. Como os refratários de cada era não souberam penetrar até o sentido mais profundo dessas palavras ponderáveis e significativas, e imaginaram ser a resposta dos Profetas de Deus inaplicável às perguntas que lhe faziam, atribuíram ignorância e insensatez Àquelas Essências do conhecimento e da compreensão.
Do mesmo modo, em outro versículo, Maomé pronuncia Seu protesto contra o povo daquela época. Diz ele: “Embora tivessem, anteriormente, suplicado por vitória sobre aqueles que não acreditavam, eles, entretanto, ao lhes vir Aquele de Quem tinham conhecimento, n´Ele não acreditaram. A maldição de Deus esteja sobre os infiéis!” (36) Reflete como este versículo significa, também, que as pessoas vivendo nos dias de Maomé eram as mesmas que, nos dias dos Profetas da Antigüidade, haviam combatido e lutado a fim de promover a Fé e ensinar a Causa de Deus. E no entanto, como poderiam as gerações que viviam no tempo de Jesus e no de Moisés, e aquelas que viviam no tempo de Maomé, ser consideradas como sendo realmente as mesmas pessoas? Ainda mais, aqueles conhecidos de antanho eram Moisés, o Revelador do Pentateuco, e Jesus, Autor do Evangelho. Por que disse, não obstante, Maomé: “Quando lhes veio Aquele de Quem tinham conhecimento” – isto é, Jesus ou Moisés – “não acreditaram n´Ele”? Não foi Maomé chamado, aparentemente, por um nome diferente? Não veio de uma cidade diferente? Não falou outra língua e revelou outra Lei? Como é possível, então, se estabelecer a verdade deste versículo, e se esclarecer seu significado?
Esforça-te, pois, a fim de compreender o significado de “volta”, que, apesar de tão explicitamente revelado no próprio Alcorão, ninguém até agora entendeu. Que dizes? Se disseres que Maomé foi a “Volta” dos Profetas da Antigüidade, assim como atesta este versículo, também devem Seus Companheiros ser a “volta” dos Companheiros antigos, do mesmo modo que a “volta” do povo anterior é claramente afirmada pelo texto dos versículos acima mencionados. E se a isto negares, terás repudiado, certamente, a verdade do Alcorão, o mais seguro testemunho de Deus aos homens. Esforça-te também para compreender o que significam “volta”, “revelação” e “ressurreição”, verificadas nos dias dos Manifestantes da Essência Divina, para que possas contemplar com teus próprios olhos a “volta” das almas santas em corpos santificados e iluminados, e possas eliminar a poeira da ignorância e, com as águas da misericórdia que emanam da Fonte do Conhecimento divino, limpar o ego obscurecido, de modo a conseguires, porventura, através do poder de Deus e da iluminação divina, distinguir entre a tenebrosa noite do erro e o Amanhecer do esplendor imperecível.
Além disso, está evidente a ti que Aqueles a quem foi confiada a incumbência de Deus, se manifestam aos povos da terra como os Expoentes de uma nova Causa e os Portadores de uma Mensagem nova. Como estas Aves do Trono Celestial são todas enviadas do céu da Vontade Divina e todas se levantam para proclamar Sua Fé irresistível, são por isso, consideradas uma só alma, uma mesma pessoa. Pois todas bebem do mesmo Cálice do amor de Deus, e todas participam do fruto da mesma Árvore da Unidade. Cada um Destes Manifestantes de Deus tem uma dupla posição. Uma é a da pura abstração e da unidade essencial. Neste respeito, se os chamares a todos por um só nome e lhes conferires o mesmo atributo, não te terás desviado da verdade. Assim como Ele revelou: “Nenhuma distinção fazemos Nós entre quaisquer de Seus Mensageiros!” (37) Pois todos eles convocam o povo da terra para reconhecer a Unidade de Deus e lhe anunciam o Kawthar de uma infinita graça e generosidade. Todos são trajados com as vestes de Profeta e honrados com o manto da glória. Assim Maomé, o Ponto do Alcorão, revelou: “Eu sou todos os Profetas.” E diz também: “Sou o primeiro Adão, Noé, Moisés e Jesus.” Afirmações semelhantes foram feitas por Álí. Expressões no mesmo sentido, que indicam a unidade essencial daqueles Expoentes da Unicidade, emanaram também dos Portadores das palavras imortais de Deus e dos Tesouros que encerram as jóias do conhecimento divino, e foram registradas nas escrituras. Esses Semblantes são os receptores do Mandado divino e os pontos do alvorecer de Sua Revelação. Esta Revelação está elevada acima dos véus da pluralidade e das exigências de número. Assim Ele diz: “Nossa Causa é apenas uma.” (37-A) Já que a Causa é uma e a mesma, seus Expoentes também devem forçosamente ser um só. Outrossim, os Imames da Fé Maometana – aquelas lâmpadas da certeza – disseram: “Maomé é nosso primeiro, Maomé nosso último, Maomé nosso tudo.”
É claro e evidente a ti que todos os Profetas são os Templos da Causa de Deus, embora aparecendo adornados de vestes diversas. Se observares com olhos discernentes, verás que todos habitam no mesmo tabernáculo, voam no mesmo céu, se sentam no mesmo trono, proferem as mesmas palavras e proclamam a mesma Fé. Tal é a unidade destas Essências da Existência, destes Luminares de infinito e imensurável esplendor. Se um destes Manifestantes da Santidade proclamasse, pois, dizendo: “Sou a volta de todos os Profetas”, Ele diria, realmente, a verdade. Também, em cada Revelação subseqüente, a volta da Revelação anterior é um fato, a verdade do qual está firmemente estabelecida. Desde que a volta dos Profetas de Deus, assim como atestam os versículos e as tradições, foi concludentemente demonstrada, também a volta de Seus eleitos é, em definitivo, provada. Esta volta é por si demasiadamente óbvia para necessitar de qualquer evidência ou prova. Considera, por exemplo, que um dos Profetas foi Noé. Quando Ele se revestiu do manto de Profeta e se sentiu impelido pelo Espírito de Deus a levantar-se e proclamar Sua Causa, qualquer um que acreditasse n´Ele e confessasse Sua Fé, era dotado da graça de uma nova vida. Podia-se dizer que tal pessoa, em verdade, nascera de novo, fora ressuscitada, pois antes de crer em Deus e aceitar Seu Manifestante, se apegara às coisas do mundo, tais como bens terrestres, esposa, filhos, alimento, bebida e coisas semelhantes, tanto que havia sido sua preocupação única, dia e noite, acumular riquezas e obter para si aquilo que lhe proporcionasse prazer e gozo. Além de tudo isso, antes de participar das águas revivificantes da fé, se prendera tão tenazmente às tradições dos antepassados e se dedicara tão apaixonadamente à observância de seus costumes e suas leis, que teria preferido sofrer a morte a violar uma letra sequer daquelas formas supersticiosas e daqueles padrões correntes entre seu povo. Assim como exclamou o povo: “Em verdade, encontramos os nossos pais com uma fé e, em verdade, suas pegadas seguimos.” (38)
As mesmas pessoas, embora envoltas em todos esses véus de limitação e a despeito das restrições impostas por tais observâncias, logo que sorveram a poção imortal da fé, da taça da certeza, oferecida pela mão do Manifestante do Todo-Glorioso, a tal ponto se transformaram que prontas estavam a renunciar por Sua Causa parentes, crenças, substância e a própria vida – sim, tudo, salvo Deus! Tão veemente foi seu anelo de Deus, tão arrebatador seu deleite extático, que o mundo e tudo o que nele existe desvaneceu-se ante seus olhos, tornando-se simplesmente nada. Não exemplificaram, pois, essas pessoas, os mistérios do “renascimento” e da “volta”? Não se verificou que essas mesmas pessoas, antes de serem dotadas das novas e admiráveis graças de Deus, procuravam de inúmeras maneiras salvaguardar suas vidas contra a destruição? Não as amedrontava um simples espinho e avistar uma raposa não as fazia fugirem? Uma vez honradas, porém, com a suprema distinção de Deus e favorecidas com Sua exuberante graça, prontamente teriam oferecido, se pudessem, dez mil vidas em Seu caminho! Ainda mais, suas almas abençoadas, desdenhosas da prisão que lhes era o corpo, almejavam a libertação. Um só guerreiro daquela hoste ousava enfrentar e combater uma multidão! Todavia, se não fosse a transformação operada em suas vidas, como seriam capazes de manifestar tais atos contrários aos costumes dos homens e incompatíveis com seus desejos terrenos?
Evidentemente, nada menos que esta transformação mística poderia fazer manifestarem-se, no mundo da existência, tal espírito e tal conduta, tão completamente distintos de seus hábitos e modos anteriores. Pois sua agitação converteu-se em paz, sua dúvida em certeza, sua timidez em coragem. Eis a potência do Elixir Divino, o qual, tão veloz como um abrir e fechar de olhos, transmuta as almas dos homens!
Considera tu, por exemplo, a substância do cobre. Se fosse protegido na própria mina contra a solidificação, atingiria, num prazo de setenta anos, o estado do outro. Há quem sustente, entretanto, que o próprio cobre é ouro, o qual, por se haver solidificado, está numa condição defeituosa, não tendo, pois, alcançado seu estado próprio.
Seja isso como for, o verdadeiro elixir, em um só instante, fará a substância do cobre atingir o estado do ouro e atravessar em apenas um momento as etapas de setenta anos. Poderia se chamar de cobre este ouro? Poderia se afirmar que não tivesse atingido o estado do ouro, uma vez que esteja disponível a pedra de toque para ensaiá-lo e distingui-lo do cobre?
Do mesmo modo, mediante a potência do Elixir Divino, essas almas atravessam o mundo de pó em um abrir e fechar de olhos e avançam para o reino da santidade; com um só passo, deixam a terra das limitações e alcançam o domínio do Ilimitado. Cumpre-te fazer o máximo esforço para que atinjas este Elixir que, em apenas um sopro fugaz, leva o oeste da ignorância a alcançar o leste do conhecimento, ilumina a escuridão da noite com o esplendor matinal, guia aquele que vagueia no deserto da dúvida para o manancial da Presença Divina e a Fonte da Certeza, e concede às almas mortais a honra de serem aceitas no Ridván da imortalidade. Ora, se esse ouro pudesse ainda ser considerado nobre, seria possível pensar, de igual modo, que aquelas pessoas fossem as mesmas de antes de serem dotadas de fé.
Ó irmão, vê como cada um dos mistérios íntimos do “renascimento”, da “volta” e da “ressurreição” foi desvendado e esclarecido ante teus olhos por meio dessas exposições completas, irrefutáveis e concludentes. Permita Deus que, através de Seu auxílio generoso e invisível, tu possas despir das roupas velhas, teu corpo e tua alma, e te adornar com as vestes novas e imperecíveis.
Aqueles, pois, que em cada Era subseqüente precederam aos demais da humanidade em abraçar a Fé de Deus, que saborearam as águas límpidas do conhecimento oferecidas pela mão do Ser de Beleza divina, e atingiram os mais elevados cumes da fé e da certeza, podem ser considerados, no tocante a nome, realidade, ações, palavras e grau, como a “volta” daqueles que haviam adquirido, em uma Era anterior, distinções semelhantes. Pois qualquer coisa que o povo de uma Era anterior tenha manifestado, a mesma tem sido mostrada pelo povo desta geração subseqüente. Considera a rosa: quer floresça no este, quer no oeste, não deixa de ser uma rosa, pois o que importa não é a forma exterior da rosa, mas, antes, a fragrância que ela exala.
Purifica tua vista, portanto, de todas as limitações terrenas, para que eles todos se te afigurem como portadores de apenas um Nome, os expoentes de uma só Causa, os manifestantes do mesmo Ser, os reveladores de uma única Verdade, e assim tu possas compreender a “volta” mística dos Verbos de Deus, segundo a expõem essas afirmações. Reflete um pouco sobre a conduta dos companheiros da Era Maometana. Considera como, através do alento revivificante de Maomé, foram purificados da contaminação das vaidades terrenas, libertos dos desejos egoístas e desprendidos de tudo, menos d´Ele. Vê como precederam a todos os povos da terra em atingir Sua santa Presença – Presença do próprio Deus – e como renunciaram ao mundo e a tudo o que nele existe, sacrificando suas vidas, espontânea e alegremente, aos pés daquele Manifestante do Todo-Glorioso. E agora, observa a “volta” da mesma determinação, da mesma constância e abnegação, manifestadas pelos companheiros do Ponto do Bayán. (39) Já viste como esses companheiros, através da admirável graça do Senhor dos Senhores, içaram os estandartes da renúncia sublime sobre as inacessíveis alturas da glória. Essas Luzes não procederam senão de uma só Fonte e esses frutos são os frutos da mesma Árvore. Nem diferença nem distinção podes entre eles discernir. Tudo isso é pela graça de Deus! A quem Ele queira, concede Sua graça. Permita Deus que evitemos a terra da negação e nos aproximemos do oceano da aceitação, de modo a percebermos – com os olhos purificados de todos os elementos discordantes – os mundos da unidade e da diversidade, da variação e da uniformidade, da limitação e do desprendimento, e alçarmos vôo para o mais alto e íntimo santuário do sentido interior da Palavra de Deus.
Destas exposições, pois, se tornou claro e evidente que, se uma Alma, no “Fim que não conhece fim”, se manifestar e se erguer para proclamar e sustentar uma Causa que, no “Princípio que não tem princípio”, outra Alma proclamara e sustentara, se poderá declarar com exatidão que Aquele que é o Último e Aquele que foi o Primeiro são um só, o mesmo, já que ambos são os Expoentes de uma mesma Causa. Por esta razão, o Ponto do Bayán – que a vida de tudo, salvo Ele, Lhe seja um sacrifício! – comparou os Manifestantes de Deus ao sol, o qual, embora nasça desde o “Princípio que não teve princípio” até o “Fim que não conhece fim”, é, no entanto, o mesmo sol. Ora, se dissesses ser este sol o anterior, dirias a verdade; e se dissesses ser este sol a “volta” daquele, também dirias a verdade. Outrossim, dessa exposição se tornou evidente que o termo “último” é aplicável ao “primeiro”, e o termo “primeiro” é aplicável ao “último”; desde que ambos, “primeiro” e “último”, se hajam levantado para proclamar uma e a mesma Fé.
Apesar de ser tão óbvio esse tema, aos olhos dos que beberam do vinho do conhecimento e da certeza, quão numerosos, entretanto, são aqueles que, por não poderem compreender o que significava, deixaram o termo “Selo dos Profetas” obscurecer-lhes a compreensão e privá-los da graça de todas as Suas múltiplas dádivas! Não declarou o próprio Maomé: “Eu sou todos os Profetas”? Não disse Ele, como já mencionamos: “Sou Adão, Noé, Moisés e Jesus”? Se Maomé, aquele Ser de beleza imortal, disse: “Sou o primeiro Adão”, por que seria Ele incapaz de dizer também: “Sou o último Adão”? Pois assim como Ele se considerava o “Primeiro dos Profetas” – isto é, Adão – do mesmo modo, o “Selo dos Profetas” é também aplicável àquele Ser de Beleza Divina. É indubitavelmente óbvio que, sendo Ele o “Primeiro dos Profetas”, é também seu “Selo”.
O mistério deste tema foi, nesta Era, uma provação severa para toda a humanidade. Vê como são numerosos aqueles que, aderindo a estas palavras, não acreditaram n´Aquele que é seu verdadeiro Revelador. Que, perguntamos, poderia esse povo imaginar que os termos “primeiro” e “último”, quando se referem a Deus – Glorificado seja Seu Nome – significam? Se afirma que esses termos se referem ao universo material, como seria isso possível, quando a visível ordem das coisas ainda existe manifestamente? Não, neste caso, “primeiro”, não quer dizer outra coisa que “último”, e “último”, nada mais é que “primeiro”.
Assim como no “Princípio que não tem princípio” o termo “último” é realmente aplicável Àquele que é o Educador do visível e do invisível, de modo semelhante são os termos “primeiro” e “último” aplicáveis aos Seus Manifestantes. Eles são a um tempo os Expoentes tanto do “primeiro” como do “último”. Enquanto estabelecidos no assento do “primeiro”, ocupam o trono do “último”. Fossem encontrados olhos que discernem, e perceberiam prontamente que os expoentes do “primeiro” e do “último”, do “manifesto” e do “oculto”, do “princípio” e do “selo”, outros não são senão esses santos Seres, essas Essências do Desprendimento, essas Almas divinas. E se voares no santo domínio de “Deus estava só; não havia outro além d´Ele”, verificarás que, naquela Corte, todos esses nomes estão completamente olvidados e são inexistentes. Assim teus olhos não mais ficarão obscurecidos por esses véus, esses termos e essas alusões. Como é etéreo e elevado esse grau, o qual nem mesmo Gabriel, sem ser guiado, jamais atingirá e nunca a Ave do Céu, sem ajuda, poderá alcançar.
E agora esforça-te para compreender o que significam estas palavras de Áli, Comandante dos Fiéis: “Penetrando os véus da glória, sem ajuda.” Entre estes “véus da glória” há os sacerdotes e doutos que vivem nos dias do Manifestante de Deus e que, por falta de discernimento e por ambição e amor à autoridade, não quiseram submeter-se à Causa de Deus – ainda mais, se recusaram a inclinar os ouvidos à Melodia divina. “Puseram os dedos nos ouvidos.” (40) E o povo também, desprezando inteiramente a Deus e tomando-os por seus mestres, submeteu-se incondicionalmente à autoridade desses líderes pomposos e hipócritas, pois lhe faltam visão, ouvido e coração próprio para poder distinguir entre a verdade e a falsidade.
Não obstante as admoestações, divinamente inspiradas, feitas por todos os Profetas, Santos e Eleitos de Deus, as quais exortam os homens a ver com seus próprios olhos e ouvir com seus próprios ouvidos, eles rejeitam com desdém seus conselhos, seguindo às cegas – e continuarão a seguir – os dirigentes de sua Fé. Se uma pessoa pobre, obscura, privada da insígnia dos eruditos, e lhes dirigisse, dizendo: “Segue, ó povo! os Mensageiros de Deus”, (40-A) o povo, muito admirado desta exortação, replicaria: “Como! Queres dizer que todos esses sacerdotes, todos esses expoentes da erudição, com toda a sua autoridade, sua pompa e seu fausto, tenham errado e não sabido distinguir entre a verdade e a falsidade? E tens tu e outros iguais a ti, a pretensão de haver compreendido o que eles não compreenderam?” Se o número e a excelência de trajes devessem ser adotados como critérios para se julgar da erudição e da verdade, então os povos de tempos idos – aos quais os de hoje nunca excederam em número, magnificência ou poder – deveriam, certamente, ser considerados superiores e mais dignos.
É claro e evidente que, todas às vezes que os Manifestantes da Santidade se revelavam, os sacerdotes do tempo impediam o povo de atingir o caminho da verdade. Isso é atestado por todas as Escrituras e todos os Livros Celestiais. Nenhum Profeta de Deus se manifestou que não caísse vitima do ódio implacável, da calúnia, negação e execração por parte do clero de Seu tempo! Infelizes são eles pelas iniqüidades que suas mãos outrora cometeram! Infelizes por aquilo que agora fazem! Existem véus da glória mais lastimáveis do que essas personificações do erro? Pela justiça de Deus! Romper tais véus é o maior de todos os atos, e dissipá-los o mais meritório de todos os feitos! Que Deus ajude a nós e a vós, Ó assembléia do Espírito, a fim de que possais, quiçá, no tempo de Seu Manifestante, ser auxiliados pela Sua graça a realizar ações iguais e a atingir, em Seus dias, a Presença de Deus.
Ainda mais, entre os “véus da glória” há tais termos como o “Selo dos Profetas” e outros semelhantes, a remoção dos quais é uma realização suprema, aos olhos dessas almas ignóbeis e erradas. Todos, por causa dessas expressões misteriosas, desses lastimáveis “véus da glória”, foram impedidos de contemplar a luz da verdade. Não teriam eles ouvido a melodia daquela ave do Céu, (41) pronunciando este mistério: “Mil Fátimihs tenho eu desposado, todas as quais filhas de Maomé, Filho de ´Abdu´lláh, o Selo dos Profetas”? Vê, quantos mistérios, ainda não desvendados, jazem no tabernáculo do conhecimento de Deus, e como são numerosas as jóias da Sua sabedoria que ainda se ocultam em Seus tesouros invioláveis! Se tu ponderasses isso em teu coração, perceberias que a obra de Sua mão não conhece nem princípio nem fim. O domínio de Seu decreto é vasto demais para ser descrito pela língua dos mortais, ou atravessado pela ave da mente humana; e as dispensações de Sua providência são tão misteriosas que a inteligência do homem não as pode compreender. Nenhum fim atingiu à Sua criação e desde o “Princípio que não tem princípio”, ela existe; e os Manifestantes de Sua Beleza, princípio algum os viu, e eles continuarão até o “Fim que não conhece fim”. Pondera isso em teu coração e considera como é aplicável a todas essas Almas santas.
Esforça-te, também, para que possas compreender o que significa a melodia daquele ser de beleza eterna, Husayn, filho de Álí, que, dirigindo-se a Salmán, proferiu palavras como estas: “Estive com mil Adãos, sendo o intervalo entre cada Adão e o próximo, cinqüenta mil anos, e a cada um deles declarei o grau de Sucessão conferido a meu pai.” Ele então relata certos detalhes, até que diz: “No caminho de Deus, lutei em mil batalhas, das quais a menor e mais insignificante era a de Khaybar, na qual meu pai combateu e lutou contra os infiéis.” Esforça-te agora para compreender por meio dessas duas tradições, os mistérios de “fim”, “volta” e “criação sem princípio ou fim”.
Ó meu amado! Imensuravelmente elevada é a Melodia celestial acima dos esforços do ouvido humano para ouvir, ou da mente para lhe abranger o mistério! Como pode a formiga impotente entrar na corte do Todo-Glorioso? E no entanto, almas fracas, por falta de compreensão, rejeitam estas exposições abstrusas e duvidam da verdade de tais tradições. Não, ninguém pode compreendê-las, salvo aqueles que possuem um coração esclarecido. Dize, Ele é aquele Fim para Quem não pode ser imaginado nenhum fim em todo o universo, e para Quem se não pode conceber, no mundo da criação, princípio algum. Vê, ó assembléia da terra, os esplendores do Fim revelados nos Manifestantes do Princípio!
Que extraordinário! Essas pessoas, com uma mão, se prendem àqueles versículos do Alcorão e àquelas tradições do povo da certeza que acharam de acordo com suas próprias inclinações e seus próprios interesses e, com a outra mão, rejeitam os versículos e tradições que são contrários a seus desejos egoístas. “Acreditais, então, uma parte do Livro, e negais uma parte?” (42) Como poderíeis julgar o que não compreendeis? Assim como o Senhor da existência, em Seu Livro infalível, após haver falado do “Selo” em Sua afirmação elevada: “Maomé é o Apóstolo de Deus e o Selo dos Profetas”, (43) revelou a todos os povos a promessa do “alcance da Presença Divina”. A este alcance da presença do Rei imortal, testificam os versículos do Livro, alguns dos quais já mencionamos. Deus, Uno e Verdadeiro, é minha testemunha! Nada se revelou no Alcorão mais elevado ou mais explícito que o “alcance da Presença Divina”. Feliz quem a tenha alcançado no tempo em que a maioria do povo, assim como vedes, dela se afastou.
E todavia, por causa do mistério do primeiro versículo, estas pessoas se afastaram da graça prometida pelo último, apesar do fato de ser explicitamente mencionado no Livro o “alcance da Presença Divina” no “Dia da Ressurreição”. Já se demonstrou e estabeleceu definitivamente, por meio de provas claras, que “Ressurreição” significa o aparecimento do Manifestante de Deus para proclamar Sua Causa, e “alcançar a Presença Divina” quer dizer alcançar a presença de Sua Beleza na pessoa de Seu Manifestante. Pois em verdade, “Nenhuma visão O abrange, mas Ele abrange toda a visão.” (44) Não obstante todos estes fatos indubitáveis e exposições lúcidas, eles em sua insensatez se prenderam ao termo “Selo” e permaneceram completamente privados do reconhecimento d´Aquele que é o Revelador tanto do Selo como do Princípio, no dia de Sua Presença. “Se Deus fosse punir os homens pelas suas ações perversas, não deixaria sobre a terra nenhum ser vivente! Mas até um tempo marcado Ele lhes dá tréguas.” (45) Fora todas essas coisas, porém, se esse povo tivesse atingido uma gota das correntes cristalinas que emanam destas palavras: “Deus faz qualquer coisa que Ele queira, e ordena o que Lhe apraz”, não teria usado de cavilações indignas, como essas, contra o Centro focal da Sua Revelação. A Causa de Deus, todas as ações e palavras, estão seguras pela Mão do Seu poder. “Todas as coisas jazem presas na palma de Sua poderosa Mão; todas as coisas Lhe são possíveis e fáceis.” Ele executa qualquer coisa que queira e faz tudo o que deseje. “Quem disser “Por que?” ou “Qual o motivo?” terá pronunciado blasfêmia!” Se essas pessoas despertassem do sono da negligência e percebessem o que suas mãos fizeram, quereriam certamente perecer e por sua espontânea vontade se lançariam ao fogo – seu fim e verdadeira morada. Não ouviram o que Ele revelou: “A Ele não se perguntará sobre Seus atos”? (46) À luz destas afirmações, como pode o homem ter a audácia de interrogá-Lo e de ocupar-se com palavras vãs?
Deus misericordioso! A tal ponto chegaram a insensatez e a perversidade do povo, que voltaram a face para seus próprios pensamentos e desejos e viraram as costas para o conhecimento e a vontade de Deus – santificado e glorificado seja Seu Nome!
Sê justo: se essas pessoas admitissem a verdade destas luminosas palavras e santas alusões e reconhecessem Deus como “Aquele que faz tudo quanto quer”, como poderiam continuar presas a tão flagrantes absurdos? Não, com toda a alma aceitariam o que Ele dissesse e a isso se submeteriam. Deus é Minha Testemunha! Não fora o Decreto divino, com as inescrutáveis dispensações da Providência, e a própria terra teria destruído completamente todo esse povo! “Ele, entretanto, lhe dará tréguas até o tempo marcado num dia conhecido.”
Mil e duzentos e oitenta anos já passaram desde o amanhecer da Era Maometana, e, ao romper de cada dia, essas pessoas cegas e ignóbeis têm recitado seu Alcorão e, no entanto, nem conseguiram compreender uma letra sequer deste Livro! Repetidas vezes, lêem aqueles versículos que provam claramente a realidade desses temas santos e que dão testemunho da verdade dos Manifestantes da Glória eterna, mas ainda não percebem seu intuito. Nem mesmo puderam compreender, durante todo esse tempo, que em cada era a leitura das escrituras e dos livros sagrados não visa outro fim senão o de tornar o leitor capaz de compreender seu significado e de desenredar seus mais íntimos mistérios. De outro modo, apenas a leitura, sem compreensão, não é de proveito permanente para o homem.
E aconteceu que, certo dia, veio visitar esta Pessoa um homem necessitado e sequioso do oceano de Seu conhecimento. Durante a conversação com ele, foram mencionados os sinais do Dia do Juízo, da Ressurreição e da Renascença. Instou-Nos ele a que explicássemos como, nesta Era maravilhosa, os povos do mundo estavam sendo julgados sem que pessoa alguma o percebesse. Nós então lhe participamos, segundo a medida de sua capacidade e entendimento, certas verdades da Ciência e da Sabedoria antiga, depois do que perguntamos: “Não leste o Alcorão, e não conheces este versículo abençoado: - Naquele dia não se perguntará nem ao homem nem ao espírito sobre seu pecado -? (47) Não compreendes que perguntar não quer dizer perguntar com a língua ou com palavras, assim mesmo como o próprio versículo indica e prova?” Porque depois se diz: “Pelo semblante serão conhecidos os pecadores, e eles serão agarrados pelas marrafas e pelos pés.” (47-A)
Assim os povos do mundo são julgados pelo seu semblante. Neste, sua descrença, sua fé e sua iniqüidade, todas se manifestam, do mesmo modo que, evidentemente, neste tempo, se conhece pelo semblante o povo do erro e o distingue dos que seguem a Luz divina. Se essas pessoas – somente por amor a Deus e sem outro desejo que Seu beneplácito – ponderassem no coração os versículos do Livro, haveriam de encontrar, certamente, tudo o que buscavam. Em seus versículos achariam, reveladas e manifestas, todas as coisas, quer grandes, quer pequenas, que têm sucedido nesta Era. Neles reconheceriam até referências à partida dos Manifestantes dos nomes e atributos de Deus de sua terra natal, à oposição e desdenhosa arrogância do governo e do povo e à ida do Manifestante Universal para uma terra determinada, especialmente escolhida, onde estabeleceria residência. Homem algum, porém, pode compreender isso, a não ser quem possua um coração esclarecido.
Selamos Nosso tema com aquilo que foi revelado outrora a Maomé, a fim de que seu selo possa emitir a fragrância daquele sagrado almíscar que conduz aos homens ao Ridván de esplendor que não fenece. Disse Ele – e Sua palavra é a verdade: “E Deus convoca para a morada da Paz; (48) e a quem Ele queira, guia para o Caminho certo.” (49) “Para eles há uma morada de Paz com seu Senhor! e Ele será seu Protetor por causa de suas obras.” (50) Isso tem Ele revelado para que Sua graça possa abranger o mundo. Louvores a Deus, Senhor de todos os seres!
Repetidamente e de várias maneiras, temos exposto o significado de cada tema, para que, porventura, toda alma, seja de alto grau ou humilde, possa disso obter sua parte e seu quinhão, de acordo com sua medida e capacidade. Caso não possa compreender certo argumento, poderá assim atingir seu objetivo, referindo-se a outro. “Para que toda espécie de homem possa saber onde satisfazer a sede.”
Por Deus! Esta Ave do Céu, que agora habita no pó da terra, pode emitir, além dessas melodias, miríades de canções, e desvendar, além dessas exposições, inumeráveis mistérios. Cada letra das suas palavras ainda não pronunciadas está imensuravelmente enaltecida acima de tudo o que já revelou, e imensamente glorificada além daquilo que emanou desta Pena. Que o futuro revele a hora em que as Noivas do sentido interior, segundo decretar a Vontade Divina, se apressarão para sair, sem véus, de suas místicas mansões, e se manifestar no reino antigo da existência. Nada em absoluto é possível sem Sua permissão; poder algum subsistirá a não ser através de Seu poder, e não há outro Deus, senão Ele. Seu é o mundo da criação; Sua, a Causa de Deus. Todos proclamam Sua Revelação e todos desvendam os mistérios de Seu Espírito.
Nas páginas precedentes já designamos dois graus para cada um desses Luminares oriundos das Auroras da santidade eterna. Um deles, o grau da unidade essencial, já explicamos. “Nenhuma distinção fazemos entre eles.” (51) O outro é o grau da distinção e pertence ao mundo da criação e às suas limitações. Neste sentido, cada Manifestante de Deus tem uma individualidade distinta, sua Missão definitivamente prescrita, uma Revelação predestinada e limitações especialmente designadas. Cada um deles é conhecido por um nome diferente, é caracterizado por um atributo especial, cumpre uma certa Missão e lhe é confiada uma Revelação distinta. Assim mesmo como Ele diz: “A alguns dos Apóstolos Nós fizemos exceder aos outros. A alguns Deus falou e a alguns elevou e enalteceu. E a Jesus, Filho de Maria, demos sinais manifestos e Nós O fortalecemos com o Espírito Santo.” (52)
É por causa desta diferença em seu grau e sua missão, que as palavras que provêm desses Mananciais do conhecimento divino parecem divergir. Não fora isso, e todas as suas palavras – aos olhos daqueles iniciados nos mistérios da sabedoria divina – seriam, na realidade, apenas expressões de uma mesma Verdade. Como a maioria dos homens não soube apreciar esses graus aos quais nos referimos, sente-se, portanto, confusa e atônita diante das afirmações tão divergentes pronunciadas por Manifestantes que são, essencialmente, um e o mesmo.
Sempre foi evidente que todas essas divergências de expressão são devidas às diferenças de grau. Assim, pois, quando aquelas Essências da existência são consideradas do ponto de vista de sua unidade e seu sublime desprendimento, os atributos de Deidade, Divindade, Suprema Unicidade e Mais Íntima Essência, lhes têm sido e são aplicáveis, já que todas permanecem no trono da Revelação divina, estabelecidas sobre o assento da Ocultação divina. Com seu aparecimento, a Revelação de Deus se manifesta, e através de seu semblante, a Beleza de Deus se revela. Assim é que se têm ouvido os acentos do próprio Deus pronunciados por esses Manifestantes do Ser Divino.
Vistos à luz de seu segundo grau – o grau da distinção, da diferenciação, das limitações, características e normas temporais – eles manifestam servitude absoluta, extrema beleza e abnegação completa. Assim como Ele diz: “Sou o servo de Deus. Sou apenas um homem como vós.”
Em vista destas afirmações incontrovertíveis e plenamente demonstradas, esforça-te para entender o que significam as perguntas que fizeste, para que te possas tornar firme na Fé de Deus e não te perturbes com as divergências nas palavras dos Seus Profetas e Eleitos.
Se qualquer um dos Manifestantes de Deus – Aqueles que a tudo abrangem – declarasse: “Sou Deus!”, Ele certamente diria a verdade, sem a menor dúvida. Pois já foi demonstrado, repetidas vezes, que, através de sua Revelação, seus atributos e nomes, se tornam manifestos no mundo a Revelação, o Nome e os atributos de Deus. Assim Ele revelou: “Aqueles dardos pertenciam a Deus; não foram Teus!” (53) E diz também: “Em verdade, aqueles que hipotecaram fidelidade a Ti, hipotecaram, realmente, fidelidade a Deus.” (54) E se qualquer deles proferisse estas palavras: “Sou o Mensageiro de Deus”, Ele também estaria dizendo a verdade, a verdade indubitável. Assim como Ele diz: “Maomé não é pai de homem algum entre vós, mas Ele é o Mensageiro de Deus.” Vistos a essa luz, todos eles são apenas Mensageiros daquele Rei ideal, daquela Essência imutável. E se todos proclamassem: “Sou o Selo dos Profetas”, realmente só diriam a verdade, sem qualquer sombra de dúvida. Pois eles todos não são mais que uma só pessoa, uma só alma, um só espírito, um único ser, uma única revelação. Todos manifestam o “Princípio” e o “Fim”, o “Primeiro” e o “Último”, o “Visível” e o “Oculto” – tudo o que se refere Àquele Que é o mais íntimo Espírito dos Espíritos e a eterna Essência das Essências. E se dissessem: “Somos os servos de Deus”, (55) isso também é um fato manifesto e indiscutível. Pois eles se manifestaram no máximo grau de servitude – como nunca homem algum atingirá. Assim, essas Essências da vida, em momentos em que estavam profundamente imersas nos oceanos da antiga e sempiterna santidade, ou quando se elevavam até os mais sublimes ápices dos mistérios divinos, declaravam ser sua voz a Voz da Divindade, o Chamado do próprio Deus.
Se os olhos do discernimento se abrissem, perceberiam que, até neste estado, eles se consideravam a si mesmos como inteiramente obliterados e inexistentes diante d´Aquele Que é o Onipresente, o Incorruptível. Parece-me que a si mesmos se julgaram um simples nada e acharam sua própria menção naquela Corte um ato de blasfêmia. Pois o menor sussurro do ego dentro daquela Corte, evidencia engrandecimento próprio e existência independente. Aos olhos dos que atingiram essa Corte, meramente sugerir isso é, em si, uma grave transgressão. Quanto mais grave seria, se qualquer outra coisa fosse mencionada naquela Presença, se o coração do homem, a língua, a mente, ou a alma, se ocupasse com alguém que não fosse o Bem-Amado, se os olhos contemplassem qualquer outro semblante e não Sua beleza, se o ouvido se inclinasse para alguma outra melodia em vez de Sua voz e os pés algum caminho trilhassem que não fosse o Seu.
Neste dia sopra a brisa de Deus, e Seu Espírito atingiu todas as coisas. Tão grande é a efusão de Sua graça que a pena deixa de se mover e a língua emudece.
Em virtude deste grau, reclamaram para si a Voz da Divindade e coisas semelhantes, enquanto declarando, em virtude de seu grau de Mensageiro, que eram os Mensageiros de Deus. Em cada caso, pronunciavam aquilo que conformava às exigências da ocasião e atribuíam a si próprios todas essas declarações – declarações que se estendem desde o reino da Revelação divina até o reino da criação, e desde o domínio da Divindade até mesmo o domínio da existência terrestre. Assim é que, seja qual for sua asserção – quer se refira ao reino da Divindade, ou ao de Senhor, ou Profeta, Mensageiro, Guardião, ou Apóstolo, ou ao da Servitude – indubitavelmente, tudo é verdade. Essas asserções, portanto, que citamos para sustentar Nosso argumento, devem ser consideradas atentamente, a fim de que as declarações divergentes feitas por esses Manifestantes do Invisível, essas Auroras da Santidade, deixem de agitar a alma e confundir a mente.
Indispensável se torna ponderar aquelas palavras proferidas pelos Luminares da Verdade e, caso não seja percebido seu sentido, buscar dos Depositários da Sabedoria, esclarecimento, para que estes exponham seu significado e desvendem seu mistério. Pois não compete a homem algum interpretar as palavras santas de acordo com seu próprio entendimento imperfeito, nem lhes rejeitar e repudiar a verdade por as haver achado contrárias à sua própria inclinação ou aos seus próprios desejos. Pois é assim que fazem hoje os sacerdotes e sábios da época, aqueles que ocupam os assentos do conhecimento e da erudição e que denominam de sabedoria, a ignorância e de justiça, a opressão. Se estes perguntassem à Luz da Verdade sobre aquelas imagens esculpidas pela vã fantasia e achassem a resposta inconsistente com seus próprios conceitos e sua própria interpretação do Livro, denunciariam, certamente, como sendo a própria negação do entendimento, Aquele que é a Mina e o Manancial de todo o Saber. Tais coisas acontecem em cada era.
Quando se perguntou, por exemplo, a Maomé, Senhor da existência, sobre as luas novas, Ele respondeu, segundo Lhe fora ordenado por Deus: “São períodos marcados para os homens.” (56) Então aqueles que O ouviram imputaram-Lhe ignorância.
Outrossim, no versículo relativo ao “Espírito”, Ele diz: “E Te perguntarão sobre o Espírito. Dize: - o Espírito procede segundo o mando de Meu Senhor. –“ (57) Logo que Maomé deu esta resposta, todos protestaram clamorosamente, dizendo: “Ei-lo! Um homem ignorante, que não sabe o que é o Espírito, se diz o Revelador do Conhecimento divino!” E vê tu agora os sacerdotes do tempo, que, por serem honrados pelo Seu Nome, e vendo que os pais reconheceram Sua Revelação, se submeteram cegamente à Sua verdade. Observa: se essas pessoas hoje recebessem tais respostas a semelhantes perguntas, haveriam de as rejeitar e denunciar sem a mínima hesitação – ainda mais, pronunciariam outra vez as mesmíssimas cavilações, como realmente têm pronunciado neste dia. Tudo isso, não obstante o fato de que essas Essências da existência estejam imensamente elevadas acima de tais imagens fantásticas, imensuravelmente glorificadas além de todas essas palavras vãs e acima da compreensão de cada coração esclarecido. A chamada erudição dessas pessoas, quando comparada com aquele Conhecimento, é pura falsidade, e todo o seu entendimento nada mais é que erro evidente. Não, qualquer coisa que proceda daquelas Minas da Sabedoria divina e daqueles Tesouros do conhecimento eterno, é a verdade, e nada senão a verdade. O ditado: “O conhecimento é um ponto só, o qual os insensatos multiplicaram” é uma prova do Nosso argumento, e a tradição: “O conhecimento é uma luz que Deus faz penetrar no coração de quem Ele queira”, confirma o que Nós dissemos.
Por não haverem percebido o que significa Conhecimento e tendo chamado por este nome aquelas imagens formadas pela sua própria fantasia e derivadas das personificações da ignorância, eles afligiram à Fonte do Conhecimento aquilo que tu presenciaste e de que ouviste falar.
Certo homem, (58) por exemplo, que era célebre por sua erudição e suas realizações e se considerava a si mesmo um dos líderes proeminentes de seu povo, denunciou e vilipendiou em seu livro todos os expoentes da verdadeira erudição. Tanto por afirmações explícitas como por alusões em toda sua obra, isso é tornado perfeitamente claro. Como havíamos ouvido falar nele muitas vezes, intentamos ler algumas de suas obras. Embora nunca nos sentíssemos dispostos a examinar os escritos de outrem, achamos necessário, por haverem algumas pessoas Nos perguntado a seu respeito, referir-nos a seus livros a fim de podermos responder a Nossos interrogadores com conhecimento e compreensão. Suas obras na língua árabe, entretanto, não estavam disponíveis, até que, um dia, certo homem nos informou que se encontrava nesta cidade uma de suas composições, intitulada Irshád u´l-Avám. (59) Deste título percebemos o odor do orgulho e da vanglória, pois ele se imaginava um homem erudito e considerava ignorante o resto do povo. O próprio título que escolhera para seu livro revelava, de fato, seu valor. Tornou-se evidente que o autor estava seguindo o caminho do ego e do desejo e se perdendo no deserto da ignorância e da insensatez, esquecido, ao que me parece, da conhecida tradição que diz: “O conhecimento é tudo o que é cognoscível; e força e poder, toda a criação.” Mandamos vir o livro, entretanto, e o tivemos conosco por alguns dias. Provavelmente duas vezes o abrimos. A segunda vez encontramos por acaso, a história do “Mi´ráj” (60) de Maomé, de Quem se disse: “Se não fosses Tu, Eu não teria criado as esferas.” Notamos que ele enumerara umas vinte ou mais ciências, o conhecimento das quais lhe parecia essencial à compreensão do mistério do “Mi´ráj”. Deduzimos de suas asserções que, a menos que um homem estivesse profundamente versado em todas, nunca haveria de adquirir o devido entendimento de tão transcendente e elevado tema. Entre as ciências especificadas, incluíam-se as abstrações metafísicas, a alquimia e a magia natural. Conhecimentos tão inúteis e desprezíveis, esse homem os julgou essenciais à compreensão dos sagrados e imperecíveis mistérios do Conhecimento Divino.
Deus misericordioso! Tal é a medida de seu entendimento. E no entanto, vê que cavilações e calúnias ele amontoou sobre aquelas Personificações do infinito Conhecimento de Deus! Bem se disse, e com acerto: “Atiras tuas calúnias na face d´Aqueles que Deus, Uno e Verdadeiro, fez os Depositários dos tesouros de Sua sétima esfera?” Coração algum, nem mente alguma dotada de compreensão, nem mesmo um só entre os sábios e eruditos, tem prestado atenção a essas afirmações absurdas. Claro e evidente se torna, a todo coração capaz de discernir, o fato de que essa suposta erudição é e sempre foi rejeitada por Aquele que é o Deus Único e Verdadeiro. Como pode o conhecimento dessas ciências, tão desprezíveis aos olhos dos verdadeiros sábios, ser considerado essencial à compreensão dos mistérios do “Mi´ráj”, quando o próprio Senhor do “Mi´ráj” nunca se onerou de uma letra sequer desses conhecimentos limitados e obscuros e nunca corrompeu o coração radiante com qualquer dessas ilusões fantásticas? Com quanta verdade disse: “Todo empreendimento humano se move sobre um asno coxo, enquanto a Verdade, levada pelos ventos, relampeja através do espaço.” Pela justiça de Deus! Quem tiver o desejo de sondar o mistério do “Mi´ráj”, quem almejar uma gota deste oceano, se o espelho de seu coração já estiver obscurecido pela poeira de tais conhecimentos, deverá forçosamente limpá-lo e purificá-lo antes que a luz deste mistério nele se possa refletir.
Neste Dia, os que estão submersos no oceano do Conhecimento antigo e habitam na arca da sabedoria divina, vedam ao povo tão fúteis estudos. Seus corações radiantes – louvado seja Deus! – estão santificados de todo traço de tal conhecimento e elevados acima de tão lastimáveis véus. Já consumimos este, o mais denso de todos os véus, com o fogo do amor ao Amado – o véu ao qual se referem estas palavras: “O mais lastimável de todos os véus é o véu da erudição.” Sobre suas cinzas erigimos o tabernáculo do Conhecimento Divino. Louvado seja Deus! Temos queimado os “véus da glória” com o fogo da beleza do Mais-Amado. Do coração humano, tudo temos expulsado, salvo Aquele Que é o Desejo do mundo, e nisso nos gloriamos. A conhecimento algum nos prendemos, senão a Seu Conhecimento, e não atamos nossos corações a outra coisa que à fulgente glória de Sua Luz.
Admiramo-nos sumamente ao observar que foi seu único objetivo dar a entender ao povo que ele mesmo possuía todos esses conhecimentos. E no entanto – invoco o testemunho de Deus – nenhuma brisa soprando dos prados do Conhecimento Divino atingiu ainda sua alma, nem ele jamais desvendou um mistério sequer da Sabedoria Antiga. Não, se se expusesse a ele o significado do Conhecimento, assombro encher-lhe-ia o coração e todo o seu ser se abalaria profundamente. Não obstante suas asserções insensatas e desprezíveis, eis a altura da extravagância atingida pelas suas pretensões!
Deus bondoso! Quão grande é Nosso espanto ao vermos como o povo se tem ajuntado a seu redor e hipotecado lealdade à sua pessoa. Contentes com o pó transitório, essas pessoas para ele se voltaram, dando as costas Àquele Que é o Senhor dos Senhores. Satisfeitas com o grasnar da gralha e apaixonadas pela aparência do corvo, renunciaram à melodia do rouxinol e ao encanto da rosa. Que indizíveis sofismas são revelados com a leitura desse livro pretensioso! São muito indignos para serem descritos por qualquer pena e tão desprezíveis que nem sequer merecem um momento de atenção. Se fosse encontrada uma pedra de toque, porém, esta distinguiria instantaneamente entre a verdade e a falsidade, a luz e as trevas, o sol e a sombra.
Entre as ciências professadas por esse pretensioso, figura a alquimia. Nutrimos a esperança de que um rei, ou algum homem de poder proeminente, o mande trasladar esta ciência do reino da fantasia para o domínio do fato e elevá-la do plano da mera pretensão ao da verdadeira realização. Oxalá pudesse este indouto e humilde Servo – que nunca aspirou a tais coisas, nem as considerou como critério do verdadeiro conhecimento – empreender a mesma tarefa, para que, deste modo, se conhecesse a verdade e a distinguisse da falácia. Mas com que proveito? Tudo o que essa geração Nos pode oferecer foram feridas infligidas pelos seus dardos e o único cálice que apresentou aos Nossos lábios foi o cálice de seu veneno. Em Nosso pescoço temos ainda a marca das correntes e em Nosso corpo estão impressas as evidências de uma crueldade implacável.
E quanto às realizações desse homem, sua ignorância, seu entendimento e sua crença, vê o que foi revelado pelo Livro que abrange todas as coisas: “Em verdade, a árvore de Zaqqúm (61) será o alimento do Athim.” (62) Seguem então certos versículos, até onde Ele diz: “Experimenta isto, pois tu, em verdade, és o grande Karim!” (63) Considera tu quão clara e explicitamente ele foi descrito no Livro incorruptível de Deus. Ainda mais, esse homem, em seu próprio livro, fingindo humildade, ser referiu a si mesmo como o “athim servo”: “Athim” no Livro de Deus, poderoso entre a plebe, “Karim” em nome!
Pondera o sagrado versículo, para que se imprima sobre a tábua do teu coração o significado destas palavras: “Nenhuma coisa há, verde ou seca, que não seja notada no Livro infalível.” (64) Não obstante, multidões prestam-lhe lealdade. Rejeitando o Moisés do conhecimento e da justiça, aderiram ao Samiri (65) da ignorância. Do Sol da Verdade que brilha no céu divino e sempiterno, viraram seus olhos e desprezaram-lhe totalmente o esplendor.
Ó meu irmão! Somente da Mina de Deus provêm as jóias do Conhecimento Divino; a fragrância da Flor mística não pode ser inalada, senão no Jardim ideal e os lírios da sabedoria antiga em lugar algum desabrocharão, salvo na cidade de um coração imaculado. “Num solo fértil, suas plantas brotam em abundância, por permissão de seu Senhor, e no solo que é estéril, só escassamente.” (66)
Já que se tornou claro que só aqueles iniciados nos mistérios divinos podem compreender as melodias cantadas pela Ave do Céu, incumbe, pois, a cada um recorrer aos iluminados de coração e aos Tesouros dos mistérios divinos em busca de esclarecimento sobre os pontos intrincados da Fé Divina e as alusões abstrusas nas palavras proferidas pelas Auroras da Santidade. Assim se desvendarão estes mistérios, não por meio da erudição adquirida, mas tão-somente pela ajuda de Deus através das emanações de Sua graça. “Perguntai, portanto, àqueles que são os guardiões das Escrituras, se não o sabeis.” (67)
Mas, ó meu irmão, quando aquele que verdadeiramente deseja, resolve dar o passo da busca no caminho que conduz ao conhecimento do Ancião dos Dias, ele deve, antes de tudo, limpar e purificar seu coração, que é a sede da revelação dos íntimos mistérios de Deus – deve livrá-lo do pó de todo o conhecimento adquirido que o obscurece e das alusões daqueles que personificam a fantasia satânica. Terá que purificá-lo de tudo aquilo que o possa poluir – pois que é o santuário do amor imperecível do Bem-Amado – e santificar sua alma de tudo o que pertença à água e ao barro, de todos os laços sombrios e efêmeros. A tal ponto deverá ele limpar seu coração que vestígio algum, nem de amor nem de ódio, nele permaneça, para que esse amor não o incline cegamente ao erro, nem tampouco esse ódio o repila da verdade, pois vês hoje como a maioria do povo, por causa desse amor ou desse ódio, se priva da Face imortal, se desvia d´Aqueles que incorporam os mistérios divinos e vagueia, sem pastor, nas solidões do esquecimento e do erro. Aquele que busca a verdade deve, em todos os tempos, confiar em Deus, renunciar aos povos da terra, desprender-se do mundo do pó e apoiar-se n´Aquele que é o Senhor dos Senhores. Jamais quererá enaltecer-se a si próprio acima de qualquer outro; deverá, sim, apagar da tábua do coração o último traço de orgulho e vanglória, firmar-se na paciência e na resignação, observar silêncio e abster-se de palavras vãs. Pois a língua é um fogo em brasas, e o excesso de palavras é veneno mortal. O fogo material consome o corpo, enquanto que o fogo da língua devora tanto o coração como a alma. A força do primeiro dura apenas pouco tempo, mas os efeitos do último persistem por um século.
Aquele que busca deve considerar a calúnia como um erro grave e manter-se afastado de seu domínio, pois que ela apaga a luz do coração e extingue a vida da alma. Ele deve contentar-se com pouco e purificar-se de todo desejo desmedido. Deve estimar como um tesouro a companhia dos que renunciaram ao mundo, e ver que lhe traz um benefício precioso evitar os homens jactanciosos e mundanos. Incumbe-lhe, ao alvorecer de cada dia, comungar com Deus e perseverar de toda a alma na busca do Bem-Amado. Com a chama de Sua amorosa menção, deve ele consumir todo pensamento refratário e passar, com a celeridade do relâmpago, tudo, salvo Ele. É seu dever socorrer aos desvalidos e nunca negar aos necessitados seu favor. Cumpre-lhe mostrar bondade para com os animais; quanto mais para com seus semelhantes, aqueles dotados do poder da expressão. Não deve ele hesitar em oferecer a sua vida pelo Bem-Amado, nem deve permitir jamais que a censura do povo o desvie da Verdade. Que não deseje para os outros aquilo que não deseja para si próprio, nem prometa o que não cumpre. De coração deve esse que busca, evitar a companhia dos perversos e orar para que lhes sejam remidos os pecados. Deve perdoar o pecador e nunca desprezá-lo por causa de seu baixo estado, pois ninguém sabe qual será seu próprio fim. Quantas vezes um pecador, na hora da morte, atinge à essência da fé e, sorvendo a poção imortal, alça seu vôo para a Assembléia Celestial. E quantas vezes um fervoroso crente, na hora da ascensão de sua alma, se transforma a ponto de cair no mais ínfimo fogo. Visamos, com a revelação destas palavras ponderáveis e convincentes, imprimir na consciência daquele que busca, seu dever de considerar como transitório tudo, salvo Deus e de avaliar como simplesmente nada todas as coisas, a não ser Aquele que é o Objeto de toda a adoração.
Eis o que figura entre os atributos dos seres elevados e é o que distingue os espiritualistas. Essas qualidades já foram mencionadas em relação aos requisitos para os peregrinos no Caminho do Conhecimento Positivo. Quando o peregrino desprendido, que sinceramente almeja, tiver preenchido essas condições essenciais, então, e somente então, poderá ele ser contado entre aqueles que em verdade buscam. Sempre que tenha cumprido as condições entendidas no versículo: “Qualquer um que faça esforços por Nós”, haverá ele de fruir da bênção conferida nas palavras “Em Nossos caminhos, seguramente, Nós o guiaremos.” (67-A)
Somente quando a lâmpada da busca, do esforço zeloso, do anelo, da apaixonada devoção, do amor fervoroso, do enlevo, do êxtase, for acesa no coração de quem almeja e a brisa de Sua benevolência lhe soprar na alma, serão dispersadas as trevas do erro e dissipadas as neblinas das dúvidas e desconfianças, e as luzes do conhecimento e da certeza irradiarão por todo o seu ser. Nesta hora, o Arauto místico, trazendo as jubilosas novas do Espírito, luzirá da Cidade de Deus, resplendente como o amanhecer e, com o toque de trombeta da sabedoria, despertará de seu sono de negligência, o coração, a alma e o espírito. Então os múltiplos favores e graças emanadas do santo e eterno Espírito conferirão uma nova vida àquele que busca, a ponto de ele verificar que foi dotado de nova visão e de um ouvido novo, de um novo coração e de uma mente nova. Ele contemplará os sinais manifestos do universo e penetrará nos mistérios ocultos da alma. Fitando com os olhos de Deus, perceberá dentro de cada átomo uma porta que o conduz aos níveis da certeza absoluta. Descobrirá em todas as coisas os mistérios da Revelação Divina e as evidências de uma manifestação imperecedoura.
Afirmo por testemunho de Deus! Se aquele que trilha o reto caminho e procura ascender às alturas da justiça, lograsse alcançar este grau glorioso e supremo, ele inalaria a fragrância de Deus a uma distância de mil léguas, e presenciaria o amanhecer resplandecente de uma divina Luz guiadora surgindo acima da aurora de todas as coisas. Toda e qualquer coisa, por menor que fosse, ser-lhe-ia uma revelação que o conduziria ao Bem-Amado, Objeto de sua busca. Tão grande será o discernimento desse peregrino, que poderá discriminar entre a verdade e a mentira assim como ele distingue entre o sol e a sombra. Se as doces fragrâncias de Deus forem emitidas dos mais longínquos confins do Oriente, ele, seguramente, reconhecerá e inalará seu perfume, ainda que habite nas mais remotas regiões do Ocidente. Discernirá também, claramente, todos os sinais de Deus – Suas admiráveis palavras, Suas grandes obras, Seus atos poderosos – distinguindo-os das ações, palavras e comportamento dos homens, semelhante ao joalheiro que conhece a jóia no meio das pedras sem valor, ou àquele que distingue a primavera do outono, e o calor do frio. Quando a alma humana se purificar de todos os laços obstrutores deste mundo, haverá de perceber, infalivelmente, o alento do Bem-Amado através de desmedidas distâncias e, guiada por seu perfume, alcançar a Cidade da Certeza e nela ingressar. Ali serão discernidas, por aquele que busca, as maravilhas de Sua sabedoria antiga e no farfalhar das folhas da Árvore que floresce nessa Cidade, serão percebidos todos os preceitos ocultos. Com os ouvidos interiores, bem como os exteriores, ouvirá ele os hinos de glória e louvor ascendendo de seu pó, ao Senhor dos Senhores, e com os olhos interiores descobrirá os mistérios do “regresso” e da “revivescência”. Quão indizivelmente gloriosos são os sinais, as revelações e os esplendores destinados a essa Cidade por Aquele que é o Rei dos nomes e atributos. Quem alcança essa Cidade, satisfaz sua sede sem água, e sem fogo acende a chama do amor divino. Cada folha de grama encerra os mistérios de uma sabedoria inescrutável e sobre cada roseira, miríades de rouxinóis, em êxtase jubiloso, emitem sua melodia. Suas tulipas admiráveis revelam os mistérios da Sarça Ardente e suas doces fragrâncias de santidade transmitem o perfume do Espírito Messiânico. Nessa Cidade, a riqueza é conferida sem ouro e a imortalidade, sem morte. Em cada folha estão entesouradas delícias inefáveis e dentro de cada aposento se ocultam mistérios sem conta.
Aqueles que valorosamente se empenham na busca da Vontade de Deus, uma vez que renunciem a tudo, salvo a Ele, afeiçoar-se-ão a essa Cidade e tanto se lhe prenderão que inconcebível lhes seria separar-se por um momento sequer. Provas infalíveis escutarão eles do Jacinto dessa assembléia e os mais seguros testemunhos ouvirão da beleza de sua Rosa e da melodia de seu Rouxinol. Uma vez em cerca de mil anos haverá essa Cidade de se renovar e mais uma vez ser adornada.
Cumpre-nos, pois, ó meu amigo, fazer o máximo esforço para que alcancemos essa Cidade e, pela graça e benevolência de Deus, rasguemos os “véus da glória”; de modo que, com uma constância inabalável, possamos sacrificar as nossas almas languescentes no caminho do Novo Amado. Com olhos lacrimosos Lhe devemos implorar, fervorosa e repetidamente, que nos conceda o favor dessa graça. Essa Cidade não é senão o Verbo de Deus revelado em cada era. No tempo de Moisés, foi o Pentateuco; no de Jesus, o Evangelho; no de Maomé, o Mensageiro de Deus, o Alcorão; neste dia, o Bayán, e na era d´Aquele que Deus tornará manifesto, Seu próprio Livro – Livro esse ao qual todos os Livros das eras anteriores devem se referir, o Livro que sobressai entre todos eles, transcendente e supremo. Nessas Cidades, se providencia, generosamente, o sustento espiritual e deleites incorruptíveis têm sido ordenados. O alimento que elas dispensam é o pão celestial e o Espírito que transmitem é a imperecível bênção de Deus. Às almas desprendidas, concedem o favor da Unidade e aos desvalidos, riquezas; àqueles que vagueiam nas solidões da ignorância oferecem a taça do conhecimento. Toda a iluminação, todas as bênçãos, a erudição, a compreensão, a fé e a certeza que foram conferidas a tudo o que existe no céu e na terra, se ocultam dentro dessas Cidades – nelas estão entesouradas.
O Alcorão, por exemplo, foi uma fortaleza inexpugnável para o povo de Maomé. Em Seus dias, qualquer um que nela entrasse era protegido contra os ataques diabólicos, os dardos ameaçadores, as dúvidas que devoram a alma e os sussurros blasfemos do inimigo. Também lhe foi concedida uma parte dos bons frutos eternos – os frutos da sabedoria, colhidos da Árvore divina. Foi-lhe permitido beber das águas incorruptíveis do rio do conhecimento e saborear o vinho dos mistérios da Unidade divina.
Todas as coisas de que o povo necessitava, relativas à Revelação de Maomé e às Suas leis, se encontraram reveladas e manifestas naquele Ridván de glória resplandecente. Esse Livro constitui um testemunho duradouro para seu povo, depois de Maomé, desde que sejam indisputáveis seus decretos e infalível sua promessa. A todos se exortou seguir os preceitos desse Livro até “o ano sessenta” (68) ano do advento do maravilhoso Manifestante de Deus. É esse o Livro que, infalivelmente, conduz aquele que busca, ao Ridván da Presença Divina, e a quem abandona sua terra e trilha o caminho da busca, faz entrar no Tabernáculo da reunião eterna. Sua orientação jamais poderá errar nem seu testemunho ser por outro superado. Todas as outras tradições, todos os demais livros e anais, estão destituídos de tal distinção, desde que as tradições, bem como aqueles que as transmitiram, são confirmados e provados somente pelo texto desse Livro. Além disso, as próprias tradições diferem, deploravelmente, e múltiplas são suas obscuridades.
O próprio Maomé, ao aproximar-se o fim de Sua missão, pronunciou estas palavras: “Verdadeiramente, deixo entre vós Meus ponderáveis testemunhos gêmeos: o Livro de Deus e Minha Família.” Embora muitas tradições tivessem sido reveladas por aquele Manancial de Profecia e Fonte de Iluminação divina, Ele, no entanto, mencionou somente esse Livro, assinalando-o, assim, como o mais poderoso instrumento e o mais seguro testemunho para quem busca; um guia para o povo até o Dia da Ressurreição.
Com visão inalterável, com coração puro e espírito santificado, deves tu considerar atentamente o que Deus estabeleceu como testemunho para guiar Seu povo, em Seu Livro, o qual é reconhecido como autêntico por todos, sejam de alto grau, ou humildes. Nesse testemunho, nós ambos, bem como todos os povos do mundo, nos devemos apoiar, para que através de sua luz, possamos conhecer e distinguir entre a verdade e a falácia, o certo e o errado. Desde que Maomé limitou Seus testemunhos a Seu Livro e Sua Família e já esta passou, só Lhe resta o Livro como Seu testemunho único entre o povo.
No começo de Seu Livro, Ele diz: “Alif, Lám. Mim. Nenhuma dúvida há acerca deste Livro. É um guia para aqueles que temem a Deus.” (69) As letras soltas do Alcorão encerram os mistérios da Essência Divina e dentro de suas conchas estão entesouradas as pérolas de Sua Unidade. Por falta de espaço, não nos estendemos sobre elas, no momento. Exteriormente, significam o próprio Maomé, a quem Deus se dirige, dizendo: “Ó Maomé, não há dúvida nem incerteza sobre esse Livro que foi enviado do céu da Unidade Divina. Nele se encontra orientação para aqueles que temem a Deus.” Considera tu como Ele designou esse mesmo Livro, o Alcorão, decretando que guiasse todos os que estão no céu e na terra. Ele, o Ser Divino, a Essência incognoscível, Ele Mesmo, testificou ser esse Livro, além de toda dúvida e incerteza, o guia de todo o gênero humano até o Dia da Ressurreição. E agora perguntamos, será justo que esse povo olhe com dúvida e desconfiança esse, o mais ponderável Testemunho, cuja origem divina Deus proclamou, pronunciando-o a incorporação da verdade? Será justo que se afastem daquilo que Ele assinalou como o supremo Instrumento orientador para se alcançar os mais altos cumes do conhecimento, e busquem algo que não seja esse Livro? Como podem permitir que os absurdos e tolos dizeres dos homens lhes lancem no espírito as sementes da desconfiança? Como podem ainda sustentar, futilmente, haver certa pessoa falado desta ou daquela maneira, ou certa coisa deixado de se realizar? Se fosse concebível que algo além do Livro de Deus se provasse ser um instrumento mais poderoso e um guia mais seguro para a humanidade, teria Ele deixado de revelá-lo nesse versículo?
É mister não nos desviarmos da irresistível injunção de Deus e de Seu decreto fixo, segundo revelado no versículo já citado. Devemos aceitar as sagradas e maravilhosas Escrituras, pois deixando de assim o fazer, deixamos de admitir a verdade desse abençoado versículo. Evidentemente, quem tiver deixado de admitir a verdade do Alcorão, terá, de fato, deixado de admitir a verdade das Escrituras anteriores. Isto nada mais é que o sentido manifesto do versículo. Fossemos expor seus sentidos interiores e desdobrar seus mistérios ocultos, nem a eternidade seria suficiente para esgotar-lhes a significação, nem o universo seria capaz de ouvi-los! Deus atesta, realmente, a verdade das Nossas palavras!
Em outra passagem, também, diz ele: “Se tiverdes dúvida sobre aquilo que fizemos descer ao Nosso Servo, então produzi uma Surá igual, e convocai vossas testemunhas, além de Deus, se sois homens da verdade.” (70) Vê como é elevado o grau e consumada a virtude desses versículos que Ele declarou serem Seu testemunho mais seguro, Sua prova infalível, a evidência de Seu poder supremo e uma revelação da potência de Sua Vontade. Ele, o Rei divino, proclamou a supremacia incontestável dos versículos de Seu Livro acima de todas as coisas que atestam Sua verdade. Pois, comparados com todas as outras provas e evidências, os versículos divinamente revelados brilham como o sol, enquanto todas as demais são como estrelas. Para os povos do mundo, são eles o testemunho imperecedouro, a prova incontrovertível, a luz brilhante do Rei ideal. Sua excelência não tem rival; sua virtude é insuperável. São o tesouro das pérolas divinas, o santuário dos divinos mistérios. Constituem o Laço indissolúvel, a Corda firme, o Urvatu´l-Vuthqa, a Luz inextingüível. Através deles flui o rio do Conhecimento Divino e arde o fogo da Sua Sabedoria antiga e consumada. É o fogo que, no mesmíssimo instante, acende a chama do amor no coração do fiel e, no do inimigo, induz o frio da negligência.
Ó amigos! Não nos convém rejeitar a injunção de Deus; antes, devemos concordar e nos submeter àquilo que Ele ordenou como Seu Testemunho Divino. Esse versículo é uma asserção por demais ponderável e significativa, para ser esclarecida e demonstrada por esta alma oprimida. Deus diz verdade e aponta o caminho. Ele, em verdade, é supremo sobre todo o Seu povo; Ele é o Poderoso, o Benéfico.
Diz Ele, outrossim: “Tais são os versículos de Deus: com verdade, Nós a Ti os recitamos. Mas em qual revelação haverão eles de acreditar, se rejeitarem a Deus e Seus versículos?” (71) Se compreenderes aquilo em que implica esse versículo, reconhecerás a verdade de que jamais foi revelada uma manifestação maior que os Profetas de Deus, nem apareceu sobre a terra, em qualquer tempo, um testemunho mais poderoso que o testemunho dos Seus versículos revelados. Não, nunca poderá outro testemunho superar esse testemunho, a não ser aquele que o Senhor, teu Deus, queira.
Em outra passagem Ele diz: “Infeliz cada pecador mentiroso, que ouve recitar os versículos de Deus e então, como se não os tivesse ouvido, persiste em orgulhoso desdém! Adverte-lhe de um castigo penoso.” (72) Só as inferências desse versículo seriam suficientes para tudo o que está no céu e na terra, se o povo ponderasse os versículos de seu Senhor. Pois ouves dizer como, neste tempo, não obstante serem de origem divina, o povo os despreza, desdenhosamente, como se fossem de todas as coisas as de menos valor. E, todavia, nada maior que esses versículos jamais apareceu nem se manifestará no mundo! Dize-lhes: “Ó povo desatento! Vós repetis o que disseram vossos pais numa época passada. Quaisquer frutos que eles tenham colhido da árvore de sua infidelidade, os mesmos havereis vós também de colher. Dentro em breve sereis reunidos com os pais e com eles morareis em fogo infernal. Mau refúgio! A morada do povo da tirania.”
Em ainda outra passagem Ele diz: “E quando conhece quaisquer dos Nossos versículos, ele os ridiculariza. Há um castigo vergonhoso para eles!” (73) O povo observava irrisoriamente, dizendo: “Faze outro milagre e dá-nos outro sinal!” Dizia um: “Faze agora descer sobre nós uma parte do céu”; (74) e outro: “Se isso for a verdade mesma, provinda de Ti, faze choverem pedras do céu sobre nós.” (75) Do mesmo modo que o povo de Israel, no tempo de Moisés, trocava o pão do céu pelas coisas sórdidas da terra, assim, também esse povo quis permutar pelos seus próprios desejos desprezíveis, vãos, e abjetos, os versículos divinamente revelados. Semelhantemente, neste dia, como vês, embora haja descido do céu da misericórdia divina, o sustento espiritual emanado das nuvens de Sua benevolência, e se bem que os mares da vida, segundo o imperativo do Senhor de toda a existência, se movam dentro do Ridván do coração, esse povo, entretanto, voraz como os cães, juntou-se a redor de cadáveres e contentou-se com as águas estagnadas de um lago salino. Deus bondoso! Como é estranha a conduta dessas pessoas! Clamam por guia, ainda quando já foram içados os estandartes d´Aquele Que guia todas as coisas. Prendem-se às obscuras sutilezas da erudição, enquanto Ele, o Objeto de todo o conhecimento, brilha como o sol. Vêem o sol com os próprios olhos e ainda perguntam àquele Orbe radiante sobre a prova de Sua luz. Embora vejam sobre si descerem as chuvas primaveris, buscam, no entanto, evidência dessa graça. A prova do sol é sua própria luz, que ilumina e envolve todas as coisas. A evidência da chuva é seu benefício, ou seja, o de renovar e vestir o mundo com o manto da vida. Sim, o cego nada percebe do sol, senão seu calor, e o solo árido nenhum quinhão recebe das chuvas da misericórdia. “Não admires se, no Alcorão, o descrente nada perceber além do traço das letras, pois no sol o cego nada encontra, senão o calor.”
Em outra passagem, Ele diz: “E quando lhes são recitados Nossos versículos claros, seu único argumento consiste em dizer: “Restitui-nos nossos pais, se falais a verdade!” (76) Vê, que fúteis evidências pediram dessas Personificações de uma misericórdia que a tudo abarca! Zombaram dos versículos, uma só letra dos quais é maior que a criação dos céus e da terra e ressuscita, com o espírito da fé, os mortos no vale do ego e do desejo; e clamaram, dizendo: “Faze nossos pais apressarem-se em sair de seus sepulcros.” Tal foi a perversidade desse povo, tal seu orgulho. Cada um desses versículos é, para todos os povos do mundo, um testemunho infalível e uma prova gloriosa de Sua verdade. Cada um deles é, em verdade, suficiente para todo o gênero humano – se meditasses sobre os versículos de Deus. No próprio versículo mencionado, jazem ocultas pérolas de mistérios. Qualquer que seja o mal, o remédio por ele oferecido nunca poderá falhar.
Não atendas à vã asserção dos que mantêm que o Livro e seus versículos jamais servirão de testemunho para as massas, por não serem estas capazes de entender seu significado ou apreciar seu valor. E, todavia, o infalível testemunho de Deus, tanto para Leste como para Oeste, não é outro que o Alcorão. Se estivesse além da compreensão dos homens, como teria sido possível declará-lo um testemunho universal para todos? Se fosse verdade o que sustentam, de ninguém seria exigido conhecer a Deus, nem isto se tornaria necessário, desde que o conhecimento do Ser Divino transcende o conhecimento do Seu Livro, e a plebe não possuiria capacidade para compreendê-lo.
Tal asserção é inteiramente falaz e inadmissível. É motivada somente por arrogância e orgulho. Seu objetivo é fazer o povo desviar-se do Ridván da aprovação divina e sobre esse povo apertar as rédeas de sua autoridade. Todavia, aos olhos de Deus, o povo é infinitamente superior e enaltecido acima de seus líderes religiosos que se têm afastado do Deus Uno e Verdadeiro. A capacidade para entender Suas palavras e a compreensão das entoações das Aves do Céu, de modo algum dependem da erudição humana. Dependem tão somente da pureza de coração, da castidade de alma e da liberdade de espírito. Evidenciam isto aqueles que hoje, embora nunca adquirissem uma letra sequer de erudição segundo as normas aceitas, ocupam, no entanto, os mais altos lugares no domínio do conhecimento; e o jardim de seus corações está adornado, através das chuvas da graça divina, com as rosas da sabedoria e as tulipas do entendimento. Bem-aventurados os sinceros de coração por poderem participar da luz de um Dia grandioso!
E também Ele diz: “Quanto aos que não crêem nos versículos de Deus, nem acreditam que tenha, em algum tempo, de se encontrar com Ele – Minha misericórdia não lhes será concedida e um castigo penoso os espera.” (77) E ainda: “E eles dizem: - Deveremos então abandonar nossos deuses por um poeta enlouquecido? –“ (78) O sentido deste versículo está claro. Vê o que observaram depois de revelados os versículos. Chamaram-No de poeta, zombaram dos versículos de Deus e exclamaram, dizendo: “Essas palavras suas são apenas histórias de antepassados!” Com isso queriam dizer que aquelas palavras pronunciadas pelos povos da antigüidade, Maomé as havia compilado e chamado de Palavra de Deus.
Do mesmo modo, neste dia, ouviste o povo imputar a esta Revelação coisas iguais, dizendo: “Ele compilou essas palavras da antigüidade”, ou “essas palavras são espúrias.” Vãs e altivas são suas asserções, abjeto seu grau e vil sua condição!
Após as negações e denúncias que proferiram, às quais já nos aludimos, protestaram, dizendo: “Nenhum Profeta independente, segundo as nossas Escrituras, deverá surgir após Moisés e Jesus para abolir a Lei da Revelação Divina. Não, aquele que se há de tornar manifesto, deve, forçosamente, cumprir a Lei.” Revelou-se então este versículo, que indica todos os temas divinos e atesta a verdade de que a graça do Todo-Misericordioso jamais deixará de manar: “E José veio a vós antigamente com sinais claros, mas não deixastes de duvidar da mensagem com a qual Ele vos veio, até que, quando morreu, dissestes – Deus de modo algum levantará um Mensageiro depois d´Ele. – Assim Deus desencaminha aquele que transgride, que duvida.” (79) Portanto, deves entender este versículo e saber com certeza, que o povo em cada era, apegando-se a um versículo do Livro, têm pronunciado palavras tão absurdas e vãs, mantendo que nunca mais um Profeta haveria de se manifestar ao mundo. Assim mesmo como os sacerdotes cristãos, que, apoiando-se no versículo do Evangelho, ao qual já nos referimos, tentaram explicar que a lei do Evangelho nunca seria anulada e jamais um Profeta independente se tornaria manifesto, a menos que confirmasse a lei do Evangelho. A maior parte do povo já caiu vítima da mesma doença espiritual.
Assim como tu vês, o povo do Alcorão, semelhante ao povo da antigüidade, permitiu que as palavras “Selo dos Profetas” lhe velassem os olhos. Entretanto, eles próprios testemunham este versículo: “Ninguém o sabe interpretar, a não ser Deus e aqueles bem fundados no conhecimento.” (80) E quando Aquele bem fundado em todo o saber, Que lhe é a Mãe, a Alma, o Segredo e a Essência, revela algo que seja no mínimo grau contrário a seu desejo, fazem-Lhe violenta oposição e vergonhosamente O negam. A estes, já ouviste e testemunhaste. Tais ações e palavras foram instigadas somente pelos líderes de religião, aqueles que não adoram a outro Deus, senão seu próprio desejo, que a nada mostram lealdade, exceto ao ouro, que estão envolvidos nos mais densos véus da erudição e que, enredados pelas suas obscuridades, se perdem nas solidões do erro. Assim mesmo como declarou explicitamente o Senhor da existência: “Que pensas tu? Aquele que faz de suas paixões um deus e a quem Deus faz errar por causa de um conhecimento, cujos ouvidos e cujo coração Ele selou e sobre cuja vista Ele lançou um véu – quem guiará tal homem após sua rejeição por Deus? Não quereis, pois, ser advertidos?” (81)
Embora o sentido exterior de “A quem Deus faz errar por causa de um conhecimento” seja o que se já revelou, esse versículo significa para Nós, entretanto, aqueles eclesiásticos da época que se afastaram da Beleza Divina e, firmando-se em sua própria erudição, segundo fora moldada pelos seus próprios desejos e fantasias, denunciaram a Mensagem Divina e a Revelação de Deus. “Dize: é uma Mensagem grandiosa, esta da qual vos afastais!” (82) E também Ele diz: “E quando Nossos versículos claros lhes são recitados, dizem – É um simples homem que vos quereria desviar do culto de vosso pai. – E dizem – Isso nada mais é que uma mentira forjada. –“ (83)
Que dê ouvidos à santa Voz de Deus e atendas a Sua melodia suave e imortal. Vê como Ele admoestou solenemente àqueles que repudiaram os versículos de Deus e deserdou os que negaram Suas santas palavras. Considera tu a que ponto o povo se desviou do Kawthar da Presença Divina e como eram lastimáveis a infidelidade e a arrogância daqueles destituídos espiritualmente, à face dessa Beleza santificada. Embora essa Essência da benevolência e generosidade tivesse conduzido aqueles seres efêmeros para o reino da imortalidade e guiado ao sagrado rio da riqueza aquelas almas desprovidas, alguns, não obstante, denunciaram-No como “um caluniador de Deus, o Senhor de todas as criaturas”, outros acusaram-No de ser “aquele que impede o povo de seguir o caminho da fé e da crença verdadeira”, enquanto outros ainda O declararam “lunático”, e coisas semelhantes.
Também observas hoje com que imputações vis atacaram aquela Jóia da Imortalidade e quantas transgressões indizíveis amontoaram sobre Aquele que é a Fonte da pureza. Embora Deus, em todo o Seu Livro e em Sua Epístola santa e imortal, tenha advertido aqueles que negam e repudiam os versículos revelados e tenha anunciado Sua graça àqueles que os aceitam, vê tu, no entanto, as inúmeras cavilações que eles dirigiram contra esses versículos enviados do novo céu da eterna santidade de Deus! E isso, apesar do fato de que nunca se viu tão grande emanação de graças, nem se ouviu falar numa revelação de benevolência como esta. Tais foram as graças manifestadas e tal a revelação, que os versículos revelados pareciam chuvas primaveris caindo das nuvens da misericórdia do Todo-Generoso. Cada um dos “Profetas dotados de constância”, cuja sublimidade e glória brilham como o sol, foi honrado com um Livro que todos já viram e do qual os versículos foram devidamente averiguados, ao passo que versículos têm descido como chuva desta Nuvem da Misericórdia Divina, com tal abundância que ninguém ainda pode estimar seu número. Uns vinte volumes estão atualmente ao nosso dispor. Quantos ainda permanecem além de nosso alcance! Quantos foram roubados e caíram nas mãos do inimigo, sendo desconhecido seu destino.
Ó irmão, devemos abrir os olhos, meditar sobre Sua Palavra e buscar abrigo à sombra protetora dos Manifestantes de Deus, para que talvez sejamos advertidos pelos conselhos inequívocos do Livro e atendamos às admoestações registradas nas santas Epístolas; para que não zombemos do Revelador dos versículos; para que nos resignemos inteiramente à Sua Causa e abracemos, de todo coração, a Sua lei, de modo que possamos entrar, porventura, na corte de Sua misericórdia e habitar nas plagas de Sua graça. Ele, em verdade, é misericordioso e clemente para com Seus servos.
Outrossim, diz Ele: “Dizei, ó povo do Livro! Não é que vos recusais a reconhecer-nos somente porque cremos em Deus e naquilo que Ele nos enviou, bem como naquilo que
Ele fez descer outrora, e porque vós, na maioria, sois malfeitores?” (84) Quão explicitamente este versículo revela Nosso propósito, e com que clareza demonstra a verdade do testemunho dos versículos de Deus! Foi revelado num tempo em que o islã estava sendo atacado pelos infiéis e seus adeptos acusados de heresia, quando se denunciava aos Companheiros de Maomé como repudiantes de Deus e seguidores de um feiticeiro mentiroso. Nos primeiros tempos, quando, aparentemente, o islã estava ainda destituído de poder e autoridade, os amigos do Profeta, que haviam volvido a face para Deus, onde quer que fossem, eram atormentados, perseguidos, apedrejados e vilipendiados. Num tempo como esse, se fez descer do céu da Revelação Divina esse abençoado versículo que revelou evidência irrefutável e trouxe a luz da infalível guia. Segundo seu contexto, deveriam os companheiros de Maomé declarar o seguinte aos infiéis e idólatras: “Vós nos oprimis e perseguir e, no entanto, que fizemos nós além de crer em Deus e nos versículos que nos foram enviados por intermédio da língua de Maomé, e naqueles que desceram sobre os Profetas antigos?” Significa isto consistir em sua única falta em reconhecer que os novos e maravilhosos versículos de Deus, descidos sobre Maomé, bem como aqueles revelados aos Profetas de antanho, foram todos de Deus, e em admitir e abraçar sua verdade. É este o testemunho que o Rei Divino ensinou a Seus servos.
Em vista disto, será justo que esse povo repudie os versículos recentemente revelados, os quais percorreram tanto o Leste como o Oeste, e se considere a si próprio o sustentáculo da fé verdadeira? Não deveria, antes, crer n´Aquele que revelou esses versículos? Tomando-se em conta o testemunho que Ele mesmo estabeleceu, como poderia Ele deixar de considerar como verdadeiros crentes aqueles que afirmaram a verdade desse testemunho? Longe d´Ele repelir dos portais de Sua misericórdia aqueles que se dirigiram aos versículos divinos e lhes abraçaram a verdade; longe d´Ele ameaçar aqueles apegados a Seu testemunho seguro! Realmente, Ele estabelece a verdade através dos Seus versículos e confirma Sua revelação pelas Suas palavras. Ele, em verdade, é o Poderoso, o Amparo no perigo, o Onipotente.
E diz Ele também: “Tivéssemos Nós Te enviado um Livro escrito sobre pergaminho, e se o tivessem tocado com as mãos, seguramente, teriam dito os infiéis – Isso nada mais é que magia palpável -.” (85) A maior parte dos versículos do Alcorão indica este tema. Por querermos ser breves, mencionamos somente estes versículos. Reflete: ter-se-á estabelecido, no Livro inteiro, qualquer coisa a não ser os versículos, como critério para o reconhecimento dos Manifestantes de Sua Beleza e à qual o povo se pudesse apegar, vindo, assim a rejeitar os Manifestantes de Deus? Ao contrário, Ele em cada instância, ameaça de fogo àqueles que repudiam e ridicularizam os versículos, como já se mostrou.
Portanto, se aparecesse uma pessoa trazendo miríades de versículos, discursos, epístolas e orações, nenhum dos quais adquirido mediante estudo, que desculpa seria concebível para justificar aqueles que os rejeitam e se privam da potência de sua graça? Que resposta poderiam dar, uma vez que suas almas tivessem ascendido, partindo dos templos sombrios? Poderiam tentar justificar-se dizendo: “Aderimos a certa tradição e, não tendo visto seu cumprimento literal, usamos, pois, dessas cavilações contra Aqueles que incorporam a Revelação Divina e nos afastamos da lei de Deus”? Não ouviste dizer que uma das razões por que certos Profetas foram denominados “Profetas dotados de constância” foi a revelação a eles de um Livro? Como, no entanto, se justificar a rejeição, por parte desse povo, do Revelador e Autor de tantos volumes de versículos e sua adesão às palavras daquele que nesciamente lançou as sementes da dúvida nos corações dos homens e que, de um modo satânico, se levantou para conduzir o povo aos caminhos da perdição e do erro? Como podiam essas pessoas permitir que tais coisas as privassem da luz do Sol da generosidade divina? Além disso, se desprezassem e rejeitassem uma Alma tão divina, uma Emanação tão santa, a quem – perguntaríamos – poderiam apegar-se, e para cuja face, senão à Sua, volver-se? Sim – “Todos têm uma parte dos céus para onde volver-se”: (86) Nós te temos mostrado esses dois caminhos; que andes no caminho de tua escolha. Isso, de certo, é a verdade e, além da verdade, nada resta senão o erro.
Entre as provas que demonstram a verdade desta Revelação, figura a seguinte: em cada Era, sempre que a Essência invisível se revelava na pessoa de Seu Manifestante, certas almas sem renome, desprendidas de todo laço terreno, em busca de iluminação iam ao Sol profético e à Lua da guia divina e atingiam a Presença de Deus. Por esta razão, os eclesiásticos da época e os possuidores de riquezas, desprezavam essas pessoas e delas zombavam. Assim mesmo como Ele revelou acerca daqueles que erraram: “Então, disseram os líderes entre Seu povo, os quais não acreditavam – Só vemos em Ti um homem igual a nós mesmos; nem vemos entre aqueles que Te seguiram senão os mais desprezíveis entre nós, pessoas de juízo precipitado; tampouco percebemos em vós excelência alguma superior à nossa; nós, ao contrário, vos julgamos mentirosos. –“ (87) Cavilaram desses santos Manifestantes e protestaram, dizendo: “Ninguém vos tem seguido a não ser os abjetos entre nós, aqueles indignos de atenção.” Foi seu propósito mostrar que nenhum dos eruditos, ricos ou afamados neles acreditou. Com este argumento e outros semelhantes, tentaram demonstrar a falsidade d´Aquele que nada diz senão a verdade.
Nesta Era, a mais resplendente, entretanto, nesta Soberania suprema, vários eclesiásticos iluminados, alguns homens de consumada erudição e doutos possuidores de sabedoria madura, atingiram Sua Corte, beberam do cálice da Sua Presença Divina e foram agraciados com a honra do Seu mais excelente favor. Por causa do Bem-Amado, renunciaram ao mundo e a tudo o que nele está. Citaremos os nomes de alguns deles, para que isso talvez fortaleça os pusilânimes e encoraje os tímidos.
Houve entre eles Mullá Husayn, que foi favorecido com a fulgente glória do Sol da Revelação divina. Se não fosse ele, Deus não se teria estabelecido sobre o assento da Sua misericórdia, nem ascendido ao trono da glória eterna. Entre eles figuravam também Siyyid Yahyá, personagem incomparável e único em sua época.
Mullá Muhammad ´Alíy-i-Zanjáni
Mullá ´Alíy-i-Bastámí
Mullá Sa´ id-i-Bárfírúshí
Mullá Ni ´matu´llah-i-Mazindarání
Mullá Yúsuf-i-Ardibíli
Mullá Mihdíy-i-Khu´i
Siyyid Husayn-i-Turshízí
Mullá Mihdíy-i-Kandí
Mullá Báqir
Mullá ´Abdu´ l-Kháliq-i-Yazdí
Mullá ´Alíy-i-Baraqání
e outros, perto de quatrocentos no total, cujos nomes todos estão inscritos sobre a “Epístola Guardada” de Deus.
Todos estes foram guiados pela luz desse Sol da Revelação Divina; todos reconheceram e confessaram Sua verdade. Tão grande foi a fé da maioria que renunciou bens e parentes e aderiu ao beneplácito do Todo-Glorioso. Sacrificaram a vida pelo Bem-Amado; tudo renderam em Seu caminho. Os peitos tornaram-se alvos para os dardos do inimigo e as cabeças adornaram as lanças do infiel. Não restava terra que não tivesse bebido o sangue dessas personificações do desprendimento, nem espada que não lhes houvesse ferido o pescoço. Bastam suas ações para testemunhar a verdade de suas palavras. Não será suficiente, para o povo dos dias atuais, o testemunho dessas almas santas que se levantaram para oferecer a vida pelo Amado, tão gloriosamente que o mundo inteiro se admirou da maneira de seu sacrifício? Não será uma prova ampla contra a infidelidade daqueles que por uma bagatela traíram sua fé, que trocaram a imortalidade por aquilo que perece, que renunciaram ao Kawthar da Presença Divina por fontes salobras, de quem o único objetivo na vida é usurpar a propriedade alheia? Assim mesmo como tu vês, todos eles se têm ocupado com as vaidades do mundo e se desviado para longe d´Aquele que é o Senhor, o Altíssimo.
Sê justo: É aceitável e digno de atenção o testemunho daqueles cujos atos concordam com as palavras, cuja conduta exterior corresponde à vida íntima? A mente deslumbra-se ante suas façanhas e a alma se maravilha diante de sua fortaleza de espírito e sua resistência física. Ou será aceitável o testemunho daquelas almas infiéis que nada respiram senão o desejo egoísta e que jazem prisioneiras de suas próprias vãs fantasias? Semelhantes aos morcegos da escuridão, não levantam as cabeças do leito a não ser em busca das coisas transitórias do mundo, e à noite nenhum repouso encontram, salvo em seu empenho por promover os objetivos de sua vida sórdida. Imersas em seus projetos egoístas, estão esquecidas do Decreto Divino. Durante o dia, esforçam-se de toda a alma para obter os benefícios mundanos, e à noite só se ocupam em satisfazer os desejos carnais. Segundo que lei ou que norma seria justificável aos homens apoiar as negações feitas por almas de tão mesquinha mentalidade e desestimar a fé daqueles que, para agradar a Deus, renunciaram vida e bens, fama e renome, reputação e honra?
Não foram os acontecimentos da vida do “Príncipe dos Mártires” (88) considerados os maiores de todos os eventos, a suprema evidência de sua verdade? Não declarou o povo do passado serem esses fatos sem precedentes? Não afirmou que nunca um manifestante da verdade demonstrara tal constância, tão insigne glória? Entretanto, aquele episódio de sua vida começou, como se sabe, pela manhã e terminou ao meio-dia, enquanto que essas luzes santas há dezoito anos suportam heroicamente as torrentes de aflições que de todos os lados sobre elas têm chovido. Com que amor, devoção, júbilo e santo êxtase, sacrificaram a vida na senda do Todo-Glorioso! Da verdade disso todos atestam. Como podem, todavia, menosprezar esta Revelação? Já alguma outra época viu tão grandiosos eventos? Se esses companheiros não são os que em verdade buscam a Deus, de que, então, poderia se dizer isto? Já almejaram eles poder ou glória? Já alguma vez ambicionaram riquezas? Terão nutrido outro desejo, senão o beneplácito de Deus? Se esses companheiros, com todos os seus maravilhosos testemunhos e suas obras admiráveis, são falsos, que, então, é digno de reclamar para si a verdade? Deus é Minha Testemunha! Seus próprios feitos são evidência suficiente e uma prova irrefutável para todos os povos da terra – fossem os homens ponderar nos corações os mistérios da Revelação Divina. “E aqueles que agem com injustiça breve saberão que destino os espera.” (89)
Ainda mais, o sinal da verdade e da falácia é designado e determinado no Livro. Por essa pedra de toque divinamente ordenada devem as pretensões de todos os homens ser postas à prova, de modo a se conhecer o homem veraz e distingui-lo do impostor. Essa pedra de toque não é outra senão este versículo: “Desejai a morte, se sois homens da verdade.” (90) Considera tu esses mártires de uma sinceridade inquestionável, cuja veracidade é atestada pelo explícito texto do Livro, todos os quais, assim mesmo como viste, sacrificaram vida, bens, esposas e filhos – tudo e ascenderam para os mais sublimes recintos do Paraíso. Será justo rejeitar o testemunho que esses seres desprendidos e elevados deram à verdade desta preeminente e gloriosa Revelação, e apoiar as acusações feitas contra esta Luz resplandecente por aquele povo infiel, que por ouro abandonou sua fé e, por amor à liderança, repudiou Aquele Que é o Líder Primaz de toda a humanidade? E isso, não obstante ser seu caráter agora revelado, vindo eles a ser reconhecidos por todos como pessoas que de modo algum cederiam, por causa da Fé sagrada de Deus, a mínima partícula de sua autoridade temporal e, muito menos, suas vidas, seus bens, ou coisa semelhante.
Vê como a Pedra de toque divina, segundo o explícito texto do Livro, separou e distinguiu o verdadeiro do falso. Não percebendo ainda essa verdade, entretanto, e imersos no sono da negligência, buscam as vaidades do mundo e se ocupam em pensar no vão prestígio terreno.
“Ó Filho do Homem! Muitos dias já passaram enquanto tu te ocupas com tuas vãs fantasias e imaginações. Quanto tempo ainda haverás de dormir sobre teu leito? Levanta a cabeça do sono, pois o Sol já subiu até o zênite; talvez possa brilhar sobre ti com a luz da beleza.”
Seja sabido, todavia, que nenhum desses doutos e eclesiásticos aos quais nos referimos, possuía o grau e a dignidade de dirigente. Pois os dirigentes religiosos mais conhecidos e de maior prestígio, que ocupam os lugares de autoridade e exercem as funções de liderança, não podem, em absoluto, prestar lealdade ao Revelador da verdade, a não ser quem teu Senhor queira. Com poucas exceções, tais coisas jamais aconteceram. “E poucos de Meus servos são os agradecidos.” (91) Assim mesmo como nesta Era, não houve quem abraçasse a Fé entre aqueles sacerdotes de renome que seguravam nas mãos as rédeas da autoridade sobre o povo. Antes, contra ela lutaram com tal animosidade e determinação que jamais ouvido algum escutou, nem vista alguma percebeu, coisa igual.
O Báb, o Senhor, o Excelso – que a vida de todos Lhe seja oferecida em holocausto – revelou especificamente uma Epístola aos sacerdotes de cada cidade, na qual Ele expõe plenamente o caráter da negação e rejeição por parte de cada um deles. “Por conseguinte, sede bem atentos, vós que sois homens de percepção!” (92) Com Suas referências a essa oposição, intentava Ele invalidar as objeções que o povo do Bayán talvez fizesse no dia da manifestação de “Mustagháth” (93), dia da Ressurreição Ulterior, alegando que, enquanto na Era do Bayán vários sacerdotes abraçaram a Fé, nesta Revelação ulterior, nenhum destes reconheceu Sua declaração. Foi Seu propósito advertir o povo para que se não apegasse – Deus nos defenda! – a tais pensamentos insensatos e se não privasse da Beleza Divina. Sim, os sacerdotes aos quais nos referimos não eram de renome, em sua maioria, e todos eles, pela graça de Deus, se purificaram das vaidades terrenas e se livraram das insígnias da autoridade. “Tal é a graça de Deus; a quem Ele quer, Ele a concede.”
Outra prova e evidência da verdade desta Revelação – prova que entre todas as demais brilha como o sol – é a constância da Beleza Eterna em proclamar a Fé Divina. Embora jovem de tenra idade, e não obstante ser a Causa por Ele revelada contrária ao desejo de todos os povos da terra, dos poderosos como dos humildes, dos ricos como dos pobres, enaltecidos e aviltados, reis e súditos, levantou-se Ele, todavia, e proclamou-a firmemente. Disso todos têm sabido e ouvido falar. A ninguém temia; não tomava em conta conseqüências. Poderia tal coisa se manifestar se não fosse o poder de uma Revelação divina e a potência da invencível Vontade de Deus? Pela justiça de Deus! Fosse alguém nutrir no coração uma Revelação tão grande, só o pensar em declará-la confundir-lhe-ia! Se os corações de todos os homens se comprimissem dentro de seu coração, ainda ele hesitaria em se aventurar a tão grave empreendimento. Só poderia realizá-lo com a permissão de Deus, e tão somente se seu coração estivesse ligado à Fonte das graças divinas, e à sua alma fosse assegurado o infalível sustento do Todo-Poderoso. A que, perguntamos Nós, atribuem eles tão grande intrepidez? Será que O acusam de insensatez, assim como acusaram aos Profetas antigos? Ou alegam ter sido Seu motivo único a aquisição de prestígio e de riquezas terrenas?
Deus bondoso! Em Seu Livro, que Ele intitulou “Qayyúmmu´ l-Asmá” – o primeiro, maior e mais poderoso de todos os livros – profetizou Ele o próprio martírio. Nesse Livro se encontra esta passagem: “Ó tu, Rasto de Deus! Sacrifiquei-me inteiramente por Ti; aceitei maldições por Tua causa; e nada almejei senão o martírio no caminho do Teu amor. Testemunha suficiente para mim é Deus, o Excelso, o Protetor, o Ancião dos Dias!”
Do mesmo modo, em Sua interpretação da letra “Há”, Ele anelava o martírio, dizendo: “Pareceu-me ouvir uma Voz chamando no mais íntimo do meu ser – Sacrifica no caminho de Deus aquilo que mais amas, assim como Husayn – que a paz esteja sobre ele – ofereceu a vida por Minha causa! – E se eu não atentasse este inevitável mistério, por Aquele que tem meu ser entre as mãos, mesmo se todos os reis da terra se coligassem, não teriam o poder de me privar de uma só letra; quanto menos ainda o podem esses servos que não são dignos de nenhuma atenção e que, em verdade, se acham entre os rejeitados... Para que todos possam conhecer o grau de Minha paciência, Minha resignação e abnegação no caminho de Deus.”
Poderia se supor que o Revelador de palavras como estas andasse em outro caminho, senão no de Deus, e almejasse algo que não fosse a Sua aprovação? Nesse mesmo versículo jaz oculto um sopro de desprendimento que, se fosse emitido em sua plenitude sobre o mundo, faria com que todos os seres renunciassem à vida e sacrificassem a alma. Deves refletir sobre a conduta infame desta geração e ver sua ingratidão espantosa. Observa como eles têm fechado os olhos para toda esta glória e como procuram, em sua abjeção, aqueles cadáveres pútridos de cujos ventres se ergue o grito da substância dos fiéis que foi tragada. E todavia, que calúnias indecorosas têm eles arremessado contra aquelas Auroras da Santidade! Assim Nós te relatamos o que fizeram as mãos dos infiéis – aqueles que, no Dia da Ressurreição, viraram da Presença Divina sua face e foram atormentados por Deus com o fogo de sua própria descrença, e para os quais Ele preparou no mundo vindouro um castigo que lhes há de devorar tanto o corpo como a alma. Pois disseram: “Deus é impotente, e a Mão de Sua misericórdia está agrilhoada.”
A firmeza na Fé é um testemunho seguro e uma gloriosa evidência da verdade. Assim mesmo como disse o “Selo dos Profetas”: “Dois versículos Me fizeram velho.” Ambos esses versículos indicam a constância na Causa de Deus. Assim como Ele diz: “Sê firme, como te foi ordenado.” (94)
E considera tu agora como esse Sadrih do Ridván de Deus, ainda na flor da juventude, se levantou para proclamar a Causa de Deus. Vê que constância esse Manifestante da Beleza Divina revelou. O mundo inteiro levantou-se para impedi-Lo, mas falhou completamente. Quanto mais severa a perseguição que infligiam a esse Sadrih abençoado, mais Seu fervor aumentava e mais intensamente ardia a chama de Seu amor. Tudo isso é evidente e ninguém lhe contesta a verdade. Afinal, Ele entregou Sua alma e alçou vôo para os reinos do alto.
E entre as provas da verdade de Sua manifestação houve o predomínio, o poder transcendente e a supremacia que Ele, Revelador da existência e Manifestante do Adorado, sozinho e sem auxílio, revelou em todo o mundo. Mal havia esse Manifestante da Beleza Eterna surgido em Shiráz, no ano sessenta, e rompido o véu da ocultação, quando se tornaram manifestos em toda terra os sinais da supremacia, da grandeza, da soberania e do poder que emanavam dessa Essência das Essências, desse Mar dos Mares; tanto que, de cada cidade apareceram os sinais, as evidências, os indícios e testemunhos desse Luminar Divino. Quão numerosos eram os corações puros e benévolos que espelharam fielmente a luz desse Sol eterno; quão múltiplas as emanações de conhecimento desse Oceano da sabedoria divina que envolveu todos os seres! Em cada cidade, todos os eclesiásticos e dignitários, levantando-se com o fim de os impedir e reprimir, muniram-se de malícia, inveja e tirania para suprimi-los. Que grande número dessas almas santas, dessas essências da justiça, que, sendo acusadas de tirania, foram mortas! E quantas personificações da pureza, que nada demonstraram senão verdadeiro conhecimento e atos imaculados, sofreram uma morte angustiosa! Não obstante tudo isso, cada um desses santos seres, até seu último momento, suspirava o Nome de Deus e voou no reino da submissão e resignação. Tão grande foi a influência que Ele exerceu sobre esses seres e a tal ponto os transformou, que deixaram de nutrir qualquer outro desejo a não ser Sua Vontade, e devotaram a alma à Sua lembrança.
Reflete: Quem neste mundo é capaz de manifestar tão transcendente poder, uma influência tão predominante? Todos esses corações sem mácula e almas santificadas responderam, com absoluta resignação, ao chamado de Seu decreto. Em vez de se queixarem, agradeceram a Deus e, em meio às trevas de sua angústia, nada revelaram senão radiante aquiescência à Sua Vontade. É evidente como era implacável o ódio, e quão amargas eram a malícia e a inimizade que todos os povos da terra mostraram para com esses companheiros. A perseguição e a dor que infligiram a esses seres santos e espirituais foram vistas por eles como um meio de atingir a salvação, a prosperidade e o êxito eterno. Já terá o mundo visto, desde os dias de Adão, tumulto igual ou comoção de tanta violência? Não obstante todo o tormento que sofreram e as múltiplas aflições que suportaram, tornaram-se alvo de opróbrio e execração universais. Parece-me que a paciência se revelou unicamente em virtude de sua fortaleza, e a própria fidelidade não foi gerada senão pelas suas façanhas.
Pondera em teu coração esses momentosos acontecimentos, para que possas compreender a grandeza desta Revelação e perceber sua estupenda glória. Então o espírito da fé, através da graça do Misericordioso, insuflar-se-á em teu ser, e tu haverás de te estabelecer para sempre sobre o assento da certeza. O Deus Uno é Minha testemunha! Se ponderares um pouco, verificarás que, à parte todas essas verdades estabelecidas e evidências já mencionadas, o repúdio e a execração pronunciados pelo povo da terra são em si a mais poderosa prova e o mais seguro testemunho da verdade desses heróis no campo da resignação e do desprendimento. Sempre que meditares sobre as cavilações pronunciadas por todos – sejam eclesiásticos, doutos ou ignorantes – mais firme e constante hás de te tornar na Fé. Pois qualquer coisa que haja sucedido, já foi profetizada por aqueles que são as Minas do conhecimento divino, os Receptores da eterna lei de Deus.
Embora não tencionássemos aludir às tradições de uma era passada, consentiremos, no entanto, por causa de Nosso amor a ti, em citar algumas que sejam aplicáveis a Nosso argumento. Não sentimos, porém, necessidade disso, visto ser o que já mencionamos suficiente para o mundo e para tudo o que nele existe. De fato, todas as Escrituras e seus mistérios estão condensados neste breve relato, tanto que, se alguém o ponderasse um pouco no coração, descobriria, de tudo o que foi dito, os mistérios das Palavras de Deus, e compreenderia o significado de qualquer coisa manifestada por esse Rei ideal. Desde que haja diferenças de grau e de compreensão entre o povo, citaremos algumas das tradições, para que estas possam proporcionar constância à alma vacilante e tranqüilidade à mente aflita. Assim se fará completo e perfeito o testemunho de Deus a todos, sejam de alto grau ou humildes.
Entre as tradições se encontra esta: “E quando se manifesta o Estandarte da Verdade, tanto o povo do Leste como o do Oeste o amaldiçoa.” Deve-se sorver o vinho da renúncia, atingir as sublimes alturas do desprendimento e fazer a meditação à qual se referem as palavras: “Uma hora de reflexão é preferível a setenta anos de adoração piedosa”, de modo a descobrir o segredo da miserável conduta do povo - deste povo que, a despeito do amor e do ardente desejo que professa ter pela verdade, amaldiçoa aqueles que seguem a Verdade, após Ele se haver manifestado – fato esse atestado pela tradição que acabamos de mencionar. Evidentemente, a razão de tal conduta não é outra que a anulação daqueles regulamentos, costumes, hábitos e ritos aos quais o povo estava sujeito. De outro modo – fosse a Beleza do Misericordioso conformar-se com os mesmos regulamentos e costumes correntes entre o povo, e sancionar sua observância – não teriam aparecido no mundo, em absoluto, tais conflitos e injúrias. Essa elevada tradição é atestada e substanciada por estas palavras que Ele revelou: “O dia em que o Convocador haverá de convocar para um assunto grave.” (95)
O chamado divino pelo Arauto celestial, de além do Véu da Glória, exortando a humanidade a renunciar completamente a todas as coisas às quais se apega, è contrário a seu desejo; e isso é a causa das amargas provações e violentas comoções que sucederam. Considera tu o modo de proceder do povo: despreza essas bem fundadas tradições, das quais todas já foram cumpridas, e adere às de duvidosa validade, perguntando por que estas não foram cumpridas. E no entanto, já se manifestaram aquelas coisas que lhes pareciam inconcebíveis. As provas e evidências da Verdade brilham como o sol ao meio-dia, mas o povo ainda vagueia, confuso e sem objetivo, na solidão da ignorância e insensatez. Não obstante todos os versículos do Alcorão e todas as reconhecidas tradições, que indicam uma nova Fé, uma nova Lei e Revelação, essa geração ainda espera ver o Prometido, Aquele que deverá conservar a Lei da Era Maometana. Os judeus e os cristãos, de modo igual, sustentam o mesmo argumento.
Entre as passagens que prognosticam uma nova Lei e uma nova Revelação, figuram as da “Oração de Nudbih”: “Onde está Aquele que é preservado a fim de renovar os preceitos e leis? Onde está Aquele que tem a autoridade para transformar tanto a Fé como àqueles que a seguem?” Revelou Ele também no Ziyárat: (96) “A paz esteja sobre a Verdade renovada.” Abú-´Abdi-´lláh, ao ser interrogado sobre o caráter do Mihdí, respondeu, dizendo: “Ele executará o que Maomé, o Mensageiro de Deus, executou, e demolirá qualquer coisa que tenha havido antes d´Ele, assim como o Mensageiro de Deus tem demolido os costumes daqueles que O precederam.”
Vê como, apesar destas tradições e outras semelhantes, eles sustentam inutilmente que as leis reveladas em épocas anteriores não devem, de modo algum, ser alteradas. E não é o objetivo de cada Revelação, entretanto, efetuar uma transformação em todo o caráter da humanidade – uma transformação que se manifeste tanto exterior como interiormente, que afete sua vida íntima bem como suas condições externas? Pois se o caráter da humanidade não for mudado, será evidente a futilidade dos Manifestantes universais de Deus. No “Aválim”, um livro muito conhecido e autorizado, está registrado: “Haverá de se manifestar um Jovem de Baní-Háshim que revelará um novo Livro e promoverá uma nova lei”; então seguem estas palavras: “A maior parte de Seus inimigos se constituirá de eclesiásticos”. Em outra passagem, relata-se que Sádiq, filho de Maomé, disse o seguinte: Aparecerá de Baní-Háshim um Jovem que mandará o povo Lhe hipotecar lealdade. Seu Livro será um novo Livro, para o qual Ele convocará o povo a fim de que lhe jure sua fé. Austera é Sua Revelação ao árabe. Se n´Ele ouvirdes falar, apressai-vos em ir a Ele.” Como seguiram bem as instruções dos imames da Fé e das Lâmpadas da certeza! Embora seja claramente dito: “Se ouvirdes dizer que tenha aparecido um Jovem de Baní-Háshim, convocando o povo para um novo Livro Divino, e para novas Leis Divinas, apressai-vos em ir a Ele”, todos eles, apesar disso, declararam infiel esse Senhor da existência e O pronunciaram um herege. Não se apressaram em direção a essa Luz Háshimita, esse Manifestante Divino, a não ser com espadas desembainhadas e corações cheios de malícia. Além disso, vê quão explicitamente se mencionou nos Livros a inimizade dos eclesiásticos. A despeito de todas essas tradições evidentes e significativas, todas essas alusões inequívocas e indiscutíveis, o povo rejeitou a imaculada Essência do conhecimento e das palavras santas, e se dirigiu aos expoentes da rebelião e do erro. Não obstante essas tradições inscritas e palavras reveladas, dizem somente aquilo que lhes ditam seus próprios desejos egoístas. E se Aquele que é a Essência da Verdade revelar algo contrário às suas inclinações e desejos, eles logo O denunciarão como infiel e protestarão, dizendo: “Isso é contrário ao que dizem os Imames da Fé e as luzes resplandecentes. Tal coisa não foi prevista por nossa Lei inviolável.” Assim mesmo, neste dia, semelhantes afirmações indignas já foram e ainda são feitas por esses pobres mortais.
E agora deves considerar esta outra tradição e observar como foram preditas todas essas coisas. Em “Arba-´in” está escrito: “De Baní-Háshim sairá um Jovem que revelará novas leis. Convocará a si o povo, mas ninguém atenderá a Seu chamado. A maior parte de Seus inimigos serão os eclesiásticos. Não obedecerão ao que Ele mandar, mas protestarão, dizendo: - Isso é contrário àquilo que nos foi transmitido pelos imames da Fé. –“ Hoje, todos repetem as mesmíssimas palavras, não percebendo, em absoluto, que Ele se acha estabelecido sobre o trono de: “Ele faz tudo quanto quer”, e permanece no assento de: “Ele ordena o que Lhe apraz.”
Nenhuma compreensão pode abranger a natureza de Sua Revelação, nem pode qualquer conhecimento conter a plena medida de Sua Fé. Qualquer coisa que seja dita, depende de Sua sanção, e tudo necessita de Sua Causa. Tudo salvo Ele é criado pelo Seu mando, move-se e existe através de Sua lei. Ele é o Revelador dos mistérios divinos e o Expositor da antiga sabedoria oculta. Assim relatam o “Biháru´l-Anvár”, o “´Avalim” e o “Yanbú” a respeito de Sádiq, filho de Maomé, que ele disse estas palavras: “O conhecimento consiste em vinte e sete letras. Tudo o que os Profetas revelaram são duas dessas letras. Homem algum até agora conheceu mais do que essas duas letras. Mas quando surgir o Qá´im, Ele tornará manifesto as vinte e cinco letras viventes.” Considera: Ele declarou que o Conhecimento consistia em vinte e sete letras e julgou haverem sido todos os Profetas, desde Adão até o “Selo”, Expositores de somente duas dessas letras, tendo sido enviados com essas duas letras. Diz ele também que o Qá´im revelará todas as restantes vinte e cinco letras. Desta afirmação, vê tu como é grande e elevada Sua posição! Seu grau excede ao de todos os Profetas e Sua Revelação transcende a compreensão de todos os Seus eleitos. Uma Revelação de que os Profetas de Deus, Seus santos e eleitos, ou não tinham conhecimento ou, de acordo com o inescrutável Decreto de Deus, não o deixaram aparecer – tal Revelação essas pessoas vis e perversas tentam medir com suas próprias inteligências deficientes, com sua própria compreensão e seus conhecimentos imperfeitos. Se não está de conformidade com seus padrões, prontamente a rejeitam. “Pensas tu que a maior parte deles ouça ou compreenda? São assim mesmo como os irracionais! Sim, mais ainda se desviam do caminho!” (97)
Como, desejaríamos saber, explicam eles a tradição à qual nos referimos – uma tradição que prenuncia, em termos inequívocos, a revelação de coisas inescrutáveis e acontecimentos novos e maravilhosos em Seu tempo? Esses admiráveis eventos provocam tão grande contenção entre o povo que todos os eclesiásticos e doutos pronunciam contra Ele e Seus companheiros sentença de morte, e todos os povos da terra se levantam para Lhe fazer oposição. Assim mesmo como foi registrado no “Káfi”, na tradição de Jábir, na “Epístola de Fátimih”, sobre o caráter do Qá´im: “Ele manifestará a perfeição de Moisés, o esplendor de Jesus e a paciência de Job. Seus eleitos serão humilhados em Seu dia. Suas cabeças serão oferecidas como presentes, do mesmo modo que as cabeças dos turcos e dos deylamitas. Serão mortos e queimados. Deles o medo se apoderará: desalento e alarme lhes atemorização os corações. A terra será tinta pelo seu sangue. Suas mulheres cairão em prantos e lamentos. São esses, em verdade, os meus amigos!” Considera: nenhuma letra desta tradição deixou de ser cumprida. Na maioria dos lugares se derramou seu sangue abençoado; em cada cidade foram eles presos; tiveram que marchar em parada através das províncias e alguns foram queimados. E não obstante, ninguém ainda se deteve para refletir sobre isto: fosse o prometido Qá´im revelar as leis e os preceitos de uma Era anterior, por que, então, teriam sido registradas tais tradições, e por que motivo haveriam surgido tão grandes lutas e conflitos, a tal ponto que o povo viesse a ver o extermínio desses companheiros como um dever que lhe fosse imposto e a julgar a perseguição dessas almas santas um meio de atingir o mais alto favor?
Além disso, deves observar como essas coisas que têm acontecido, e as ações cometidas, foram todas mencionadas em tradições anteriores. Assim como foi registrado no “Rawdiy-i-Káfi”, a respeito de “Zawrá´.” No “Rawdiy-i-Káfi”, conta-se de Mu´ávíyih, filho de Vahháb, que Abú-´Abdi´lláh perguntou: “Conheces tu Zawrá´?” Eu disse: “Que a minha vida te seja um sacrifício! Dizem que é Bagdá.” “Não”, respondeu ele, e então acrescentou: “Já entraste na cidade de Rayy?” (98), ao que respondi: “Sim, já entrei.” Então me interrogou: “Visitaste o mercado de gado?” “Sim”, repliquei. Perguntou ele: “Viste a montanha negra do lado direito da estrada? É Zawrá´. Aí serão trucidados oitenta homens, filhos de certos homens, todos os quais são dignos de ser chamado califas.” “Quem há de trucidá-los?” perguntei. E ele respondeu: “Os filhos da Pérsia!”
Assim predisseram, em tempos anteriores, a condição e sorte de Seus companheiros. E agora deves notar que Zawrá´, de acordo com essa tradição, não é outra terra senão a de Rayy. Nesse lugar foram mortos Seus companheiros, com grandes sofrimentos, e todos esses santos seres sofreram o martírio nas mãos dos persas, segundo relata a tradição. Isso já ouviste dizer e é por todos atestado. Por que razão, pois, esses homens rasteiros, semelhantes a vermes, não se detêm para meditar sobre essas tradições, todas as quais estão manifestas como o sol em plena glória de meio-dia? Por que motivo recusam abraçar a Verdade e permitem que certas tradições, cujo sentido eles não conseguem compreender, os impeçam de reconhecer a Revelação de Deus e Sua Beleza, e os façam viver no abismo infernal? Tais coisas a nada podem ser atribuídas senão à infidelidade dos eclesiásticos e doutos da época. Destes, falou assim Sádiq, filho de Maomé: “Os doutores de religião daquela época serão os mais perversos dos eclesiásticos à sombra do céu. Deles o dano procedeu e a eles haverá de volver.”
Suplicamos aos homens eruditos do Bayán que não sigam em tais caminhos, que não inflijam no tempo de Mustagháth – Àquele que é a Essência divina, a Luz celestial, a Eternidade absoluta, o Princípio e o Fim dos Manifestantes do Invisível – o que se infligiu neste dia. Nós lhes imploramos que não dependam de seu intelecto, de seu entendimento e sua erudição, nem disputem com o Revelador do conhecimento celestial e infinito. Entretanto, apesar de todas estas admoestações, percebemos que um homem cego de uma vista, o líder do povo, está se levantando contra Nós com extrema malevolência. Prevemos que em cada cidade se levantarão pessoas para suprimir a Abençoada Beleza, e que os companheiros desse Senhor da existência, desse Desejo último de todos os homens, fugirão da face do opressor, buscando refúgio no deserto, enquanto outros se resignarão e, com desprendimento absoluto, sacrificarão a vida em Seu caminho. Podemos discernir, parece-me, alguém de tanto renome pela sua devoção e piedade, que os homens se julgam obrigados a obedecê-lo e acham necessário submeter-se a seu mando – alguém que se levantará para atacar a própria raiz da Árvore divina, e se esforçará com o máximo de seu poder para Lhe fazer resistência e oposição. Tal é o modo de proceder do povo!
Esperemos que o povo do Bayán se ilumine, se eleve no domínio do espírito e aí habite, e que possa discernir a Verdade e reconhecer com os olhos espirituais a falsidade dissimulada. Nestes dias, porém, de tal modo se difundem os odores do ciúme – juro pelo Educador de todos os seres, visíveis e invisíveis – que desde o começo da fundação do mundo, embora não tenha começo, até o dia atual, não apareceram, de maneira alguma, tão grande malícia, inveja e ódio; nem serão vistos iguais no futuro. Pois, algumas pessoas que nunca inalaram a fragrância da justiça, içaram o estandarte da sedição e contra Nós se coligaram. Por todos os lados vemos ameaça de seus dardos e em todas as direções as hastes de suas setas. E isso, muito embora não tivéssemos Nós jamais nos gloriado de qualquer coisa, nem desejado preferência sobre alma alguma. Para cada um temos sido o mais bondoso companheiro, o mais paciente e afetuoso amigo. Na companhia dos pobres temos procurado sua camaradagem e entre os enaltecidos e eruditos temos sido submissos e resignados. Deus, o Deus Uno e Verdadeiro, é Minha Testemunha! Por penosos que tenham sido os desgostos e sofrimentos que a mão do inimigo e o povo do Livro Nos infligiram, todos estes, no entanto, se desvanecem, tornam-se simplesmente nada em comparação com aquilo que Nos sobreveio pelas mãos daqueles que professam ser Nossos amigos.
Que mais deveremos dizer? O universo – se mirasse com os olhos da justiça – seria incapaz de suportar o peso destas palavras! Nos primeiros dias após a Nossa chegada nesta terra, percebendo os sinais dos iminentes acontecimentos, decidimos retirar-nos antes que se realizassem. Fomos ao deserto, onde, afastado e sós, tivemos por dois anos uma vida completamente solitária. Nossos olhos vertiam lágrimas angustiosas e do Nosso coração dilacerado surgia um oceano de agônicos pesares. Muitas noites não tivemos com que Nos sustentar; muitos dias Nosso corpo não encontrou repouso. Por Aquele que tem o Meu ser entre Suas mãos! Não obstante essas chuvas de aflições e calamidades incessantes, Nossa alma estava envolta de êxtase e todo o Nosso ser mostrava uma alegria inefável. Pois em Nossa solidão não estávamos cientes do prejuízo ou benefício, saúde ou doença, de qualquer pessoa. Inteiramente sós, comungávamos com Nosso espírito, esquecidos do mundo e de tudo o que nele existe. Não sabíamos, porém, que o enredo do destino divino excede ao mais vasto dos conceitos mortais, e o dardo de Seu decreto transcende o mais audaz dos planos humanos. Ninguém pode escapar aos enredos que Ele arma – nenhuma alma pode libertar-se, a não ser pela submissão à Sua Vontade. Pela justiça de Deus! Nossa retirada não contemplava regresso; Nossa separação não esperava nenhuma reunião. O único propósito de Nossa retirada foi evitar que Nos tornássemos motivo de discórdia entre os fiéis, fonte de distúrbios entre Nossos companheiros, meio de prejuízo para qualquer pessoa, ou causa de tristeza para algum coração. Além dessas, nenhuma intenção acariciávamos; fora dessas, nenhum propósito tivemos em vista. E não obstante, cada um maquinava segundo seu próprio desejo e se entregava à sua vã fantasia, até a hora em que veio da Fonte mística a ordem de que voltássemos para o lugar donde havíamos vindo. Rendendo Nossa Vontade à Sua, submetemo-nos à Sua injunção.
Qual a pena que possa descrever o que foi visto por Nós ao regressarmos? Passaram-se dois anos, durante os quais Nossos inimigos maquinaram assídua e incessantemente a fim de Nos exterminar, assim como todos atestam. Nenhum entre os fiéis, entretanto, se levantou para prestar-nos auxílio, nem pessoa alguma se sentiu disposto a ajudar em Nossa libertação. Não, em vez de Nos socorrer, quantas chuvas de tribulações ininterruptas suas palavras e ações fizeram cair sobre Nossa alma! Em meio a todas elas, Nós Nos mantemos firmes, a vida na mão, inteiramente resignados à Sua vontade; para que talvez, através da benevolência de Deus e de Sua graça, esta Letra revelada e manifesta possa oferecer a vida em holocausto no caminho do Ponto Primaz, o mais excelso Verbo. Por Aquele sob Cujo mando o Espírito falou, Nós não Nos haveríamos detido nesta cidade, nem por um momento mais, se não fosse pro causa desse anelo de Nossa alma. “Testemunha suficiente para Nós é Deus.” Concluímos Nosso argumento com as palavras: “Não há nenhum poder ou força, senão em Deus somente.” “Somos de Deus e a Ele regressaremos.”
Aqueles que têm corações para compreender, que sorveram o Vinho do amor, que nem por um momento sequer satisfizeram os desejos egoístas, hão de ver – resplandecentes como o sol em sua glória de meio-dia – os sinais, testemunhos e evidências que atestam a verdade desta Revelação maravilhosa, desta Fé transcendente e divina. Medita nisto, como o povo rejeitou a Beleza de Deus e se apegou a seus próprios desejos cobiçosos. Apesar de todos esses versículos consumados, essas alusões inequívocas, que foram reveladas na “Mais Poderosa Revelação”, confiada por Deus aos homens, e não obstante essas tradições claras, cada uma das quais está mais manifesta do que a mais explícita exposição, o povo desprezou e repudiou sua verdade, prendendo-se à letra de certas tradições que, segundo sua própria interpretação, pareciam contraditórias ao que esperava e cujo sentido não conseguia compreender. Assim, o povo destruiu toda esperança e privou-se do puro vinho do Todo-Glorioso e das águas límpidas e incorruptíveis da Beleza imortal.
Considera: encontra-se registrado especificamente nas tradições até mesmo o ano em que aquela Quinta-essência da Luz haveria de se manifestar, mas eles permanecem ainda desatentos e nem por um momento cessam de procurar satisfazer seus desejos egoístas. De acordo com a tradição, Mufaddal perguntou a Sádiq: “Que dizeis do sinal de Sua manifestação, ó meu mestre?” Replicou ele: “No ano sessenta, se tornará manifesta Sua Causa, e Seu Nome será proclamado.”
Que estranho! Não obstante essas referências explícitas e evidentes, aquelas pessoas afastaram-se da Verdade. Foram mencionados nas tradições anteriores, por exemplo, os desgostos, o encarceramento e as tribulações infligidas àquela Essência da virtude divina. No “Bihár” está registrado: “Em nosso Qá´im haverá quatro sinais procedendo de quatro Profetas: Moisés, Jesus, José e Maomé. O sinal que veio de Moisés é medo e expectativa; de Jesus, aquilo que se disse d´Ele; de José, encarceramento e dissimulação; de Maomé, a revelação de um Livro semelhante ao Alcorão.” A despeito de tão concludente tradição, que prenuncia em linguagem tão inequívoca os eventos da época atual, não se tem encontrado quem atendesse à sua profecia, e tampouco no futuro, ao que me parece, haverá quem o faça, a não ser aquele que teu Senhor quiser. “A quem Deus queira, Ele, em verdade, fará escutar, mas aqueles que estão nos túmulos, Nós não os faremos escutar.”
É evidente a ti que as Aves do Céu e Pombas da Eternidade falam uma dupla linguagem. Uma, a linguagem exterior, é destituída de alusões, ocultação ou véu, a fim de ser uma lâmpada que guie, uma luz farol pela qual o peregrino possa atingir as alturas da santidade, e quem busca, avançar até o reino da reunião eterna. É esta a linguagem das tradições desveladas e dos versículos evidentes que já citamos. A outra linguagem é velada e oculta, de modo que se torne manifesta qualquer coisa que esteja escondida no coração do malévolo e seu mais íntimo ser se revele. Assim falou Sádiq, filho de Maomé: “Deus, em verdade, haverá de prová-los e joeirá-los.” É o critério divino, a Pedra de toque com que Deus experimenta Seus servos. Ninguém compreende o sentido dessas palavras, salvo aqueles cujos corações estejam confiantes, cujas almas tenham achado favor diante de Deus e cujas mentes estejam desprendidas de tudo exceto d´Ele. Nessas afirmações, o sentido literal, como geralmente entendido pelo povo, não é o que se tencionou. Assim se acha escrito: “Cada conhecimento tem setenta sentidos, dos quais somente um é conhecido entre o povo. E quando aparecer o Qá´im, Ele revelará aos homens tudo o que resta.” Diz Ele também: “Dizemos uma palavra só, e esta encerra setenta e um sentidos; cada um destes sentidos, nós o podemos explicar.”
Mencionamos essas coisas somente a fim de que certas tradições e afirmações que ainda não foram cumpridas literalmente, não sejam causa de consternação, que, antes, o povo atribua sua perplexidade à sua própria falta de compreensão, em vez de ao fato de não terem sido cumpridas as promessas nas tradições, desde que esse povo desconhece o sentido que os Imames da Fé queriam expressar, segundo constam das próprias tradições. O povo não deve permitir, portanto, que tais palavras o privem das graças divinas; antes, deve ir, em busca de esclarecimento, àqueles que são seus reconhecidos Expositores, de modo que os mistérios ocultos lhe sejam desvendados e tornados manifestos.
Não percebemos entre o povo da terra, todavia, pessoa alguma que, aspirando sinceramente à Verdade, procure ser guiada pelos Manifestantes Divinos no que diz respeito aos assuntos abstrusos de sua Fé. Todos são habitantes na terra do esquecimento; todos seguem o povo da perversidade e rebelião. Deus, em verdade, lhes fará o que eles mesmos estão fazendo, e deles se esquecerá, assim como eles desatenderam Sua Presença em Seu dia. Tal é Seu decreto para aqueles que O negaram, e tal será para quem tiver rejeitado Seus sinais.
Concluímos Nosso argumento com Suas palavras – excelso é Ele – “E qualquer um que desista de se lembrar do Misericordioso, a ele acorrentaremos um Satanás, e este lhe será um companheiro constante.” (99) “E quem se afastar de Minha Lembrança, terá, em verdade, uma vida de aflição.” (100)
Assim foi revelado anteriormente – fosseis vós compreender.
Revelado pela “Bá” e pela “Há”. (101)
Que a paz esteja sobre aquele que inclinar o ouvido à melodia da Ave Mística que chama do Sadratu´l-Muntahá!
Glorificado seja nosso Senhor, o Altíssimo!
´Abdu´lláh: O pai do Profeta. Ele pertencia à família de Háshim, a tribo mais nobre da
seção Quraish da raça árabe, de descendência direta de Ismael.
´Abdu´lláh-i-Ubayy: Um proeminente opositor de Maomé; chamado “o príncipe dos
hipócritas”.
Abraão: V. Gênesis 11-25; O Esplendor da Verdade, páginas 30-31. Os estudiosos da
Bíblia dão como suas datas 2100-2000 a.C. Considerado por judeus, cristãos e
muçulmanos como o Amigo de Deus, o Pai dos Fiéis.
Abú-´Abdi´lláh: Designação do sexto Imame, Já´far-i-Sadiq (o Verídico), bisneto de al-
Husayn. Faleceu no ano de 765, envenenado por Mansúr, o ´Abbáside Califa.
Abú´Amír: Um opositor de Maomé; um monge.
Abu Jahl: Literalmente, “o Pai da Insensatez”; assim denominado pelos muçulmanos. Um
implacável inimigo do Profeta.
´Alí: O genro do Profeta, o primeiro dos doze Imames.
Alif, Lám, Mím: Estas e outras letras soltas aparecem nos cabeçalhos de vinte e nove das
suras do Alcorão.
Al-Medina: Literalmente, “a cidade”, por haver dado abrigo a Maomé; antigamente
Yathrib. O sítio da sepultura de Maomé; em segundo lugar em santidade, após
Meca.
Amalecitas: Expulsos da Babilônia em tempos primitivos, espalharam-se pela Arábia, pela
Palestina, a Síria, e até o Egito, sendo dessa procedência vários dos Faraós.
Ano Sessenta: Significa 1260 AH (Anno Hegirae) ou o ano 1884, ano da Declaração do
Báb.
Athím: Pecador.
´Aválim: Uma compilação de tradições xiitas.
Báb: O Qá´im e Mihdí do Islã e o Precursor de Bahá´u´lláh. (Nascimento do Báb: 20 de
outubro de 1819; Seu martírio: 9 de julho de 1850).
Bagdá: Fundada pelo Califa em Mansur no ano de 762 no sítio de uma aldeia cristã na
margem ocidental do rio Tigris. Durante 500 anos continuou como sede do governo de Abbasid.
Bahá: Literalmente, “Glória”, “Esplendor”, referindo-se a Bahá´u´lláh (Mirzá Husayn ´Alí),
que ainda não se havia declarado mas que já fora designado por esse título.
Bahá´u´lláh: O Fundador da Fé Bahá´í, sendo mencionado no Bayán Persa do Báb este
título, cujo significado é a Glória, a Luz e o Esplendor de Deus. (Nascimento de
Bahá´u´lláh: 12 de novembro de 1817; Seu falecimento: 29 de maio de 1892).
Baní-Háshim: A família à qual Maomé pertencia.
Bathá: Meca.
Bayán: O Bayán (Exposição) é a principal obra doutrinal do Báb. É descrita em “Presença
de Deus” como um “repositório monumental das leis e dos preceitos da nova Era e
como o tesouro que encerra a maioria das referências e dos tributos do Báb a Aquele
que Deus tornará manifesto, bem como Sua advertência a Seu respeito, ... esse
Livro, de cerca de oito mil versículos, ocupando uma posição de pivô na literatura
bábí, deve ser considerado primariamente um elogio do Prometido, em vez de um
código de leis e mandamentos que vise guiar permanentemente futuras gerações.” O
Báb escreveu também “o Bayán Árabe, menor e menos ponderável”.
Bihár: Referência à tradição xiita.
Biháru´l-Anvár: Uma compilação de tradições xiitas.
Caifás: O pontífice judeu que presidiu no tribunal que julgou e condenou Jesus.
Caim e Abel: Os dois filhos de Adão e Eva. V. Gênesis 4 e Alcorão, sura 5.
Califas: Literalmente, “sucessores” ou “vice-regentes”. Os xiitas afirmam que os sucessores
do Profeta devem ser os membros de Sua própria família, mas não usam o título de Khalífih ou “Califa”. O sultão da Turquia assumiu esse título no princípio do século XVI.
Copto: Os coptos eram descendentes da antiga estirpe egípcia. Eram descrentes no tempo
de Moisés. Os septos eram as tribos israelitas.
Elixir Divino: Referência simbólica ao Elixir dos alquimistas, o qual, segundo supunha-se,
transformava em ouro os metais baixos.
Faraó: O título comum dos reis do Egito. O Faraó da opressão supõe-se ter sido Rameses II
(cerca de 1340 a.C.) e seu filho e sucessor Merenptah ter sido o Faraó do Êxodo,
mas isso é muito incerto. Para o nascimento de Moisés, tem-se calculado uma data
tão antiga como 1520 a.C.
Fátimih: A filha de Maomé e Khadíjih. Ela casou com ´Alí, o primo de Maomé, e teve três
filhos. Um morreu na infância e dos dois outros, Hasan e Husayn, originou-se a
posteridade do Profeta, conhecida como siyyids.
Fênix: Ave fabulosa, que, segundo a mitologia, vivia solitária, era consumida pelo fogo por
ela mesma ateado, e renascia das próprias cinzas.
Gabriel: De todos os anjos, o de mais alto grau, o Espírito Santo. É dever seu registrar os
decretos de Deus; por seu intermédio o Alcorão foi revelado a Maomé.
Há: A letra H, o número da qual é 5, algumas vezes usada como símbolo de Bahá´u´lláh: V.
Four Valleys, p. 56 n.
Hájí Mírzá Karím Khán: Homem que tinha pretensão ao conhecimento, autor de um livro
intitulado “Guia para os Ignorantes” (Irshadu´l-´Avám”), cujas obras pereceram
com ele.
Hamzih: “Príncipe dos Mártires”, título dado ao tio de Maomé.
Herodes: Herodes I (“O Grande”). Idumeu de raça, porém criado por um judeu. Foi
nomeado Rei da Judéia pelo Senado Romano em 40 a.C. Ele reconstruiu o Templo
em Jerusalém.
Hijaz: Uma região na Arábia sudoeste que pode ser considerada a terra santa dos
muçulmanos, desde que contêm as cidades sagradas de Medina e Meca e muitos
outros lugares relacionados à história de Maomé. O “idioma de Hijaz” é o árabe.
Húd: Um profeta enviado à tribo de ´Ad. Era descendente de Noé e é mencionado no
Alcorão na sura 7:63-70; na sura 11:52-63; e na sura 26:123-139.
Husayn: O terceiro Imame. Filho de ´Alí e Fátimih.
Ibn-i-Súríyá: Erudito Rabino judeu no tempo de Maomé.
Imame ´Alí: O primo e primeiro discípulo de Maomé; esposo da filha de Maomé, Fátimih;
e por seu filho, Husayn, ancestral de Siyyid ´Alí Muhammad, o Báb.
´Imrán: O pai de Moisés e Aarão; Alcorão, sura 3:30 e Bíblia, Êxodo 6:20.
´Iraque: Parte do Império Turco em 1862, quando este livro foi revelado. Agora um Reino
Árabe, com Bagdá como sua capital.
José: O filho de Jacó e, no Alcorão, um profeta inspirado.
Ka´b-Ibn-i-Ashraf: Conspirou com o arqui-inimigo do Profeta, Abu Sufyán, para conseguir
a morte do Profeta.
Ka´bih: Literalmente, um “cubo”. O edifício em forma de cubo no centro da Mesquita em
Meca, que contém a Pedra Negra.
Kafí: Importante coleção das tradições xiitas, sendo Jábir a autoridade para a citação que se
encontra em p. 245.
Karbilá: Uma cidade cerca de 55 milhas para o sudoeste de Bagdá, no Rio Eufrates.
Karim: Honrável.
Kawthar: Um rio do Paraíso do qual fluem todos os outros. Parte de suas águas é conduzida
a um grande lago em cujas orlas descansam as almas dos fiéis após haverem
atravessado a terrível ponte que passa por cima do inferno.
Khaybar: Um distrito montanhoso na fronteira noroeste da Índia.
Kúfih: Uma cidade na margem ocidental do Rio Eufrates, agora completamente
desaparecida.
Letras da Unidade: Apóstolos do Profeta.
Leviatã: Um monstro aquático não identificado; baleia ou serpente.
Magos: Uma casta de sacerdotes e sábios entre os persas antigos.
Manifestante: A natureza de um profeta ou do Manifestante de Deus é assim descrita em
Gleanings from the writings of Bahá´u´lláh (págs. 66-67): “... desde que não possa
haver nenhum laço de intercurso direto para unir o Deus Uno e Verdadeiro com Sua
criação, nem semelhança alguma possa existir entre o transitório e o Eterno, o
continente e o Absoluto, Ele ordenou que, em cada época e era, se manifestasse nos
reinos da terra e do céu uma Alma pura e imaculada... Essas Essências do
Desprendimento, essas resplendentes Realidades, são os veículos da predominante
graça de Deus. Dirigidas pela luz da guia infalível e investidas de suprema
soberania, são incumbidas de usar a inspiração de Suas palavras, os eflúvios de Sua
infindável graça as brisas santificadoras de Sua Revelação, para purificar, da escória
e do pó da ansiedade e das limitações terrenas, cada coração que almeja e cada
espírito receptivo.”
Maomé: O Profeta do Islã e Revelador do Alcorão. Nasceu em agosto de 570. Declarou Sua
Missão em 613. Fugiu a Medina no ano de 622. V. Esplendor da Verdade, página
34-39. Predito por Moisés, Deut. 18:15, por São João, Apocalipse 11 (V. Esplendor
da Verdade, pág. 55 et seq.).
Meca: Capital da Arábia, o lugar do nascimento de Maomé, sítio do Ka´bih e a mais santa
cidade do Islã.
Midian: Cidade e distrito do Mar Vermelho, para o sudeste do Monte Sinai, ocupada pelos
descendentes de Midian, filho de Abraão e Keturah. Alcorão: sura 7:83.
“Miráj”: A jornada noturna de Maomé com Gabriel.
Moisés: Um dos seis grandes Profetas, segundo os maometanos. V. Êxodo 4:16, onde Deus
diz a Moisés: “tu lhe serás no lugar de Deus”; e Êxodo 7:1: “Eu te fiz um deus para
Faraó.” Moisés conduziu o êxodo do Egito, para o qual se dá agora data de cerca de
1440 a.C.
Mufaddal: Referência à tradição xiita.
Mullá ´Abdu´l-Khaliq-i-Yazdí: De início, sacerdote judeu, aceitou islã, afiliou-se à Escola
Shaykhí e foi convertido por Mullá Husayn à Fé Bábí.
Mullá´Alíy-i-Baraqáni: Tio de Táhirih, um dos membros mais eruditos e famosos da
comunidade Shaykhí. Sendo convertido à Fé Bábí, tornou-se, em Teerã, um de seus
mais zelosos e hábeis expositores.
Mullá ´Alíy-i-Bastámí: Uma das Letras do Vivente. Mandado de Shiráz, pelo Báb, em uma
especial missão, em 1844, foi ele o primeiro a sofrer e sacrificar a vida no caminha
desta nova Fé.
Mullá Báqir: Um irmão de Mullá Mihdíy-i-Kandi, martirizado em Tabarsí.
Mullá Husayn: O primeiro a crer no Báb, a primeira Letra do Vivente, o “Bábu´l-Báb” –
significando “a Porta da Porta”, título esse que foi dado pelo Báb. Nascido em 1813,
durante nove anos discípulo de Siyyid Kázim e cinco anos seguidor do Báb. Foi
martirizado na fortaleza de Shaykh Tabarsí, no dia 2 de fevereiro de 1849.
Mullá Mihdíy-i-Khu´í: Companheiro íntimo de Bahá´u´lláh e instrutor das crianças de Sua
casa. Martirizado em Tabarsí.
Mullá Muhammad-´Alíy-i-Zanjání: De sobrenome Hujjat. “Um dos mais hábeis e mais
destemíveis campeões da Fé (Presença de Deus), líder dos bábís naquilo que Lord
Curzon chamou “o terrífico assédio e massacre” que sofreram em Zanján, onde ele,
com 1.800 co-discípulos, foi martirizado.
Mullá Ni´matu´lláh-Mázindaráni: Um bábí martirizado em Shaykh Tabarsí.
Mullá Yúsuf-i-Ardibílí: Uma “Letra do Vivente”, martirizado em Shaykh Tabarsí.
Mustagháth: Literalmente, “Aquele que é invocado”. Refere-se ao aparecimento de
Bahá´u´lláh no tempo anunciado pelo Báb.
Nabucodonosor: Rei da Babilônia. Em 599 a.C., tomou Jerusalém e em 588 a.C. destruiu a
cidade e levou a maior parte dos habitantes para a Caldéia.
Nadr-Ibn-i-Hárith: Um opositor de Maomé.
Nimrod: Em comentários maometanos representado como o perseguidor de Abraão.
Noé: Um profeta a quem maometanos dão o título de “o Profeta de Deus”, V. Gênesis 6:10
e Alcorão, suras 11,71, para uma história de sua vida e do Dilúvio.
Nudbih, Oração de: Uma “Lamentação” do Imame ´Alí.
Paraíso: Um jardim celestial; um estado beatífico. O Manifestante é “o Rouxinol do
Paraíso”; Sua Revelação é “o farfalhar das folhas do Paraíso”; o “amor de Deus” é
em si Paraíso.
Párán: Párán é uma cadeia de montanhas para o norte do Sinai e sul de Seir; todas são
sagradas como lugares de revelação. Teman fica na parte noroeste de Edam, não
longe do Párán. V. Habacuc 3:3. O próprio Moisés usa “Párán” com referência
especial a Maomé, e “Seir”, a Jesus Cristo: “E ele disse: O Senhor veio de Sinai, e
lhes subiu de Seir; resplandeceu desde o Monte Párán, e veio com dez milhares de
santos; de sua direita, saiu para ele o fogo da lei.” (Deut. 33:2) Aqui Moisés prediz a
vinda de três revelações e três profetas depois dele, sendo que o último seria
Bahá´u´lláh. De Ismael (Gênesis 21:21) originaram-se os povos árabes no Párán.
Pedra do Filósofo: Uma substância imaginária que os alquimistas antigamente procuravam
como meio de converter em ouro os metais mais baixos.
Pentateuco: Literalmente, o “volume quíntuplo”, referindo-se aos cinco primeiros livros da
Bíblia.
Pilar Carmesim: Uma alusão à Religião de Bahá´u´lláh, tingida de carmesim com o sangue
dos mártires.
Qá´im: O Prometido do Islã.
Qayyúmu´l-Asmá: Um comentário sobre a sura de José, no Alcorão, escrito pelo Báb, em
1844, e considerado pelos bábís, com efeito, seu Alcorão. (Para um esboço de seu
conteúdo, V. Presença de Deus.)
Qiblih: A direção em que se deve volver a face em oração. O Alcorão, sura 2:136-145,
estabelece Meca como o Qiblih para os muçulmanos.
Querubins: Na Bíblia os Querubins aparecem como distintos dos anjos que são os
mensageiros de Jeová; os Querubins se encontram onde Deus está presente
pessoalmente: por exemplo, “E Ele (Deus) montou em um querubim e voou.”
(Salmos 18:10). Figuras de Querubins eram elaboradas nas tapeçarias do Santo dos
Santos e representadas acima do Assento da Misericórdia em seu interior. Em uma
tradição subseqüente, os Querubins foram incluídos entre as nove ordens de anjos.
Quinta-essência: Imaginária quinta “essência do céu”, além dos quatro elementos da terra;
portanto, a última ou mais elevada essência de qualquer coisa.
Rayy: Uma cidade antiga perto da qual foi construída a cidade de Teerã.
Ridván: Nome do guardião do Paraíso. Bahá´u´lláh emprega o termo para designar o
próprio Paraíso.
Rik´ats: Prostrações.
Rúz-bih: Um persa que abraçou o cristianismo e, ao lhe ser dito que um Profeta estava
prestes a aparecer na Arábia, para aí viajou e, encontrando Maomé em Koba, em
Sua fuga a Medina, reconheceu Sua posição e se tornou muçulmano.
Sádiq: O sexto dos Imames xiitas.
Sadratu´l-Muntahá: Nome de uma árvore plantada pelos árabes, nos tempos antigos, no fim
de uma estrada, para servir de guia. Como símbolo, designa o Manifestante de Deus
em Seu Dia.
Sadrih: Literalmente, Ramo.
Sálih: Antigo Profeta aos árabes, mencionado no Alcorão, sura 7:71-77. Alguns
comentadores identificam-no com o Sálih de Gênesis 11:13.
Salsabíl: Literalmente, fluindo suavemente. Uma fonte do Paraíso.
Súmirí: Um mágico empregado por Faraó como rival a Moisés. Segundo os muçulmanos,
foi ele, e não Aarão, quem fez o bezerro de ouro.
“Selo dos Profetas”: Um dos títulos de Maomé.
Shaykh Ahmad: O primeiro dos dois precursores do Báb, nascido no ano de 1753, fundador
da Escola Shaykhí e autor de 96 livros. Faleceu em 1831.
Sheba: Uma cidade no sul da Arábia, mencionada em Gênesis 10:28; I Kings 10; II
Crônicos 9. Simbolicamente, significa morada, lar.
Shoeb: Sacerdote de Midian (Êxodo 2:16-21). Moisés casou com sua filha; Êxodo 18 dá
seu nome como Jethro.
Sinai: A montanha na qual Deus deu a Lei a Moisés. (Alcorão, sura 7:139 e Êxodo 19).
Sirát: Literalmente, ponte ou apoio: refere-se à religião de Deus.
Siyyid Husayn-i-Turshízí: Um mujtahid, um dos sete mártires do Teerã.
Siyyid Kázim: Principal discípulo de Shaykh Ahmad e seu sucessor. Husayn e outros
eminentes bábís se encontravam entre seus estudantes. Faleceu em 31 de dezembro
de 1843.
Siyyid Yahyá, de sobrenome Vahid: Notável sacerdote, de grande erudição, que se tornou
bábí e foi martirizado após o assédio de Nayríz, no dia 29 de junho de 1850, dez
dias antes da morte do Báb.
Sufi: Membro de uma ordem de místicos maometanos.
Sura: Uma fileira ou curso, como de tijolos em um muro. Termo empregado
exclusivamente para cada um dos capítulos do Alcorão, dos quais há cento e
quatorze.
Tábua: Termo para uma sagrada epístola que contém uma revelação. A Lei foi dada a
Moisés sobre tábuas, como mencionado no Alcorão, sura 7:142: “Escrevemos para
ele (Moisés) sobre tábuas (alwah, plural de Iauh) uma admonição sobre cada
assunto.”
Taff (terra de): A planície de Karbilá, na vizinhança da qual Imame Husayn foi martirizado.
Thamúd: Uma tribo de um povo antigo hamítico, que habitava as fronteiras de Edom e
vivia em cavernas. Foi quase exterminada por Chedorlaomer, o conquistador
elomita. Os sobreviventes fugiram para Monte Seir, onde moravam no tempo de
Isaac e Jacó.
Tradições: O autorizado registro de inspiradas palavras e ações do Profeta, além da
revelação contida no Alcorão.
Urvatu´l-Vuthqá: Literalmente, “o mais forte cabo”, significando a Fé de Deus.
Vontade Primaz: “A primeira coisa a emanar de Deus foi aquela realidade universal ....
denominada .... pelos bahá´ís” “Primeira Vontade”. O Esplendor da Verdade, pág.
173.
Xiita: O problema da sucessão divide o Islã geralmente em duas escolas de opinião.
Segundo um ponto de vista, representado mormente pelos xiitas, a regência é
questão espiritual determinada pelo Profeta e por aqueles que O sucedem. De acordo com o outro ponto de vista, o dos sunitas, a sucessão depende da escolha
popular. O Califa dos sunitas é o exterior e visível Defensor da Fé. O Imame xiita é divinamente ordenado e agraciado com sabedoria e autoridade sobre-humanas.
Shiráz: Capital da Província de Fárs, na Pérsia; o lugar do nascimento do Báb e cena de Sua
Declaração em 1844.
Yahyá: João, o Precursos de Jesus Cristo. Foi decapitado por Herodes.
Yanbú: Uma compilação de tradições xiitas.
Yathrib: O antigo nome da cidade que foi mudado para Medinat un-Nabi, a Cidade do
Profeta, ou, para abreviar, Medina, a cidade por excelência.
Zaqqúm: Uma árvore nas regiões do inferno.
Ziyárat: Epístola de Visitação revelada pelo Imame ´Alí.
ÍNDICE
Abel: sacrifício de, como prova de ser Maomé um Profeta, 93.
Abraão: precursor de, 41, 43; como Amigo de Deus, 11, 41; como Manifestante seguindo
Húd, Noé, Sálih, 11.
Abú-´Abdi´lláh: descreve caráter do Mihdí, 146.
Abu Jahl: condenado a castigo perpétuo, 77.
Aflição (opressão ou pressão): sentido simbólico de, 24.
Alcorão: a todos se exortou que o seguissem até o “ano sessenta”, 123; confirma a Causa de
Jesus, 17; contém guia infalível, 123-124; “fortaleza inexpugnável”, 123; o guia até o Dia da Ressurreição, 125; o testemunho de Deus para Leste e Oeste, 129; um dos “testemunhos gêmeos” de Maomé, 124; Verbo de Deus, 122.
´Alí, Imame. V. Imame ´Alí.
Alif, 124.
Alquimia, 117.
Anjos: sentido simbólico de, 51.
Arba´in: profecias relativas ao Qá´im, encontradas em, 148.
Athím, 117.
´Aválim: profecias relativas ao Qá´im, encontradas em 147, 148.
Báb: aflições dos seguidores do, 144; constância e intrepidez do, 141; enviou Epístolas aos
sacerdotes, 140; firmeza do, 142-143; influência transformadora do, 143; perseguição do, por eclesiásticos e dignitários, 143; precursores do, 43; prediz Seu próprio martírio, 141-142; transcendente poder do, 143.
Bagdá: como “Morada da Paz”, 18, 108.
Bahá´u´lláh: Seu desejo de se sacrificar no caminho do Báb, 153; motivo de Sua retirada a
Kurdistán, 152-153.
Bani-Háshim, 147-148.
Bayán: admoestação ao povo do, 58-59, 151-152; tabernáculo de Deus erguido no, 7; o
Verbo de Deus, 122.
Biháru´l-Anvár: profecias reveladas ao Qá´im encontradas em, 148, 154.
Calúnia: apaga a luz do coração e a vida da alma, 119.
Certeza: cidade da, 121-123.
Céu: sentido simbólico do, 31-33, 41, 43-45, 47.
Clero (expoentes ou dirigentes da religião): desvia o povo, 14-15, 52-53, 102-103, 129;
persegue os Manifestantes, 103. V. também Sacerdotes.
Cobre: mudado em ouro, 98.
Conhecimento: ápice do, 91; Caminho do Positivo, 120; como dádiva divina, 32, 103; duas
espécies de, 32, 45; humano e divino, 91; o mais lastimável dos véus, 45, 115-116; revelado no Alcorão, 92; setenta sentidos do, 155; toque de trombeta do, 120; um só ponto, 103; vinte e sete letras do, 148.
Criação: propósito da, 22.
Cristo. V. Jesus.
David, 35.
Desprendimento, 7, 118-119.
Deus: confiança em, 7, 119; conhecido através dos Manifestantes, 64-65, 67; divisão
causada pela Palavra de, 71-72; essência de, incognoscível, 7, 63-64; nomes e atributos de, evidenciados em todas as coisas, 65-66; poder unificador da Palavra de, 72; presença de, como atingir a, 89-90, 105; prova a fé dos homens, 37-39.
Eclesiásticos. V. Sacerdotes.
Epístola de Fátimih, 149.
Estrela: arauto de um novo Dia, 41-42; significado simbólico de, 26, 27, 28, 43-44.
Evangelho: contém profecia sobre futuro Manifestante, 18, 19, 20, 21; interpretada
erroneamente, 20-21, 130-131; o Verbo de Deus, 122.
Faraó: parente de, acreditou em Moisés, 12; oposição de, a Moisés, 12; advertido do
advento de Moisés, 42.
Fátimih: Epístola de. V. Epístola de Fátimih.
Filho do Homem: explicação da vinda do, 41, 43-44.
Fim que não tem fim, 100, 103, 104.
Fumaça: sentido simbólico de, 49-50.
Gabriel: 34, 55, 70, 75.
Hamzih: 77.
Homem: a maior graça concedida ao, 87; potencialmente revela todos os atributos de Deus,
65.
Húd, 10; Sura de, 8.
Husayn, 80, 104, 136; como mártir e santo, 81-82; Imame Husayn como “Príncipe dos
Mártires”, 138.
Ibn-i-Súríyá, 54-55.
Imame ´Alí, 103: como “Comandante dos Fiéis”, 76, 102; palavras de, sobre céu, inferno,
juízo e ressurreição, 76.
Imrán, 36.
Islã: tribulações nos primeiros dias de, 133-134.
Israel: causa do castigo do, 16,86. V. também Judeus.
Jábir: tradição de, 149.
Jejum, 28-29.
Jesus: Causa e Livro de, confirmados na Era do Alcorão, 17; explicação das profecias de,
22-23, 24-25; fortalecido pelo Espírito Santo, 109; interpretação errada das profecias de, 20-22; interrogado ante Pilatos e Caifás, 84; e Lei do Qiblih, 35; oposição do Israel a, 16; poder e soberania de, 84-85; precursor de, 42-43; prediz Sua volta, 17, 18; riqueza oculta em rebaixamento de, 82-83; sinais que prognosticam volta de, 19-20.
João Batista: como precursor de Jesus, 42-43.
José, 130, 154.
Judeus: sua crença de que a Mão de Deus está acorrentada, 86; oposição dos, a Jesus, 16;
oposição dos, a Maomé, 85-86.
Juízo: Dia do, 71, 73, 74.
Kafí, 149, 150.
Karim, 117.
Karím Khán, 114.
Lám, 124.
Lua: significado simbólico da, 24-25, 26, 27-30.
Magos: sua busca de Jesus, 42.
Manifestantes: constância, dotados de, sendo isso a razão de Sua designação como, 135;
desprezo dos seguidores dos, pelos sacerdotes, 135-136; diferem na intensidade das revelações, 67; dificuldades e perseguições dos, 31-32; duplo grau ou posição dos, 95, 109-110, 112; influência transformadora dos, 97-98; linguagem dupla dos, 155; manifestam os nomes e atributos de Deus, 64-65, 66-67, 89-90, 110; negação dos, 8-9, 12-15, 93, 112, 113, 129-132; poder dos, 31-32; reconhecimento dos, como meio de atingir a Presença de Deus, 89-90, 105; servitude dos, 110, 111; soberania dos, 63; título de “Selo dos Profetas” aplicável a todos os, 111; todos os outros vivem pela operação da Vontade dos, 66-67; unidade dos, 95-96, 109-110.
Maomé: ascensão de, 114-115; Dia da Ressurreição inaugurado por, 75; lealdade das
nações à Fé de, 71; oposição dos cristãos a, 52, 85; oposição dos judeus a, 85-86; perseguição dos seguidores de, 133-134; precursores de, 43; “Selo dos Profetas”, 101, 105; soberania de, 69, 71; sofrimentos de, 69-70; testemunhos gêmeos de, 124; veredicto do Último Dia, pronunciado por, 73.
Maria: tristeza de, com o nascimento de Jesus, 38.
Mihdí (Qá´im): caráter do, 146. V. também Qá´im.
Mím, 124.
Miráj, 114-115.
Moisés: fuga de, a Midian, 37; majestade e poder de, 12; oposição de Faraó a, 12, 37;
parente de Faraó crente em, 12; precursor de, 42-43; profecias sobre advento de, 42; e a Sarça Ardente, 37.
Mullá Husayn: elevado grau de, 136.
Mullás: lista dos, que reconheceram o Báb, 136-137.
Mustagháth, 140; advertência aos homens do Bayán a respeito de, 248.
Nimrod: sonho de, 41.
Noé: aflições de, 9-10; transformado pelo Espírito de Deus, 96-97.
Nudbih: Oração de. V. Oração.
Nuvens: sentido simbólico de, 46-48.
Opressão: sentido simbólico de, 24. V. aflição.
Oração, lei da, como elemento fundamental da Revelação, 28; de Nudbih, 146; simbolizada
como lua da religião, 28-29.
Ouro: cobre transformado em, 98.
Pentateuco: perversão do, 54-56; o Verbo de Deus, 122.
Persas: segundo tradição, trucidariam os seguidores do Qá´im, 150.
Princípio que não tem princípio, 100, 101, 104.
Qá´im: atributos do, 146, 149, 154-155; grau do, excede ao de todos os Profetas, 148-149;
perseguição dos seguidores do, 149-150; revelará as vinte e cinco letras restantes do conhecimento, 148; soberania do, 68-69; surgir do, assinala o Dia da Ressurreição, 90.
Qayyúmu´l-Asmá: prediz o martírio do Báb, 141.
Qiblih: lei do, não alterada pelos Manifestantes, 35; razão por que foi alterada por Maomé,
34-36.
Rayy, 141.
Regresso (Volta): significado simbólico do, 94-95, 99-100, 104.
Ressurreição: Dia da, 33, 90-91; significado simbólico da, 74-75, 90-91, 99, 105.
Revelação: e alcance da Presença Divina, 88, 89-90; poder criador da, 39-41, 88.
Rúz-bih, 43.
Sacerdotes (eclesiásticos): aceitação desta Revelação por, 136; desprezo dos, para
seguidores do Manifestante, 135-136; envolvidos por véus de erudição, 131; Epístolas do Báb endereçadas aos, 140; interpretação errada do Evangelho por (pelos sacerdotes cristãos), 20-21; interpretam os livros sagrados de acordo com seus próprios desejos e sua compreensão limitada, 52-54; poucos, podem prestar lealdade ao Manifestante, 140; profecia de Sádiq sobre perversidade dos, 151; rejeição de Maomé por (pelos sacerdotes cristãos), 52; como “véus da glória”, 102. V. Clero.
Sádiq, 51, 155; fala da riqueza verdadeira, 83; prediz perversidade dos sacerdotes, 151;
prediz o “ano sessenta”, 154.
Sálih: como Manifestante após Noé, 11.
Salmán, 43, 104.
Samiri, 117.
Selo dos Profetas: aplicável a todos os Manifestantes, 111; aplicável a Maomé, 101, 105;
como véu para os muçulmanos, 131.
Símbolos: propósito dos, 34.
Siyyid Yahyá, 136.
Sol: significado simbólico do, 24-25, 26-31, 43-44.
Terra: significado simbólico da, 32-33.
Trombeta, significado simbólico de, 74.
Unidade: concedida pela Palavra de Deus, 72, 123; propósito essencial da criação, 22.
Urvatu´l-Vuthqá, 126.
Véus da Glória: significado simbólico de, 102, 103.
Vida: a verdadeira, 73, 76-77.
Volta. V. Regresso.
Yanbú, 148.
Zaqqúm: árvore de, 117.
Zawrá, 150.
Ziyárat, 146.
(1) Alcorão 36:30.
(2) Alcorão 40:5.
(3) Alcorão 11:38.
(4) Alcorão 71:26.
(5) Alcorão 29:2.
(5-a) Alcorão 35:39.
(6) Alcorão 11:61. 62.
(7) Abraão.
(8) Alcorão 40:28.
(9) Alcorão 2:87.
(10) Alcorão 3:70.
(11) Alcorão 3:71.
(12) Alcorão 3:99.
(12a) Alcorão 3:7.
(13) Alcorão 76:9.
(14) Alcorão 5:117.
(15) Alcorão 14:24.
(16) A palavra grega usada (thlipsis) tem dois significados: pressão e opressão.
(17) S. Matheus 24:29-31.
(18) A passagem é citada por Bahá´u´lláh em árabe e interpretada em persa.
(19) S.Lucas 21:33.
(20) Literalmente, “the strongest handle” (o mais forte cabo), simbolizando a Fé Divina.
(21) “Lamentação” escrita pela Imame Ali.
(22) Alcorão 55:5.
(23) Alcorão 67:2.
(24) Alcorão 76:5.
(25) Alcorão 6:91.
(26) Alcorão 41:30.
(27) Alcorão 70:40.
(28) Alcorão 82:1.
(29) Alcorão 14:48.
(30) Alcorão 39:67.
(31) A direção em que se deve voltar o rosto ao orar.
(32) Meca.
(33) Medina.
(34) Alcorão 2:144.
(35) Prostrações.
(36) Em Meca.
(37) Alcorão 2:149.
(38) Alcorão 2:115.
(39) Alcorão 2:143.
(40) Alcorão 74:50.
(41) Alcorão 28:20.
(42) Alcorão 26:19.
(43) Alcorão 19:22.
(44) Alcorão 19:28.
(45) S. Matheus 2:2.
(46) Alcorão 3:39.
(47) S. Matheus 3:1-2.
(48) Shaykh Ahmad-i-Ahsá´í e Siyyid Kázim-I-Rashtí.
(49) Alcorão 55:29.
(50) Alcorão 51:22.
(51) Alcorão 55:56.
(52) Alcorão 2:87.
(53) Alcorão 25:25.
(54) Alcorão 25:7.
(55) Alcorão 2:210.
(56) Alcorão 44:10.
(57) Alcorão 3:119.
(58) O sexto Imame dos shí´ahs.
(59) Alcorão 25:7.
(60) Alcorão 4:45.
(61) Alcorão 2:75.
(62) Alcorão 2:79.
(63) Alcorão 24:35.
(64) Alcorão 9:33.
(65) Alcorão 29:51.
(66) Alcorão 2:176.
(1) Alcorão 6:103.
(2) Alcorão 3:28.
(3) Alcorão 41:53.
(4) Alcorão 51:21.
(5) Alcorão 59:19.
(6) Alcorão 2:253.
(7) Alcorão 7:145.
(8) Alcorão 6:35.
(9) Isaías 65:25.
(10) Alcorão 7:178.
(11) Alcorão 11:7.
(12) Alcorão 13:5.
(13) Alcorão 50:15.
(14) Alcorão 50:20.
(15) Alcorão 17:51.
(16) S. João 3:7.
(16-A) S. João 3:56.
(16-B) Alcorão 7:178.
(16-C) S. Lucas 9:60.
(17) Título do tio de Maomé.
(17-A) Alcorão 6:122.
(17-B) Alcorão 37:173.
(17-C) Alcorão 9:33.
(17-D) Alcorão 11:18.
(18) Alcorão 35:15.
(18-A) S. Marcos 2:3-12. (S. Lucas 5:20-24).
(19) Alcorão 6:91.
(20) Alcorão 15:72.
(21) Alcorão 5:67.
(22) Alcorão 48:10.
(23) Alcorão 29:23.
(24) Alcorão 2:46.
(25) Alcorão: 2:249.
(26) Alcorão 18:111.
(27) Alcorão 13:2.
(28) Alcorão 17:44.
(29) Alcorão 78:29.
(30) Alcorão 57:3.
(31) Alcorão 2:210.
(32) Alcorão 28:5.
(33) Alcorão 13:41.
(34) Alcorão 3:183.
(35) Alcorão 3:182.
(36) Alcorão 2:89.
(37) Alcorão 2:285.
(37-A) Alcorão 54:50.
(38) Alcorão 43:22.
(39) O Báb.
(40) Alcorão 2:19.
(40-A) Alcorão 36:20.
(41) Imáme´Alí.
(42) Alcorão 2:85.
(43) Alcorão 33:40.
(44) Alcorão 6:103.
(45) Alcorão 16:61.
(46) Alcorão 21:23.
(47) Alcorão 55:39.
(47-A) Alcorão 55:41.
(48) Bagdád.
(49) Alcorão 10:25.
(50) Alcorão 6:127.
(51) Alcorão 2:136.
(52) Alcorão 2:253.
(53) Alcorão 8:17.
(54) Alcorão 48:10.
(55) Alcorão 33:40.
(56) Alcorão 2:189.
(57) Alcorão 17:85.
(58) Hájí Mírzá Karím Khan.
(59) Guia para os ignorantes.
(60) Ascensão.
(61) Árvore infernal.
(62) Pecador. Alcorão 44:43-44.
(63) Honrado – Alcorão 44:49.
(64) Alcorão 6:59.
(65) Um mágico contemporâneo de Moisés.
(66) Alcorão 7:57.
(67) Alcorão 16:43.
(67-A) Alcorão 29:69.
(68) O ano 1260 A.H. (Lat.: Anno Hegirae) ano da Declaração do Báb.
(69) Alcorão 2:1.
(70) Alcorão 2:23.
(71) Alcorão 45:5.
(72) Alcorão 45:6.
(73) Alcorão 45:8.
(74) Alcorão 26:187.
(75) Alcorão 8:32.
(76) Alcorão 45:24.
(77) Alcorão 29:23.
(78) Alcorão 37:36.
(79) Alcorão 40:34.
(80) Alcorão 3:7.
(81) Alcorão 45:22.
(82) Alcorão 38:67.
(83) Alcorão 34:43.
(84) Alcorão 5:62.
(85) Alcorão 2:148.
(86) Alcorão 2:148.
(87) Alcorão 11:27.
(88) Imáme Husayn.
(89) Alcorão 26:227.
(90) Alcorão 2:94.
(91) Alcorão 34:13.
(92) Alcorão 59:2.
(93) Aquele invocado.
(94) Alcorão 11:113.
(95) Alcorão 54:6.
(96) Epístola de Visitação revelada por ´Alí.
(97) Alcorão 25:44.
(98) Cidade antiga nas proximidades de Teerã.
(99) Alcorão 43:36.
(100) Alcorão 20:124.
(101) B e H significam Bahá.